Museu de História Natural de Nova York desiste de sediar premiação de Bolsonaro
O Globo
15/04/2019 – 17:46
O Museu Americano de História Natural anunciou nesta segunda-feira que desistiu de sediar a homenagem ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que receberá o título de Personalidade do Ano da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos no próximo dia 14 de maio. De acordo com mensagem divulgada pelo museu em uma rede social, a decisão foi tomada em conjunto, e a cerimônia será realizada em outro lugar, ainda não divulgado.
“Com respeito mútuo pelo trabalho e metas de cada uma de nossas organizações, concordamos em conjunto que o museu não é a melhor localização para o jantar de gala da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Este evento tradicional vai ocorrer em outro local, na data e na hora originais”, informou o museu, sediado em Nova York, no Twitter.
A decisão foi anunciada após uma série de protestos de membros da instituição científica por considerarem o presidente brasileiro um “inimigo” da preservação ambiental. Em uma carta aberta à presidente do museu, Ellen Futter, estudantes, doutorandos, funcionários e pesquisadores da instituição pediram na semana passada o cancelamento da homenagem a Bolsonaro, a quem chamaram de “presidente fascista do Brasil”, afirmando que o evento seria “uma mancha na reputação do museu”. O texto foi acompanhado por um abaixo-assinado que no sábado já contava com mais de 500 assinaturas.
Após ficar claro que a comunidade ligada ao museu não gostaria de receber o evento que homenageará Bolsonaro, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos não tratou do tema publicamente, mas iniciou uma verdadeira corrida para arranjar um outro local em Nova York — que não poderia ser público, depois que o prefeito da cidade, Bill de Blasio classificou Bolsonaro de “uma ameaça”.
Nesta segunda-feira, integrantes da câmara se reuniram com representantes do museu e tomaram a decisão conjunta. Em mensagem em uma rede social, a Amcham disse que já consegiu um novo local que, segundo fontes próximas à câmara, “manterá o prestígio que o jantar de gala exige” e vai atender bem à imagem do presidente. O local deverá ser anunciado nas próximas horas e, provavelmente, será um hotel de luxo. se isso for confirmado, o evento volta às suas origens, quando ocorria em hotéis.
Na sexta-feira e no sábado, a direção do Museu de História Natural havia postado também no Twitter mensagens em que afirmava compartilhar da preocupação dos que pediam que não sediasse o evento, e que a analisava as opções a tomar.
“O Museu gostaria de agradecer às pessoas que expressaram suas visões sobre o evento da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Queremos que saibam que entendemos e compatilhamos de seu desconforto”, disse a mensagem do último sábado. “Queremos deixar claro que o Museu não convidou o presidente Bolsonaro; ele foi convidado como parte de um evento externo. Ainda assim, estamos profundamente preocupados com as metas políticas do atual governo brasileiro, e estamos trabalhando ativamente para compreender nossas opções em relação a esse evento.”
A reação à realização da cerimônia no Museu de História Natural começou quando um portal de notícias de Nova York, Gothamist, fez uma reportagem sobre a premiação, citando um ambientalista que mencionava a política do governo brasileiro para a Amazônia e ressaltava ser “uma ironia particularmente amarga que um homem que tenta destruir um dos recursos naturais mais preciosos seja nomeado Personalidade do Ano dentro de um espaço dedicado à celebração do mundo natural”.
— Ele nega a existência de mudanças climáticas antropogênicas e nomeou vários outros que também as negam para seu Gabinete. E ele também está desmantelando as proteções ao meio ambiente no Brasil. Então, obviamente não se trata de algo para ser celebrado pela ciência — afirmou depois Philip Fearnside, americano que leciona no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), à agência de notícias Reuters.
Ingressos esgotados
Todos os ingressos e mesas para a premiação já foram vendidos — alguns por até US$ 30 mil. Além da premiação, Bolsonaro deverá aproveitar a viagem a Nova York para conversar com empresários e investidores, em um evento organizado pelo Lide, associação empresarial do atual governador paulista, João Dória.
A Câmara ainda não divulgou quem será o americano homenageado — a cada ano, são escolhidos duas Personalidades do Ano, um de cada país. Em 2018, além de Moro, Michael Bloomberg, bilionário, filantropo e ex-prefeito de Nova York venceu a honraria, mas ficou poucos minutos no evento e nem sequer ouviu o discurso de Moro.