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CMN publica resoluções de auxílio a produtores rurais
O Diário Oficial da União traz hoje (3) resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) com medidas para ajudar produtores rurais prejudicados pelo ciclone bomba que atingiu o Sul do país e pela pandemia de covid-19.
Uma das resoluções do CMN, divulgadas na semana passada, é voltada a agricultores familiares prejudicados pelo ciclone que atingiu a Região Sul no fim de junho. Eles terão os juros do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) reduzidos. O conselho autorizou que esses produtores acessem as linhas de crédito com juros de 2,75% ao ano, as taxas mais baixas cobradas no programa.
A taxa será aplicada a todas as atividades financiadas pelo Pronaf para os agricultores familiares que vivam na região afetada pelo Ciclone Bomba.
Novos limites
O CMN elevou os limites que agricultores familiares, empreendedores rurais familiares e cooperativas de agricultores familiares podem pegar emprestados no Pronaf para industrializarem a produção. Aplicada excepcionalmente para o ano safra 2020-2021, a elevação do limite de crédito do Pronaf valerá para todo o país, não apenas para as regiões afetadas pelo ciclone.
O teto subiu de R$ 45 mil para R$ 60 mil para pessoas físicas, de R$ 210 mil para R$ 300 mil para os pequenos produtores rurais registrados como pessoa jurídica e de R$ 15 milhões para R$ 20 milhões para as cooperativas familiares.
Prorrogação
Para ajudar os produtores prejudicados pela pandemia do novo coronavírus, o CMN prorrogou as parcelas do crédito rural para as cooperativas. O vencimento das parcelas do crédito rural de custeio e de investimentos para produtores rurais, que havia sido estendido para 15 de agosto, foi transferido para 15 de dezembro.
A medida beneficia todos os produtores rurais que comprovem terem sido afetados pelas medidas de distanciamento social, inclusive agricultores familiares. Segundo o Ministério da Economia, a nova prorrogação justifica-se porque, decorridos mais de três meses, a crise econômica provocada pela pandemia continua a impactar todos os setores da economia nacional, inclusive o agropecuário.
O CMN ampliou o número de produtores que podem pedir a renegociação do crédito rural por terem sido afetados pela seca na Região Sul e pelas chuvas nas Regiões Sudeste e Nordeste no início do ano. Anteriormente, o município em que ficam as terras do produtor precisaria ter decretado situação de emergência ou de estado de calamidade pública de 1º de janeiro a 9 de abril. O intervalo foi estendido de 20 de dezembro de 2019 a 30 de junho deste ano.
Foto: Agência Brasil
Dez mil botijões de gás serão doados a comunidades carentes
A Petrobras e a sua subsidiária Liquigás dsoarão 10 mil cargas para botijões de gás de cozinha (GLP) de 13 kg para comunidades em situação vulnerável que foram atingidas pela pandemia do novo coronavírus (covid-19). As doações serão feitas a comunidades de todo o país.
A entrega dos botijões será feita em parceria com a rede de revendas da Liquigás. De acordo com o diretor de Relacionamento Institucional da Petrobras, Roberto Ardenghy, o objetivo é ajudar famílias que estão enfrentando dificuldades durante a pandemia.
A companhia informou, ainda, que já destinou mais de R$ 30 milhões em doações para contribuir com o enfrentamento da covid-19. Além do gás de botijão, ela está doando combustível para ambulâncias, veículos de transportes de médicos e geradores de hospitais públicos e filantrópicos. A previsão é doar até 3 milhões de litros de combustível.
Foto: agência Brasil
O que muda com as novas metas de sustentabilidade para remuneração na Vale
A mineradora traçou objetivos ambiciosos para reconquistar a confiança dos investidores, mas o horizonte ainda se mostra desafiador
A Vale criou recentemente novas metas de sustentabilidade e governança para balizar a remuneração de seus executivos, em mais um movimento para reconquistar a confiança dos investidores – que por sua vez estão aumentando as cobranças neste sentido. Embora a mineradora venha apresentando resultados robustos, mesmo em tempos de pandemia do novo coronavírus, o ambiente continua desafiador para seus planos de longo prazo.
Na terça-feira, 12, o fundo soberano da Noruega anunciou a exclusão da Vale de seus investimentos “após uma avaliação do risco de contribuição para danos ambientais graves”, resultado de “repetidas violações de barragens”.
Para especialistas, o anúncio do banco central norueguês é apenas reflexo de um movimento que vem crescendo e veio para ficar: a cobrança por melhores práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) das empresas.
