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A retomada do protagonismo do mercado brasileiro de fertilizantes

Gustavo Horbach — Diretor-presidente da EuroChem na América do Sul

Em um passado não tão distante, meados da década de 1990, o Brasil produzia mais fertilizantes que importava e até 65% do consumo era de produção local. De lá para cá, alguns aspectos históricos, como estagnação dos investimentos no parque fabril e as frequentes readequações tributárias, impulsionaram a importação dos nutrientes básicos da agricultura (nitrogênio, fósforo e potássio), de tal modo que fizeram o país atingir um nível de dependência delicado: hoje, cerca de 85% dos fertilizantes usados na agricultura brasileira são de origem estrangeira.

Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a importação de fertilizantes passou de 7,4 milhões de toneladas, em 1998, para quase 33 milhões em 2020, um crescimento de 445% em pouco mais de duas décadas. No mesmo período, a produção nacional teve queda de 13,5%, passando de 7,4 milhões de toneladas para 6,4 milhões. Um paradoxo foi verificado nos últimos 25 anos: enquanto lideramos uma revolução de tecnologia, gestão e inovação no campo — que nos alçou ao patamar de superpotência agrícola —, fomos incapazes de produzir o mesmo efeito em uma indústria essencial a esse mesmo ecossistema produtivo.

Acabamos lançando mão e criamos soluções de curto prazo, emergenciais, visando destravar a produção agrícola nacional para atender à demanda internacional em constante crescimento. Uma decisão necessária, principalmente se olharmos para o agronegócio como um player isolado, mas que negligenciou a cadeia nacional de fornecimento de matérias-primas, como o setor de fertilizantes.

Em 2024, os números continuam preocupantes. Segundo o boletim logístico de junho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no período janeiro-maio deste ano, foram desembarcadas nos portos brasileiros 13,64 milhões de toneladas de fertilizantes, contra 13,61 milhões no mesmo período de 2023. A Anda ainda registrou que a produção nacional de fertilizantes, de janeiro a abril deste ano, foi de apenas 1,9 milhão de toneladas, enquanto, no mesmo período do ano passado, foi de 2,2 milhões de toneladas, uma queda de 11,9%.

A vocação do Brasil em ser um ator mais que relevante na redução da insegurança alimentar global por meio do crescimento da produção agrícola e respondendo por quase metade da produção mundial de alimentos nos próximos anos deve propiciar, obrigatoriamente, o fundamental desenvolvimento do mercado nacional de fertilizantes.

O Brasil se encontra em uma posição vulnerável em relação à variação de preços e de oferta causadas por fatores geopolíticos e especulações comerciais internacionais, mesmo o país sendo o quarto consumidor global de fertilizantes e com condições geológicas, econômicas e de infraestrutura adequadas para desenvolver a produção local.

E a mudança desse quadro ocorrerá apenas com um olhar estratégico para o setor, por meio de uma política de Estado, suportada pela indústria e pela academia, que extrapole governos e projete o mercado nacional para daqui a 40, 50 anos. Acreditamos que o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), lançado pelo governo federal em março de 2022, e a remodelação do Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Confert), em maio de 2023, foram iniciativas relevantes visando à retomada do protagonismo do mercado brasileiro de fertilizantes.

Por meio de incentivos fiscais, linhas de financiamento, parcerias e mudanças regulatórias, o PNF vai fomentar investimentos públicos e privados e, consequentemente, a produção nacional, reduzindo a dependência do Brasil dos insumos importados para cerca de 45% até 2050, fortalecendo a soberania nacional e a segurança alimentar do Brasil e do mundo.

E há mais uma iniciativa importante: o Rio Agro, fórum Internacional de sustentabilidade agroambiental das cadeias produtivas do agronegócio, que reuniu, de 29 de julho a 2 de agosto, especialistas para debater temas relevantes e desafios comuns do setor. A programação considerou participação ativa do governo federal por meio de representantes dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; da Agricultura e Pecuária; e de Minas e Energia; da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), entre outros.

Iniciativas como essa, aliadas a investimentos privados, como o Complexo Mineroindustrial de Serra de Salitre da EuroChem, em Minas Gerais, a primeira planta de mineração do grupo fora do continente europeu, reforçam a confiança do setor no Brasil e a nossa expectativa de que o governo, de maneira acertada e pragmática, seguirá avançando com a implementação do Plano Nacional de Fertilizantes, reduzindo vulnerabilidades externas e dando mais segurança ao agronegócio brasileiro.

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Candidata a reitora da UnB defende que instituição precisa alternância

A educadora Fátima Sousa disse às entrevistadoras do Podcast do Correio que a universidade da capital federal necessita de várias renovações. Ela forma a chapa 99 — “A UnB que queremos”, com o professor Paulo Celso, da Faculdade de Tecnologia (FT), candidato a vice-reitor. Às jornalistas Adriana Bernardes e Mariana Niederauer, a postulante ao cargo máximo da instituição falou dos desafios e das propostas que terá pelos próximos quatro anos, caso seja eleita.

“A UnB merece ter alternância de poder. Faz bem à democracia, às instituições. Não é uma crítica a ninguém, mas é necessário que a gente se renove”, defende Fátima, ao se referir à gestão de Márcia Abraão, que deixa o cargo após oito anos. O episódio completo pode ser conferido nos perfis oficiais do Correio nas redes sociais, no canal do veículo no YouTube.

