A folia de carnaval na capital federal encerrou em grande estilo. Ao longo dos quatro dias de festa, centenas de blocos carnavalescos iluminaram e levaram alegria às ruas de todo o Distrito Federal e nada mais justo que homenagear esses grupos que se dedicaram tanto e inovaram na criatividade. Pelo oitavo ano, o prêmio CB Folia, criado pelo Correio Braziliense, reconhece os blocos mais animados da capital, assim como grandes momentos e as fantasias marcantes de 2025. Os vencedores foram anunciados, em cerimônia no auditório do Correio.
A 8ª edição do prêmio reconheceu os destaques do carnaval de Brasília em cinco categorias: Melhor Bloco de Rua — júri técnico (1º, 2º e 3º lugar), Melhor Bloco de Rua — Votação Popular, além dos prêmios de Melhor Momento, de Melhor Fantasia e de Melhor Fantasia Infantil. A Comissão Julgadora, formada pelos jornalistas e editores que cobriram a folia, votou nos melhores blocos, tomando como base os critérios de animação, estrutura, sustentabilidade e respeito ao próximo.
O grande vencedor do júri técnico foi o Bloco Divinas Tetas, que se destacou pela música e pela criatividade. O idealizador do Divinas, Aluísio Louis, comemorou o prêmio. “São 10 anos de bloco, e acho que é muito complexo fazer carnaval; dá muito trabalho. A gente se dedica bastante. E ver esse reconhecimento, não só do público no dia, mas também por meio deste prêmio, nos dá um gás para continuarmos fazendo e existindo”, disse Aluísio.
Em segundo lugar, ficou o tradicional Pacotão. A rainha do bloco, Claudia Soares, comentou que o carnaval deste ano será lembrado como um dos mais marcantes da agremiação. “Esse bloco atrai muita gente, com muita alegria. Estamos sempre na luta em favor da democracia e da irreverência. Somos um bloco que reivindica melhores salários, mais segurança e melhor qualidade de vida para o povo brasileiro. O Pacotão reforça esse grito de que o povo brasileiro precisa ser ouvido, e poder participar deste prêmio é muito significativo”, afirmou.
O Bloco das Montadas ficou em terceiro lugar pelo júri técnico. Ruth Venceremos, diretora do bloco, compartilhou a emoção. “Acho que estamos de alma lavada, no sentido de que entregamos ao público uma programação bastante rica e diversificada. Elegemos como tema da edição Ritmos do Brasil, para fazer uma passagem pela riqueza da musicalidade brasileira. Tivemos uma área voltada para pessoas com deficiência, um espaço para acolher pessoas que sofreram algum tipo de violência ou crianças que se perderam. Acho que entregamos um bloco de excelência para o carnaval de Brasília. Não é à toa que não houve incidentes. Continuamos fazendo um carnaval da diversidade”, avaliou.
E foi justamente o Bloco das Montadas o grande vencedor do júri popular, votação pela internet. A diva do bloco, Pietra, elogiou o carnaval deste ano. “Achei muito seguro. O pessoal realmente estava afim de curtir a festa.” Pietra comenta sobre uma tradição que, segundo ela, poderia voltar. “Acredito que está na hora dos desfiles das escolas de samba do Distrito Federal voltar a acontecer, pois gera empregos e movimenta famílias.”
Para o próximo ano, a diva avalia que o carnaval precisa ser encarado como uma movimentação cultural, ser inserido do modelo de economia criativa. “Precisamos pensar em cada vez mais formas de mostrar a diversidade cultural de Brasília”, finaliza.
Diretora do Bloco das Montadas, Ruth Venceremos compartilhou o sentimento de felicidade por ter sido escolhida pela população. “Estamos muito emocionados, porque, de fato, é uma conquista importante. Esse reconhecimento consolida nosso trabalho como um ativo cultural essencial do carnaval de Brasília. Ser um bloco LGBT e ser eleito o melhor bloco, numa votação popular, é algo muito significativo, pois demonstra que não são apenas LGBTs que participam dessa festa, mas toda a sociedade. O Bloco das Montadas se tornou um verdadeiro símbolo de inclusão, atraindo pessoas de todas as orientações, que se unem para fazer essa festa bonita que é o carnaval”, disse.
