‘Preço de banana’? Clima mais quente deve deixar fruta mais cara
A banana deve ficar mais cara à medida que as mudanças climáticas afetam a oferta desta fruta tão apreciada, disse um dos maiores especialistas mundiais do setor à BBC News.
Pascal Liu, economista sênior da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), afirma que os impactos climáticos representam uma “enorme ameaça” ao abastecimento, agravando o impacto de doenças que se espalham rapidamente pelas plantações.
O Fórum Mundial da Banana (WBF, na sigla em inglês), que acontece nesta terça-feira (12/3) em Roma, na Itália, está discutindo esses desafios.
Alguns mercados do Reino Unido sofreram recentemente com a escassez de banana devido a tempestades marítimas.
Saborosa e nutritiva, a banana é a fruta mais exportada do mundo.
Infecção por fungo
Só o Reino Unido importa cerca de 5 bilhões de bananas todos os anos, sendo cerca de 90% vendidas por meio das grandes redes de supermercados.
Na semana passada, os britânicos testemunharam a escassez de banana em vários supermercados do país, que os varejistas disseram ter sido causada por tempestades em alto mar, que atrasaram o abastecimento.
Mas a maioria dos consumidores não deve ter notado, de acordo com Dan Bebber, professor da Universidade de Exeter, no Reino Unido, que estuda as iniciativas para tornar as bananas mais sustentáveis.
“A cadeia de abastecimento flutua, mas o Reino Unido é, na verdade, muito bom em amortecer esses tipos de efeitos”, disse ele à BBC News.
“Principalmente porque os centros de amadurecimento podem acelerar ou desacelerar o ritmo de amadurecimento das bananas quando elas chegam, o que ajuda a amortecer esse tipo de flutuação.”
Mas embora os suprimentos de bananas possam fazer face a fenômenos meteorológicos de curto prazo como este, os especialistas estão preocupados com as ameaças crescentes de um mundo em aquecimento — e com as doenças que estão se espalhando a reboque.
“Acho que as mudanças climáticas são realmente uma enorme ameaça para o setor da banana”, afirma Liu, do Fórum Mundial da Banana, um grupo da ONU que reúne representantes da indústria, incluindo varejistas, países produtores, exportadores e instituições de pesquisa.
Além do grave impacto climático na produção, as bananas são sensíveis aos aumentos de temperatura que podem destruir plantações em alguns lugares.
Talvez a maior ameaça imediata seja o fato de o aumento das temperaturas estar ajudando a espalhar doenças.
A doença que causa mais preocupação é a Fusarium Wilt TR4, uma infecção fúngica que saiu da Austrália e da Ásia para a África — e agora foi parar na América do Sul.
Uma vez que uma plantação é infectada, a infecção mata todas as bananeiras — e os especialistas dizem que é extremamente difícil eliminá-la.
O fungo também sofreu uma mutação que ameaça a Cavendish, a variedade de banana preferida a nível mundial.
“Sabemos que os esporos desta Fusarium Wilt são extremamente resistentes, e podem se espalhar por meio de inundações, podem se espalhar por meio de ventos fortes”, explica Liu.
“Então, esse tipo de fenômeno vai disseminar a doença muito mais rápido do que se houvesse padrões climáticos mais normais.”
Os produtores também enfrentam pressões decorrentes do aumento dos custos dos fertilizantes, da energia e dos transportes, assim como dificuldade de encontrar trabalhadores suficientes.
Aliados aos impactos das mudanças climáticas no abastecimento, os preços da banana no Reino Unido e em outros lugares devem subir —e permanecer em alta.
“De fato, haverá alguns aumentos de preços”, diz Liu.
“Se não houver um grande aumento na oferta, minha previsão é de que os preços da banana vão permanecer relativamente altos nos próximos anos.”
Entre os assuntos que a indústria da banana vai discutir durante o encontro em Roma, está a questão da sustentabilidade.
Os consumidores buscam cada vez mais comprar bananas e outras commodities agrícolas produzidas de forma sustentável.
Para os produtores de banana, isto significa não só tornar seus meios de produção mais “verdes”, como também contratar examinadores independentes para certificar que os seus frutos são sustentáveis.
“Estas regulamentações são uma coisa boa, de certa forma, porque ajudam os produtores a aproveitar a oportunidade de tornar seus sistemas de produção mais sustentáveis”, avalia Liu.
“Mas, é claro, também acarretam custos para os produtores porque exigem mais sistemas de controle e monitoramento por parte dos produtores e dos comerciantes. E esses custos têm que chegar aos consumidores finais.”