Como está a campanha?

Essa campanha está sendo muito esperançosa. Estamos comemorando uma democracia interna, na UnB, por ter três mulheres colocando os seus nomes em exposição, e acho que isso é um bom exercício da pedagogia: a disposição das mulheres em se colocarem como futuras reitoras. Para mim e o professor Paulo Celso a expectativa é que seremos os vencedores.

Quais são as principais propostas que vocês trazem?

Nós somos uma espécie de porta-voz de uma consulta pública que fizemos à comunidade acadêmica, com a participação dos três segmentos (discentes, docentes e técnicos-administrativos). Fizemos duas perguntas. Primeiro, “qual é a UnB que temos?”, para fazermos um diagnóstico situacional. Demos sigilo, como boas pesquisadoras que somos, e, em seguida, “qual é a UnB que queremos?”, para que nós, a partir do diagnóstico, apresentarmos uma série de sugestões. Foram 280 respostas, constituímos 28 grupos de trabalho (GT) e a síntese da nossa carta compromisso foi organizada em 10 grandes eixos. O primeiro é “As pessoas em primeiro lugar”, porque entendemos que, se a população estiver conduzindo os destinos da UnB, nós seremos eternamente devedores. Segundo, “Uma universidade promotora de saúde”. Fui diretora da Faculdade de Ciências da Saúde e ganhamos um prêmio da OMS por ser uma universidade promotora de saúde. Queremos expandir isso para o conjunto da nossa universidade. Terceiro é a “Gestão acadêmica e a ciência cidadã”, por compreendemos que precisamos redesenhar o modelo de gestão: mais célere e próxima da população; e uma ciência cidadã, onde as pessoas nos vejam, nos reconheçam e deem legitimidade ao que estamos fazendo na universidade. Quarto eixo é “Gestão administrativa e governança”. O quinto, “Gestão da ciência, tecnologia e inovação”, porque estamos vivendo uma revolução tecnológica. A UnB não pode se furtar a viver esse momento e esses desafios contemporâneos. O sexto eixo é “Gestão e arte e cultura na universidade”. A nossa universidade sempre foi muito efervescente, alegre, para cima e, infelizmente, estamos vivendo um momento, em parte por causa da pandemia, em que as pessoas se distanciaram. A gente precisa trazer esse movimento de volta, essa alegria e participação mais efetiva de toda a comunidade. Sétimo eixo é “Gestão da informação, comunicação e acesso ao conhecimento”, porque temos duas compressões aqui: precisamos massificar a informação, fazer uma comunicação mais assertiva, para que a gente possa tomar as decisões de igual maneira assertiva, e o acesso ao conhecimento de tudo o que produzimos dentro da nossa casa, para que a sociedade tenha acesso. O oitavo eixo é “Transparência e orçamento participativo”. Eu tive a felicidade de participar do governo da deputada Luiza Erundina em São Paulo, depois da Martha Suplicy, e aprendi muito bem sobre orçamento participativo. É demonstrar para a comunidade quais os recursos que temos, como eles são distribuídos e, mais do que isso: quais prioridades nós temos. O nono é “Infraestrutura e sustentabilidade”. O meu vice é um ambientalista. O professor Paulo vem da FT, e foi uma das pessoas que fechou o lixão (da Estrutural), por isso desse encontro saúde e meio ambiente. O décimo é “Memória e patrimônio institucional”.

Como foi o diálogo para construir essas propostas?

Abrimos a consulta pública e as pessoas, livremente, dos campi onde estavam, respondiam ao questionário. Temos um banco (de dados) robusto que esperamos não seja somente para o debate na universidade, mas uma luz à nossa gestão. Constituímos 28 GTs, cada um com moderador e relator, e fizemos a síntese. É um banco riquíssimo, a gente teve que fazer, de fato, uma síntese, não só um diagnóstico, para a (chapa) “UnB que queremos”. Queremos fazer, assim que assumirmos, um grande congresso interno, onde a gente escute todos. Nós precisamos projetar a UnB para o seu encontro com o seu centenário. Precisamos ter projetos mais sustentáveis e robustos, a curto, médio e longo prazo.

A eleição é paritária entre técnicos, alunos e professores. Como tem sido essa articulação?

Em todas as unidades, nós já temos um convívio, seja quando fomos diretores, seja quando coordenei o núcleo de estudos de saúde pública da UnB, seja quando estruturei os programas de pós-graduação de saúde coletiva. Então, essa convivência sempre foi muito amistosa. Eu sou filha da democracia, então, o diálogo e a convivência têm sido muito respeitosos. Os próprios debates entre nós, as candidatas, têm sido mais do que respeitosos: estamos projetando a UnB. Eu sou uma pessoa que não olha para trás, mas acho que o passado tem que ser referencial para não repetir as coisas ruins. As boas a gente não precisa apenas ampliar, mas sustentar para que a universidade tenha orgulho do que foi feito. Eu olho para o futuro. O DCE tem sido muito respeitoso conosco, todos os diretores das unidades têm nos recebido, todos os coordenadores de programas de graduação e pós-graduação de igual maneira.