“Quando um sistema de metas de ESG é criado, com previsão de prêmio ou punição, a chance é maior de enraizar essa nova cultura”, afirma Luiz Marcatti, presidente da Mesa Corporate Governance, consultoria especializada em governança corporativa.
Ele pondera, entretanto, que não só a mineradora precisará cumprir as suas metas, mas o investidor terá que cobrá-las. “Todas as empresas que adotarem essa postura terão uma enorme lupa sobre elas.”
De acordo com a Vale, 12% da remuneração total dos executivos agora está vinculada a métricas de ESG. Os compromissos para 2030 também foram revisados, com metas mais “ambiciosas”, conforme informou a companhia.
Entre elas, estão carbono neutro até 2050 – alinhado ao acordo de Paris – e 100% de autoprodução de energia limpa globalmente.
Com metas claras, os investidores tendem a cobrar a empresa para entregar uma operação mais sustentável do ponto de vista ambiental e de governança. Também poderão exigir que a companhia faça tudo que estiver ao seu alcance para evitar novos desastres como os de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, sob pena de redução drástica de gratificações. Isso significa, é claro, muito menos lucro.
“O mercado está entendendo que não adianta só lucrar e não ser sustentável”, afirma Pedro de Marco, analista especializado em commodities da gestora Reach Capital. Segundo ele, os investidores estão cobrando muito mais a adoção de práticas de ESG, porém, este ainda não é um consenso, especialmente na indústria extrativa.
“Na mineração, adotar metas claras de ESG é um caminho inovador, a Vale está subindo a barra em seu setor”, diz. O analista lembra que suas principais concorrentes – Rio Tinto, BHP e Fortescue – não definiram claramente números e metas na área, o que coloca a mineradora brasileira em destaque nas práticas de ESG.
O analista pondera, entretanto, que a gestão precisa concentrar esforços para entregar essas metas. Marcatti corrobora. “Depois de Brumadinho, ficou claro que as mudanças propostas pela Vale para evitar desastres como o de Mariana eram cosméticas. Quando a companhia crava metas de remuneração, trata-se de uma mensagem forte ao mercado de que ela quer mudar, só precisa cumprir.”
Desconto
Embora a Vale deva continuar enfrentando diversos obstáculos para reconquistar a plena confiança do mercado, analistas avaliam que as ações da mineradora continuam baratas.
A mineração está amplamente ligada ao desempenho da economia global, especialmente da China, que representa metade da demanda do setor e da Vale. Com a retomada gradual da economia chinesa, os preços do minério de ferro têm subido nas últimas semanas e superaram a casa dos 90 dólares por tonelada nesta quarta-feira, 13. Uma ótima notícia para a companhia.
Neste cenário, as ações da mineradora brasileira fecharam em alta nesta quarta, mas ainda longe do valor de antes do desastre de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019.
Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos, observa que depois da pandemia do coronavírus as empresas estão buscando liquidez. “A situação da Vale está muito confortável, principalmente em relação ao caixa, uma vez que a empresa acabou não pagando dividendos depois de Brumadinho.”
Apesar das cifras expressivas envolvendo desembolsos e provisões para passivos do desastre, o caixa da companhia, hoje, lhe compete vantagem, avalia Cantreva. “As ações da companhia estão baratas, mas esse ajuste só deve acontecer quando tivermos uma visibilidade melhor da economia global.”
Para ele, as iniciativas de ESG da mineradora serão importantes principalmente porque este movimento só deve crescer no mundo e, quanto mais a Vale demorar para se adaptar a esses novos padrões, mais tempo a ação vai ficar descontada. “O número de investidores que cobram metas de ESG só aumenta e a Vale precisa começar a tomar atitudes a partir de agora.”
Fonte: Exame
Cientistas descobrem anticorpo que bloqueia infecção por Sars-CoV-2
Anticorpos testados em culturas de células conseguiram combater a proliferação do novo coronavírus, causador da Covid-19. Mas testes em humanos ainda são necessários
Pesquisadores da Universidade de Utrecht, do Erasmus Medical Center e do Harbor BioMed identificaram um anticorpo totalmente humano que impede o novo coronavírus Sars-CoV-2 de infectar células em culturas cultivadas. A descoberta foi publicada na Nature Communications nesta segunda-feira (4) e pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos para a Covid-19.
Segundo os pesquisadores, o estudo focou em anticorpos conhecidos por combaterem o Sars-CoV, causador da Sars, que surgiu na China em 2002. Eles identificaram que um desses anticorpos também é capaz de neutralizar a infecção por Sars-CoV-2, causador da Covid-19, em culturas celulares.