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As crianças não ficaram de fora. Concorrentes na categoria de melhor fantasia infantil, o júri técnico escolheu como vencedores Pedro, 5 anos, e Maria Fernanda, 1. Os irmãos se fantasiaram de Fred e Pedrita Flintstones e atraíram os holofotes. Pai dos pequeninos, Armindo Riedel, 42, contou que a família participa tradicionalmente dos bloquinhos da capital. “O carnaval sempre foi uma das festas mais esperadas para nós. Agora, que estamos com os pequenos, exploramos opções de folia mais tranquila e com mais segurança”, afirma.
Orgulhoso, o pai conta a razão da escolha das fantasias. “O nome dele (filho) é Pedro, e o da minha filha seria Pedrita em homenagem à avó, porém, acabou virando Maria Fernanda. Então usamos essa simbologia da versão feminina de “Pedro” como ideia para a fantasia. Para o Pedro, colocamos a fantasia do Fred que ficou melhor”, explica.
Armindo avaliou positivamente a edição de 2025. “Achamos bastante seguro, sem brigas e violência. Ficamos no bloco Ventoinha de Canudo, que é mais focado no público infantil. Teve reforço na segurança, brincadeiras para as crianças e também para os adultos”, comentou.
Na categoria de melhor fantasia, ganhou o traje carnavalesco “Fantasma do Comunismo”. “O carnaval é uma ocasião maravilhosa da cultura brasileira. Ter a liberdade de fazer o que quiser no carnaval, dentro da democracia, é maravilhoso. Então que ela continue”, afirmou Keila Cristina, de 50 anos, figura por trás da enigmática fantasia.
Sempre que tem disponibilidade, Keila participa da folia brasiliense. Ela afirmou que o bloco que sempre escolhe para comemorar é o Pacotão, um dos clássicos de Brasília, devido a sua liberdade e histórico de crítica política. Keila explicou a escolha da fantasia politicamente engajada. “Pelo momento que não só o país, mas o mundo está passando, sempre vemos discussões políticas, e volta e meia, o fantasma do comunismo é citado nessas discussões”, disse.
A vestimenta vermelha que carrega o símbolo do partido comunista (foice e martelo unidos) em dourado, não é bem digerida por muitas pessoas. Keila admite que no início de seu planejamento, pensou se sofreria alguma violência por conta do traje. “Cheguei, sim, a pensar se sofreria alguma violência, porém, refleti mais e cheguei a conclusão para não ter medo, ainda mais no carnaval, que é uma festa livre”, afirma.
Gerente-executivo do Grupo Petrópolis no DF, Romero Lima ressaltou a parceria com o Correio para o CB Folia. “Esse é um pontapé inicial que a gente vem fazendo aqui. Movemos uma estrutura interna muito grande para participar desse evento, que é um piloto”, comentou. “A experiência da primeira parceria está sendo formidável. O Correio é um namoro antigo, que a gente queria concretizar há algum tempo. É o início de uma aproximação. Daqui, vamos alavancar muitas outras coisas que a gente vai trazer para cá. Teremos muitas novidades por vir”, garantiu.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
Melhor Bloco — Júri técnico
1º lugar: Bloco Divinas Tetas
2º lugar: Pacotão
3º lugar: Bloco das Montadas
Melhor Bloco — Votação popular: Bloco das Montadas
Melhor Momento: Carolina Moniz, em homenagem à atriz Fernanda Torres
Melhor Fantasia: Keila Cristina, com o traje carnavalesco “Fantasma do Comunismo”
Melhor Fantasia Infantil: Pedro, 5 anos, e Maria Fernanda, 1. Os irmãos se fantasiaram de Fred e Pedrita Flintstone
Quem disse que a atriz Fernanda Torres ficou sem troféu neste carnaval? Homenageando a atriz brasileira do filme Ainda estou aqui, a professora Carolina Moniz, 31 anos, foi a grande vencedora do prêmio de Melhor Momento da 8ª edição do CB Folia.
A moradora da Asa Norte agradeceu aos trabalhadores que fizeram o carnaval do Distrito Federal acontecer. “Esse prêmio é pelas mães, pelas mulheres, pelas trabalhadoras e pelos ambulantes. É basicamente um grito de resistência, de ‘sem anistia’, para dizer que isso (ditadura) nunca mais aconteça”, ressaltou.
Carolina afirmou que se sentia uma vencedora, antes mesmo da premiação. “Estava falando que o troféu, a gente ganhou nas ruas. Vim pra cá com o título de rainha do carnaval, que a Fernanda Torres queria, e ela teve esse título”, comentou. “O Oscar é muito menor do que o carnaval brasileiro. Ainda estamos aqui e a gente vai sorrir, sim, todos os dias!”, acrescentou a professora.