O Censo de Educação Superior de 2022 revelou que houve 4,7 milhões de novos discentes e apenas 1,3 milhão de formandos. Como faz para reduzir essa discrepância?

Esse problema da evasão não é só da UnB. Isso é um problema crônico. Temos que pensar na democratização do acesso. A UnB tem várias modalidades: o vestibular tradicional, o Enem e PAS e, agora, estamos trazendo pessoas com 60 anos ou mais. Como um problema complexo, não se resolve com uma equação muito simples. Na nossa carta compromisso, temos uma série de iniciativas. Primeiro, ver de onde nossos alunos estão vindo, fazer um diagnóstico do perfil deles. Segundo, instituir a formação dos próprios professores para que possa haver uma intinerância formativa onde o aluno se sinta pertencente. Terceiro, uma política de acolhimento desses estudantes. Defendemos que o aluno chegue e fique, no mínimo, seis meses, ambientando-se e sentindo-se acolhido na nossa universidade. Também defendo revisarmos os currículos de todos os cursos para que possamos fazer um currículo integrador e transversal. Ter uma política de permanência, onde o aluno possa ter restaurante universitário a preço acessível. Não é possível que a gente saia de R$ 2,50 para R$ 6,10. O estudante não se sustenta, porque essas pessoas que estamos trazendo têm vulnerabilidade socioeconômica. Então, é necessária uma política de moradia, de alimentação, de transporte. Eu e professor Paulo estamos negociando, e, mesmo que não sejamos eleitos, advogaremos para que a gente tenha um terminal rodoviário na UnB, que diminua o tempo de idas e vindas e que facilite o trânsito interno, em todas as unidades, em todos os campi. O que mais nos atrai a trazer todos esses alunos é ter um lugar que eles sintam que pertencem a ele. A universidade também tem que fazer o diálogo com o mercado de trabalho. Eu coordeno um projeto chamado Escola Cidadã. Nós vamos para as escolas de ensino médio conversar com os alunos e identificar o perfil deles. A FS Portas Abertas deixa o aluno orientado sobre o curso que ele quer cursar. E não tem só essa iniciativa para que a gente possa frear essa evasão.

Por que a senhora merece ser a próxima reitora da UnB?

A Universidade de Brasília merece ter alternância de poder. Faz bem à democracia, às instituições. Oito anos de governo, e não é uma crítica a ninguém, mas é necessário que a gente se renove. Nesse sentido, nós colocamos à disposição da universidade toda a nossa experiência de gestor, pesquisador, extensionista, de educadores. E há essa interface entre a sociedade e a nossa academia. Estamos prontos, não estamos sozinhos. Não se trata de mim ou de Paulo, mas de um projeto construído coletivamente, não é de hoje, ele está sendo revisto e reeditado. Esse é um desafio que nos anima a fazer e colocar os nossos nomes à disposição nos próximos quatro anos, que é revisitar o projeto de Darcy e Anísio. Chegou o tempo de fazer isso. Vamos caminhar para o centenário.

Estamos no momento de reformulação do Plano Nacional de Educação (PNE). Na educação superior, como a UnB pode contribuir com esse processo?

A gente precisa fazer uma disputa do orçamento dos recursos da União. Não dá para a gente, a cada final de exercício anual, não ter recurso para pagar água e luz. Precisamos de um financiamento estável. Precisamos garantir uma política de permanência dos nossos professores, porque muitos talentos estão indo embora por falta de incentivo às nossas carreiras. De igual maneira os técnicos. A cada 100 técnicos, 70 vão embora por falta de política de assistência, para condições de morar, alimentar-se, ter formação, além de poderem investir em mestrado e doutorado, para que eles sintam que a carreira deles tem futuro. A UnB, diferente das demais, está no epicentro do poder. Isso facilita as relações com o Ministério da Educação (MEC) e também para que a gente consiga cumprir as metas do PNE. A UnB tem expertise. Nesses 62 anos, nós construímos um corpo técnico, uma base científica, uma base extensionista, muito robusta.

A UnB tem ampliado bastante o acesso ao ensino superior. Como a universidade pode ampliar ainda mais esse acesso? É uma meta?

Isso é uma meta porque ainda temos muitas vagas ociosas, em função da própria evasão. Uma vez assumindo a gestão dos próximos quatro anos, nós precisamos fazer o mapeamento curso a curso, unidade a unidade, campi a campi, para saber quais são os problemas que são reiterados do porquê dessa evasão. E, ao mesmo tempo, seguir ampliando o acesso. Se os meninos entram e não ficam, geram-se mais vagas ociosas, e o próprio MEC pode nos ver como improdutivos. Sou defensora da democratização do acesso, mas a universidade tem que se preparar. Não basta convocar, tem que garantir condições de ficar e de voltar. Eu fiz um projeto, quando dirigia a FS, que se chamava “Por onde andam vocês”. A gente trouxe os alunos egressos para que contassem a quem está entrando como foi o percurso no mercado de trabalho. É possível fazer isso no conjunto da UnB.