“Esse anticorpo neutralizante tem potencial para alterar o curso da infecção no hospedeiro infectado, apoiar a eliminação do vírus ou proteger um indivíduo não infectado que é exposto ao vírus”, afirmou Berend-Jan Bosch, líder da pesquisa, em comunicado.
Bosch observou que o anticorpo se liga a uma propriedade existente tanto no Sars-CoV quanto no Sars-CoV-2, o que explica sua capacidade de neutralizar os dois microrganismos. “Esse recurso de neutralização cruzada do anticorpo é muito interessante e sugere que ele pode ter potencial na mitigação de doenças causadas por coronavírus — potencialmente emergentes no futuro”, disse Bosch.
A equipe ressalta que muito trabalho ainda é necessário para avaliar se esse anticorpo pode proteger ou reduzir a gravidade da Covid-19 em humanos. Ainda assim, os pesquisadores esperam desenvolver o anticorpo e, se possível, viabilizar um tratamento para a infecção causada pelo novo coronavírus. “Acreditamos que nossa tecnologia pode contribuir para atender a essa necessidade de saúde pública mais urgente e estamos buscando várias outras vias de pesquisa”, comentou Jingsong Wang, um dos especialistas.
Fonte: Galileu
Pandemia vai permitir aceleração do desmatamento na Amazônia, prevê consultoria
Perspectivas para Amazônia não eram boas antes da pandemia e, agora, são ainda piores
A pandemia do novo coronavírus deve levar a uma aceleração do ritmo de desmatamento da Amazônia no Brasil, prevê a consultoria Eurasia.
As perspectivas para a floresta já não eram boas no início deste ano, afirma a empresa em um relatório divulgado neste domingo (26/4).
Os alertas de desmatamento emitidos pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aumentaram 51% em relação ao ano anterior. Foi o nível mais alto neste período desde o início da série, em 2016, aponta o documento.
A consultoria destaca ainda que o número de alertas nesta época do ano é “geralmente muito baixo por causa de chuvas torrenciais” na região.
Na temporada 2018/2019, foram derrubados quase 10 mil km² quadrados da Amazônia, a taxa mais alta desde 2008, de acordo com o Inpe.
Com a pandemia, aumentam as chances de que a marca venha a ser superada na temporada atual, diz a Eurasia, que aponta quatro razões principais para isso.
Menos pressão internacional
A Eurasia aponta que não apenas outros países, mas também empresas e instituições internacionais estão entre os principais agentes que atuam em prol da proteção ambiental da Amazônia durante o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
A consultoria recorda que o presidente brasileiro demorou a tomar medidas para combater os incêndios na floresta no ano passado. Mas, quando isso ganhou destaque na mídia ao redor do mundo e levou atores internacionais a pressionarem seu governo, “ele finalmente enviou tropas para combater os incêndios na Amazônia e elevou o tom contra o ‘desmatamento ilegal'”.
“Em janeiro, o governo criou o Conselho Amazônico, presidido pelo vice-presidente Hamilton Mourão, para coordenar iniciativas federais e locais para combater atividades ilegais e fortalecer a economia na região amazônica. O presidente também lançou a Força Ambiental Nacional para aumentar as operações de segurança”, destaca a Eurasia.
Mas essa mesma pressão tende a perder força enquanto o mundo estiver concentrado em combater a propagação do novo coronavírus.
“É muito difícil ver a conservação da floresta se tornando uma questão global importante durante a pandemia. Com o coronavírus na cabeça de todos, o preço de reputação internacional de curto prazo que o Brasil pagará por não conter o desmatamento diminuirá.”
Menos recursos do Exército disponíveis
A consultoria ressalta que, além de manter tropas na região por dois meses em 2019, autoridades brasileiras debatiam uma intervenção mais longa neste ano, a partir de março.
Mas isso ficou em segundo plano diante da pandemia, descrita pela comandante do Exército, Edson Pujol, como “talvez a missão mais importante da nossa geração”.
“Recursos orçamentários e atenção que poderiam ser dedicados à Amazônia serão utilizados no combate à covid-19. Bolsonaro, por exemplo, pediu ao Exército que use suas instalações e pessoal para produzir desinfetantes para as mãos e cápsulas de hidroxicloroquina — apesar de sua eficácia não ter sido comprovada”, destaca o relatório.
Por um lado, a queda da atividade econômica em meio à recessão pode reduzir a demanda por novas terras, que são obtidas por meio da derrubada da floresta.