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Um modelo econômico que promove a sustentabilidade avança no DF

Você sabe o que é economia circular? É uma proposta que considera a eliminação do conceito de desperdício baseada em que produtos podem ser totalmente reciclados ou reaproveitados. A explicação é do coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida. Como ele, outros especialistas defendem a iniciativa, já adotada por alguns empresários no DF.

Dados do Serviço de Limpeza Urbana apontam que, das 2.200 toneladas de resíduos recebidos, diariamente, no aterro sanitário de Brasília, 500 (22,72%) são de materiais recicláveis — como plástico, papel, alumínio e papelão. Entretanto, por chegarem misturados a rejeitos orgânicos, esse materiais não podem ser reaproveitados.

Almeida explica que o modelo econômico circular trabalha com a ideia de reutilizar, reciclar e regenerar recursos. “Por exemplo, se o consumidor vai comprar um eletrodoméstico, que tal consumir um produto usado, seguindo (assim) um modelo de produção e consumo que busca estender a vida útil da mercadoria?”, propõe. “Diferentemente da economia linear tradicional, que segue o padrão ‘extrair, produzir, descartar’, a circular adota um ciclo fechado onde os resíduos são reintegrados ao processo produtivo”, acrescenta.

Para ele, aderir à economia circular traz diversas vantagens ao consumidor. “Impacta tanto o cotidiano quanto as finanças pessoais. A economia circular pode promover a inovação nos produtos e serviços”, avalia. “Os consumidores se beneficiam ao ter acesso a soluções mais criativas, sustentáveis e, muitas vezes, personalizáveis. No DF, os principais segmentos que estão ganhando espaço são móveis e decoração, moda sustentável, eletrodomésticos e construção sustentável”, observa o especialista.

Sustentabilidade

Doutora em ecologia e coordenadora do curso de ciências biológicas da Universidade Católica de Brasília, Morgana Bruno comenta que o conceito da economia circular é essencial para o meio ambiente. “Ele gera uma menor demanda de produtos, o que vai reduzir a utilização de matérias-primas da natureza”, diz.

“É importante ressaltar que as ações individuais conservam muito pouco o meio ambiente. O que faz a gente ter algo que o impacte de forma positiva, é financiar a ciência para que sejam criados produtos que demandem menos a natureza e que durem mais”, alerta Morgana. Segundo ela, atualmente, não temos tanto incentivo para consumo ou produção de bens duradouros. “É necessária uma pressão, principalmente governamental, por meio de políticas públicas, para que indústrias criem produtos utilizando materiais duráveis e que possam ser reciclados”, avalia.

Foi acreditando em que poderia beneficiar o meio ambiente que a enfermeira Claudene Silva, 50 anos, decidiu passar a comprar roupas em brechós. “Aderi, recentemente, e acho que vale muito a pena. Além de ser econômico, a qualidade das peças e, principalmente, a questão ambiental que a moda circular tem, me cativaram muito”, conta. “Para o comércio, de forma geral, é sempre bom adquirir aquilo que é novo. Mas, não podemos olhar apenas por esse lado, temos que pensar no futuro do planeta que vai ficar para as nossas crianças”, considera.

A engenheira ambiental Raizza Maria Matos, 29, se inspirou em sua formação para se tornar proprietária de um brechó. “Comecei um pouco antes da pandemia, trabalhei no brechó de uma amiga. Com o passar do tempo, fui percebendo que era disso que gostava, além de entender a questão ambiental no mundo da moda, que é uma das (áreas) que mais geram resíduos. Estamos tentando caminhar para que a loja zere o desperdício”, comenta.

Raizza destaca que, além de brechó, o espaço funciona como uma loja colaborativa. “Aqui, as pessoas podem alugar um espaço para expor seus produtos. Só que sempre prezamos que os empreendedores estejam alinhados à questão ambiental”, explica. “Um exemplo é uma expositora que vende biquínis com a pegada zero resíduo. Ela cria modelos que são feitos a partir de retalhos de outras peças”, detalha a empresária.

Compra consciente

Outro que acredita na economia circular é o comerciante João Cleomes Ferreira, 50, proprietário de uma loja de móveis usados. No ramo desde 2004, ele conta que começou após perceber que “dá para reaproveitar as coisas, (algo) sempre vai servir para alguém”. “É um ramo bom, e acredito que a tendência é crescer ainda mais. Tudo se recicla ou se reaproveita na natureza”, opina.

Ferreira destaca que poder contribuir para diminuir a poluição e o desperdício também o incentivaram a criar um negócio ligado à economia circular. “A gente costuma ir à casa do cliente que está querendo se livrar de um móvel. Além de conseguir o objeto para revender, descartamos aqueles que não servem, no local adequado, contribuindo com a natureza”, garante. “Muitas vezes, ficando com os clientes, eles são jogados em qualquer lugar, prejudicando o meio ambiente”, pondera.

O economista Riezo Almeida dá dicas para quem deseja aderir ao modelo de “compra consciente”, especialmente móveis e eletrodomésticos: “Prefira aqueles feitos com materiais reciclados e opte por produtos de qualidade e durabilidade. Isso reduz a necessidade de substituições frequentes, causando menos impacto ambiental”. “Ao apoiar esses tipos de produtos, os consumidores incentivam a demanda por matérias-primas recicladas, impulsionando ainda mais a economia circular”, afirma.

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Garzón celebra 10 anos no Brasil, com lançamento de vinho laranja; vinho de aniversário é um tinto potente do Uruguai

vinícola uruguaia Garzón celebra uma década no mercado brasileiro, um de seus principais consumidores. O CEO da marca, Christian Wylie, revela que nos primeiros meses de 2024, 40 mil brasileiros foram à Garzón, que fica em Maldonado. Desde que começou a vender seus rótulos para cá, a bodega teve a World Wine como importador: dos 32 vinhos produzidos, são comprados 25:

— Celebramos 10 anos da presença da Garzón no Brasil. É uma vinícola super jovem ainda no mundo do vinho, com sucesso mundial. São apenas 15 anos da primeira plantação da Tannat. Queremos comemorar aqui no Brasil, um mercado que está no meu coração. Este ano, recebemos 40 mil brasileiros na vinícola. São pessoas que vão conhecer, degustar e comprar nossos vinhos. É um círculo virtuoso. Tem gente de São Paulo, do Rio, do Nordeste, e obviamente do Rio Grande do Sul, que vai de carro — destaca Christian Wylie, em visita ao Rio para comemorar os 10 anos da Garzón no país.

Christian Wylie lembra que o genial crítico de vinhos britânico Steven Spurrier destacou que a Garzón havia conseguido o status de produtor icônico em menos de uma década, diferentemente de outros grandes produtores como a argentina Catena e a chilena Chadwick, que levaram mais de uma geração.

— Acredito que essa afirmação é o melhor balanço. Construir uma vinícola 100% Leed Certified (certificação de sustentabilidade) nestes 10 anos; estabelecer todo o portfólio de vinhos, incluindo um vinho na Place de Bordeaux; desenvolver Alvarinho como o maior produtor das Américas, o melhor vinho branco da América do Sul segundo o Descorchados; um rosé que é um sucesso incrível. O enoturismo premiado no top 10 de vinícolas para visitar. Ficamos acima do Château Margaux.

O executivo detalha que os vinhos da Garzón estão em 60 países:

— A grande surpresa é que nosso principal consumidor é o Uruguai. Nunca pensamos nisso. O segundo principal destino é o Brasil. O terceiro é os Estados Unidos. Depois vêm países como Japão, Canadá, Suécia. Acho que é um reconhecimento, que vai da Decanter, no Reino Unido, à Wine Spectator, nos Estados Unidos, passando por especialistas do Japão e do Brasil. Temos a liderança de Alejandro Bulgheroni, que aceitou o risco. Em 10 anos, construímos uma nova apelação no mundo do vinho. Não existia Garzón nem Maldonado. E temos a sabedoria de Alberto Antonini (consultor do projeto). Ele não quer assinar os rótulos, mas dá confiança e empodera ao enólogo Germán Bruzzone.

Além dos 10 anos da Garzón, serão comemorados os 25 anos da World Wine. O vinho escolhido para a celebração foi o Single Vineyard Petit Verdot:

— Somos a principal marca da importadora World Wine. E o vinho que vai marcar esse aniversário é nosso Petit Verdot, um vinho de muita personalidade.

Wylie também destacou a chegada ao Brasil do novo Field Blend Orange. O vinho nasce da união de cinco variedades: Riesling, Verdejo, Vermentino, Petit Manseng e Alvarinho. Acompanha bem queijos maduros, frutos do mar e comida asiática.

— Ele está disponível há meses na vinícola, no nosso restaurante. Muitos brasileiros conhecem. Apresentamos o vinho no Descorchados em abril, mas a importação atrasou. O laranja é polêmico. Todo mundo fala de vinhos naturais, de laranja, que tem que ser hippie, mas não é esse caso. Isso é aproveitar a tendência de apresentar vinhos defeituosos. Essa é forma como os vinhos brancos eram feitos no século XIX. Basicamente, como o vinho tinto, com as cascas.

O executivo explica que as uvas são colhidas no mesmo dia:

— No nosso caso, as variedades estão em parcelas diferentes, mas são colhidas no mesmo dia e cofermentadas com as cascas em concreto e guardadas também com as cascas por 100 dias. É muito, mas temos tecnologia para manter o vinho resfriado em aço inoxidável. Quando engarrafamos, não adicionamos sulfito. É como se fazia no passado, um vinho natural.

Wylie apresentou ainda o Petit Clos Pinot Noir 2020, feito com a parcela 87 dos vinhedos da Garzón:

— É a parcela que, para nós, dá a melhor fruta de Pinot Noir. É um clone da Borgonha, e o vinhedo é plantado com orientação sudeste. Pega um pouco de sol de manhã, e o resto do dia está à sombra. As uvas são colhidas num momento de máxima frescura da fruta, evitamos álcool excessivo, sobrematuração. E a Garzón é uma apelação fria, extrema, com muito vento que vem do Sul, da Antártica, muita chuva. É mais parecido à Europa. Então você vai encontrar um Pinot Noir com uma cor delicada e uma fruta, um perfume e um corpo mais parecidos aos Pinot Noirs da Borgonha. Como é uma só parcela, elaboramos só 3.500 garrafas para o mundo todo. É muito gastronômico, leve, fácil de tomar e com muito equilíbrio.