Mas a crise também pode levar muitas pessoas à pobreza, o que aumentaria a propensão de que elas se envolvam em atividades ilegais para obter alguma renda.
Por isso, a empresa afirma: “Este será um fator-chave para determinar se as taxas de desmatamento terão um aumento contínuo de 2021 em diante”.
Será mais difícil implementar a estratégia de Bolsonaro para a região Amazônica
O presidente brasileiro adotou uma estratégia diferente de seus antecessores para proteger a floresta e conter o desmatamento.
Bolsonaro diz que é mais eficiente estimular atividades econômicas legais que explorem os recursos naturais da Amazônia e dar incentivos para compensar os empresários locais pela preservação ambiental promovida por eles do que aplicar multas ou realizar operações policiais.
“Esses esforços já levariam muito tempo para gerar dividendos. Mas se tornarão particularmente mais difíceis de implementar em meio a uma crise econômica global, com um nível mais alto de volatilidade e incerteza”, afirma a Eurasia.
“Isso no mínimo retardará as ações do Brasil para criar uma estrutura mais sólida para desenvolver a economia da Amazônia.”
Fonte: Época Negócios
Coronavírus: pesquisa aponta redução nas taxas de poluição durante pandemia
Pesquisadores do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) analisaram os reflexos globais da redução nas taxas de poluição durante a pandemia do novo coronavírus, causador da Covid-19. A análise da professora Adriana Wilken, do Departamento de Ciência e Tecnologia Ambiental (DCTA) da instituição, explica o fenômeno com efeitos positivos à saúde e ao meio ambiente em todo o mundo em período de isolamento social.
“Menos combustíveis fósseis estão sendo queimados nos fornos das indústrias e nos tanques de combustão dos veículos, daí a redução dos poluentes gerados nesses processos emitidos para a atmosfera”, introduziu a pesquisadora.
O estudo do Cefet é amparado pela pesquisa recente de Marshall Burke, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. O cientista analisou a relação entre o ar mais limpo e a redução de mortes prematuras na China durante a fase mais crítica do coronavírus. De acordo com o estudo, cerca de 50 mil vidas podem ter sido salvas com a paralisação de fábricas e diminuição drástica do trânsito no país asiático.
Adriana Wilken aponta que diversas substâncias são responsáveis pelo agravamento de problemas de saúde e de danos ambientais. “As indústrias caracterizam-se, predominantemente, como emissoras de material particulado, monóxido de carbono (CO) e dióxido de enxofre (SO2). Os veículos automotores, principalmente os movidos à gasolina, emitem o dióxido de nitrogênio (NO2), o monóxido de carbono (CO) e os hidrocarbonetos (HC). Esses poluentes, de uma forma geral, podem causar doenças em pessoas expostas a eles, principalmente doenças respiratórias. Dependendo do tempo de exposição e condições meteorológicas desfavoráveis, podem até mesmo causar mortes”, explicou.
A emissão do dióxido de carbono (CO2), resultado de qualquer processo de combustão, agrava o efeito estufa, aumentando a temperatura da terra. Consequentemente, surgem problemas como aumento do nível do mar, desertificação de áreas férteis e migração de espécies. No pico da pandemia na China, entre o final de janeiro e meados de fevereiro, a emissão desse poluente caiu 25% em comparação ao mesmo período de 2019. Os dados são do Centro de Pesquisa sobre Energia e Limpeza do Ar, da Finlândia.
No planeta, ocorrem, anualmente, 4,2 milhões de mortes prematuras atribuídas à poluição ambiental, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). As principais causas dos óbitos são por doenças cerebrovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica, infecção respiratória, além de câncer de pulmão, traqueia e brônquios. No Brasil, em 2018, os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações relacionadas a esses problemas superou R$ 1,3 bilhão.
Medidas alternativas
O professor Arnaldo Freitas, do DCTA do Cefet-MG, acredita que não era necessária uma crise para reduzir a poluição mundial. ”Alternativas já poderiam ter sido utilizadas. O uso de tecnologias sustentáveis empregadas no sistema modal, na matriz energética, na reciclagem de materiais, na gestão adequada de resíduos, no projeto de motores automotivos mais eficientes, na gestão pública voltada ao desenvolvimento sustentável, no planejamento ambiental de cidades, na elaboração de políticas públicas voltadas para a gestão socioeconômica e ambiental, pela adoção de instrumentos e incentivos econômicos de mecanismos ambientais, entre outros”, exemplificou.