Ele explica que o vinhedo de Petit Verdot foi plantado na mesma colina, só que voltado para o Noroeste.

— Isso permite a uva amadurecer, protegida do frio, exposta ao sol. É o oposto do Pinot Noir. A Petit Verdot, em geral, precisa de um ciclo longo para amadurecer. É a uva tinta que colhemos mais tarde. A Petit Verdot é considerada a arma secreta dos grandes châteaux de Bordeaux, de Médoc. Existem poucos vinhos 100% Petit Verdot. Em geral, são de países do Novo Mundo: Estados Unidos, Chile, Austrália, Argentina. Mas são todos climas secos, desérticos, o que deixa o Petit Verdot como um fisioculturista. Mas na Garzón, pela latitude, pelo clima e pelo solo, é muito parecido com Médoc. É equilibrado, com notas de couro, grafite, com um pouco de moca. É colhido manualmente, fermentado em cimento com levedura nativa, com gelo seco para uma fermentação fria. Depois passa ao carvalho francês, sem tostar, de 5 mil litros, por 14 meses.

Já o Balasto é um blend feito apenas nas melhores safras, com as uvas das melhores parcelas de castas tintas.

— No caso do ano 2020, foi a melhor safra histórica do Uruguai, a melhor safra em 60 anos. O que fez com que tenha sido uma colheita exata, perfeita, mas no ano da pandemia. Estávamos na metade da festa da vindima, da alegria. Com a Covid, tivemos que colher com máscaras, o que fez tudo mais difícil. Mas o Balasto é um espetáculo, a melhor versão, o que é bastante coerente porque o vinho vai melhorando. Com o tempo, as raízes das vinhas estão cada vez mais penetradas na rocha-mãe, no granito, e isso o faz mais mineral, mais etéreo.

Wylie explica que o Balasto 2020 é um corte de Tannat, Cabernet Franc e Petit Verdot.

— Tem a frescura e o balsâmico do Cabernet Franc, sem ter notas pirazínicas (do pimentão). Tem a potência do Tannat; e a elegância, a capacidade de guarda e o equilíbrio do Petit Verdot. É um vinho que elaboramos com muito cuidado, colhemos quando as sementes da uva estão crocantes, quando o tanino está maduro. Não sobremaduramos a uva, não queremos muito álcool nem sobre-extraímos. Todas são vinificadas em concreto em separado. Depois o amadurecimento ocorre em carvalho francês, sem tostar. Na hora de fazer o corte, seguimos o Norte que dita Alejandro Bulgheroni, o proprietário. Ele quer equilíbrio, o que é o mais difícil.

Christian Wylie enfatiza que o Balasto é a obra-prima da Garzón, com as assinaturas do premiado consutor internacional Alberto Antonini e do também premiado enólogo uruguaio Germán Bruzzone:

— O Balasto é um desafio fantástico. Buscamos expressar o lugar, a acidez natural que faz com que seja um vinho muito gastronômico, a mineralidade que faz com que seja super leve, fácil de tomar, com muita fruta, textura, estrutura.

Após ser engarrafado, o vinho ainda passa um ano na vinícola, antes de ser lançado na França, na Place de Bordeaux:

— É o único vinho do Uruguai que se vende com negociantes. Foi o terceiro, no seu momento, da América do Sul. Mas foi o primeiro na place, sem padrinho, sem a ajuda de um francês. Fomos sozinhos com a garrafa. É uma honra estar naquele local de máximo prestígio. Obviamente, significa que você tem que estar perfeito, trabalhando muito e construindo a marca.

Para o Brasil, a World Wine tem uma alocação de 3 mil garrafas do Balasto, das 27 mil produzidas.

Christian Wylie recebeu em 2023 o prêmio Wine Executive of the Year, da Wine Enthusiast no Wine Star Awards, considerado o “Oscar” do vinho nos Estados Unidos.

— Eles premiaram pela primeira vez um executivo que não era americano. Recebi o prêmio basicamente por tudo o que a Garzón conquistou, trazendo ao mundo este estilo de Tannat, fácil de beber, agradável. O presidente do Uruguai diz que o melhor embaixador do Uruguai é o Balasto, e presenteou o presidente francês Emmanuel Macron com um. Também há nosso Alvarinho e nosso Rosé. E apresentamos o terroir de Maldonado, além da sustentabilidade e o enoturismo.

Já é Natal em Minas Gerais

Já é Natal em Minas Gerais (Foto: Ubiraney Silva)

Com base nas informações da Agência Minas e das redes sociais, uma grande movimentação foi feita neste início de agosto, na esfera governamental, com o lançamento de dois editais pelo Governo de Minas Gerais, com o objetivo de garimpar projetos culturais passíveis de aplicação na capital Belo Horizonte e no interior para aqueles municípios que se interessarem em movimentar a economia local, motivados pelo tempo natalino.

A CEMIG e a SECULT, Secretaria de Estado de Turismo e Cultura estão à frente desta empreitada. De acordo com o divulgado pela Agência Minas, as propostas aprovadas nos chamamentos públicos comporão a programação do “Natal da Mineiridade Cemig 2024”!

Para tanto, os investimentos previstos vislumbram a soma de dez milhões de reais e os interessados já podem acessar o site da Cemig, onde encontrarão todas as informações e recomendações sobre as categorias e editais, com inscrições totalmente gratuitas.

A intenção é que haja grande interesse de participantes e que estes sejam especialmente de outras regiões do estado, evitando uma maior concentração de investimentos apenas na capital e região metropolitana.

Natal, uma oportunidade para Minas Gerais

Não temos dúvidas de que o Natal é um grande aliado da geração de trabalho e renda, um importante fator para o aquecimento econômico e comercial em todos os municípios e naturalmente que este incentivo pode agregar ainda mais possibilidades, uma vez que o edital incentiva a valorização do espaço público urbano, a potencialização do natal como atrativo cultural e turístico, abastecer o calendário natalino com fidelidade até as festas de Reis em 06 de janeiro e garantir a acessibilidade para todo o público.

Para quem sabe criar estratégias de negócios, o período natalino é especial, já que garante o interesse do grande público pelas compras, todos os segmentos percebem um grande aquecimento nas vendas, especialmente os setores de vestuário e alimentação e o bom é que os editais lançados para o Natal da Mineiridade Cemig 2024, incentivam a valorização da mão de obra local, nos territórios que forem contemplados com os respectivos projetos.

Natal Luz de Gramado é um ótimo exemplo

O melhor exemplo de aproveitamento comercial do período natalino no Brasil é o Natal Luz de Gramado, no Rio Grande do Sul, que a partir de 24 de outubro já afirma, que o Natal tem “a magia que abraça a todos!”

Natal Luz de Gramado/ RS (Foto: Ubiraney Silva)

Por lá a programação segue até o dia 19 de janeiro de 2025, tem um público e um fluxo de turismo garantidos, que prestigiam a deslumbrante transformação por que passa o centro comercial da cidade, consumindo a variada gastronomia da cidade, aquecendo o setor hoteleiro e consumindo também uma encantadora programação cultural, que já está a venda e garantindo a diversão dos consumidores.

A expectativa é que, apesar das enormes dificuldades enfrentadas ainda pelo estado, que foi vítima das intensas chuvas e enchentes que prejudicaram muito a infraestrutura e vários segmentos comerciais do Rio Grande do Sul, o Natal Luz de Gramado consiga manter o seu tradicional ritmo comercial e consiga resultados significativos que recuperem, ao menos em parte, a economia regional.

Novas estratégias em Minas Gerais

Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, aposta é na valorização do período natalino com o encantamento provocado pela iluminação na Praça da Liberdade, o principal foco de investimento, com a novidade de que para 2024 o Palácio da Liberdade também será contemplado e a expectativa é que a região fique ainda mais bonita e amplamente frequentada.

Uma outra estratégia governamental é promover as Rotas Turísticas, recentemente lançadas pela SECULT. De acordo com os pronunciamentos do Secretário de Estado Leônidas Oliveira, o Natal é uma época que gera um fluxo muito grande de turistas, que buscam especialmente o interior do estado visando apreciar o encantamento das luzes de Natal que enfeitam as cidades.

Leônidas também ressalta que “São turistas que vêm de outros estados e até internacionais, visto que nós somos hoje o estado que mais cresce no turismo nacionalmente. Então, nós vamos fazer as rotas do Natal da Mineiridade Cemig”.

Natal da Mineiridade

De acordo com as informações repassadas, o público terá acesso às principais informações sobre o Natal da Mineiridade Cemig 2024, por meio de um catálogo, que informará quais os pontos decorados e quais os lugares poderão ser visitados. E isso valerá para Belo Horizonte, para as cidades da região metropolitana e para as cidades do interior mineiro.

Mariana/ MG (Foto: Ubiraney Silva)

Sobre os dois editais lançados para distribuição de recursos para o Natal da Mineiridade Cemig 2024, as informações estão disponibilizadas nos sites da Cemig e da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo. O que posso colaborar é informando aos interessados na apresentação das propostas, é que o prazo de inscrições termina no próximo dia 18 de agosto, por isso é importante ficar atento a todas as informações e nuances dos respectivos documentos.

Este mecanismo dos editais, por meio dos Chamamentos Públicos, não deixa de ser uma oportunidade de fomento comercial já que eles estão disponíveis para “pessoa física ou jurídica, com ou sem fins lucrativos, mas é importante estarem atentos ao detalhe de que os projetos com foco nas comemorações natalinas sejam aprovados na Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais”.

Exigências importantes para aprovação das propostas

Naturalmente que critérios diversos, já amplamente conhecidos por promotores culturais e de eventos, serão considerados para a aprovação destas propostas, mas o interessante e muito prudente é a exigência da relação das propostas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), além da criatividade e inovação, acessibilidade e inclusão, fatores também muito prudentes e necessários.

Aliás, sempre é bom ressaltar a atenção que tem sido dada às ações de sustentabilidade se relacionando com todas as iniciativas da atualidade.

As empresas com potencial de investimentos, tem corrido atrás dos benefícios fiscais para o patrocínio de iniciativas que valorizem a produção e a promoção cultural em suas diversas categorias e quem ainda não se antenou para a importância de assumirem o seu compromisso com o desenvolvimento sustentável, que o faça logo, afinal, já nos aproximamos dos primeiros 25 anos do século XXI e a temática da sustentabilidade estará cada vez mais presente no nosso dia a dia.