“O risco é a qualidade do ar ter uma súbita piora, pois os investimentos para voltar às atividades de uma forma geral, que baseiam-se na queima de petróleo e derivados, aumentariam fortemente a emissão de todos os poluentes citados, incluindo aqueles agravadores do efeito estufa, com consequências globais”, acrescentou Wilken.
Fonte: Diário de Pernambuco
Transmissão comunitária: Genoma mostra que o novo coronavírus adquiriu características singulares no Brasil
Trabalho de mapeamento é chamado de vigilância genética viral e é fundamental para saber como e o quanto a Covid-19 se espalha no país
Em tempo recorde, cientistas sequenciaram o genoma do novo coronavírus em pacientes das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil.
O trabalho mostra que o vírus Sars-CoV-2 já se propagou no país a ponto de apresentar características que o distinguem dos coronavírus introduzidos. É a comprovação genética da transmissão comunitária, e veio acompanhada de um apelo dos pesquisadores sobre a necessidade do isolamento social para conter o avanço da pandemia no país.
Esse tipo de trabalho se chama vigilância genética viral e é fundamental para saber como e o quanto a Covid-19 se espalha no Brasil.
O desdobramento do trabalho será procurar por mutações que possam ser associadas à gravidade e à facilidade de transmissão. Foram feitos os genomas completos dos vírus de 19 pacientes internados em hospitais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo. Só dois desses 19 vírus têm origem asiática. Os demais são todos de origem europeia.
Uma das autoras do trabalho, Ana Tereza Vasconcelos, diz que há entre eles um “cluster” — um agregado de marcas no genoma que indicam que o vírus introduzido sofreu alterações após chegar ao Brasil. Isso só acontece quando o patógeno está há tempo e em quantidade suficientes para que essas alterações possam ocorrer e ser percebidas.
— Ele está realmente entre nós —afirma Vasconcelos, que é coordenadora do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis.
O Sars-CoV-2 é um vírus de RNA. Seu material genético é muito simples e altamente sujeito a alterações ou mutações. Passar por mutações em pouquíssimo tempo é inerente ao vírus e é por isso que estudá-las permite identificar sua origem, sua “árvore genealógica”, e também detectar mutações perigosas. É um trabalho com importância na prevenção, na contenção e, no futuro, no desenvolvimento de testes, vacinas e terapias.
O sequenciamento é resultado de uma força-tarefa que passou 48 horas trabalhando sem interrupção no fim de semana. Além do LNCC, o grupo reúne cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apoiados pelas fundações de amparo a pesquisa dos seus estados (Faperj e Fapemig) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações (MCTIC).
A iniciativa contou com a parceria de pesquisadores do grupo de Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (CADDE/USP), e da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Eles são do mesmo grupo que sequenciou, também em tempo recorde, o genoma do vírus que infectou o primeiro paciente no Brasil.
O novo sequenciamento só foi possível em tão pouco tempo porque teve ainda o trabalho voluntário de alunos de pós-graduação de laboratórios que sofreram cortes recentes de bolsas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério da Educação.
Supercomputador
As amostras foram coletadas de pacientes atendidos pela UFRJ e também de alguns que tiveram exames feitos pelos laboratórios Hermes Pardini e Símile, ambos de Belo Horizonte. O trabalho de sequenciamento foi realizado no LNCC, que tem um dos mais poderosos supercomputadores do Brasil, o Santos Dumont.
— Nosso trabalho reforça a importância do isolamento social e da testagem para conter a transmissão da Covid-19 no Brasil. São as armas que temos agora. Não teremos vacina ou remédios prontos a tempo de salvar as vítimas dessa pandemia — salienta um dos coordenadores do estudo, Renato Santana, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG.
O grupo continuará a sequenciar e analisar genomas de coronavírus de pacientes de todo o Brasil e pretende aumentar a rede de colaborações, explica Santana. O sequenciamento será feito inicialmente no LNCC, que também funcionará como um banco de amostras genéticas de Covid-19.
O trabalho será constante. A análise genética mostra que ainda há vírus entrando, observam os cientistas.
— Vamos acompanhar a dispersão da Covid-19 e usar inteligência artificial para identificar padrões que possam estar ligados a mudanças importantes, que aumentem a agressividade dele, por exemplo — explica Vasconcelos.
Os cientistas começarão também a analisar amostras de Sars-CoV-2 extraídas do sangue de pacientes em estado grave. Vão investigar se há no material genético desses vírus algum indicador que possa ser associado à severidade da doença. Até hoje, nenhum trabalho revelou que o novo coronavírus sofreu alguma mutação que o tornasse mais letal.
Fonte: O Globo