Pois é, o tempo e sua corrida desenfreada. O Natal já é assunto principal! Fique atento aos desdobramentos do Natal da Mineiridade Cemig 2024 e quando os resultados forem divulgados, não perca tempo, defina logo a sua agenda turística para o período de Natal.

Até a próxima.

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Putin vive auge do poder após 25 anos no Kremlin

Há 25 anos, um desconhecido ex-espião da KGB emergiu das sombras do decadente governo Boris Ieltsin e foi ungido futuro czar da Rússia do século 21. Deixou para trás uma década de humilhação e crise agônica para elevar o padrão de vida da população e resgatar o prestígio internacional do país.

Ao mesmo tempo, esse quarto de século viu o líder tornar-se crescentemente autocrático, solapar a oposição, o dissenso e a liberdade de expressão, sendo considerado por muitos um ditador e pária. Invadiu a Ucrânia e jogou a ordem internacional em um abismo imprevisível, além de arriscar o futuro russo no processo.

Todas essas asserções são verdadeiras, o que apenas torna a figura de Vladimir Vladimirovitch Putin, 71, incontornável. Não há história da Rússia neste século sem seu nome, e ele caminha para em 2028 superar o ditador Josef Stálin (1878-1953) como o mais duradouro líder moderno do país.

Naquele 9 de agosto de 1999, Putin foi apresentado ao mundo como mais um nome cinzento a ocupar o cargo de primeiro-ministro de Ieltsin, sem fazer frente ao mercurial chefe.

“Ieltsin nomeia seu 5º premiê em 17 meses”, estampava como segundo destaque a Primeira Página da Folha no dia seguinte —era outra era geológica na tecnologia, sem a informação instantânea de hoje. O produto do ano era o celular Nokia com o jogo da cobrinha, e a preocupação na manchete do jornal era o dólar a saudosos R$ 1,88.

Alcoólatra, doente e paranoico, Ieltsin (1931-2007) já mal governava. Uma versão muito aceita da história diz que as forças nos bastidores de seu governo, como os serviços de segurança e os politólogos em ascensão, viram em Putin um nome pronto para ser teleguiado.

Se pensaram isso, erraram. O russo, que havia passado pela burocracia do Kremlin e chefiou o FSB, sucessor da KGB, começou sua jornada em meio ao sangue da segunda guerra da Tchetchênia. O risco de desintegração russa no norte do Cáucaso foi afastado.

Isso já mostrava a preocupação de restabelecer a ordem na qual fora criado, a da Rússia forte, no caso dentro da União Soviética. Na KGB, segundo seu ex-superior Nikolai Leonov (1928-2022) disse à Folha, fora um agente medíocre, mas a instituição se pautava pela ideia de controle e estabilidade.

Putin herdou a Presidência de fato na virada para o ano 2000, com a renúncia de Ieltsin, e foi eleito no março seguinte. Seu primeiro governo foi de afirmação lenta, com crises, mas a reeleição de 2004 já viu um líder com mais desenvoltura. Era estrela no Ocidente, cortejado pela estabilidade e pelos hidrocarbonetos.

A progressiva expansão da Otan e da União Europeia, engolindo o antigo sistema de satélites de Moscou na Europa, fez Putin crer que seria enganado como Ieltsin fora. Empoderado pelo boom das commodities e já tendo substituído a cleptocracia do antecessor por um sistema de grupos políticos rivais comandando setores da economia, deitou os alicerces de sua ação futura no famoso discurso de 2007 em Munique.

Lá, denunciou o mundo unipolar pós-Guerra Fria, a hegemonia americana e o que via como expansionismo destinado a tolher a Rússia. Mordeu e assoprou: no ano seguinte, em vez de dar uma canetada para poder concorrer de novo, algo que faria depois, passou o bastão presidencial ao pupilo Dmitri Medvedev.

Na prática, Putin manteve o controle, reassumindo o papel de premiê, e em 2008 foi dada a primeira salva de sua guerra contra o Ocidente, no conflito para evitar a entrada da Geórgia na Otan. Ainda assim, os quatro anos de Medvedev foram de distensão, enquanto Putin expunha o bom físico de então em manicuradas fotos sem camisa.

A volta de Putin ao poder total em 2012 não foi sem traumas: a classe média que fomentou queria ser mais europeia, com liberdades amplas. Aderente de uma visão de destino histórico da Rússia que não pode prescindir do homem forte, o presidente enfrentou protestos gigantes.

Neles nasceu a figura de Alexei Navalni, que nunca teve real envergadura eleitoral, mas que ao longo dos anos passou a encarnar um grito de revolta, só para acabar morrendo na prisão neste ano, após longo calvário judicial.

Logo depois, Putin sagrou-se presidente pela quinta vez com votação recorde. Se surgiu na primeira pesquisa do independente Centro Levada com 32% de aprovação, em 1999, hoje o líder tem 87%.

Em 2022, após oito anos de conflito local, Putin tomou a mais grave decisão de seu mandato ao invadir o vizinho. Fracassou na esperada tomada rápida do país e amargou quase dois anos de más notícias, até chegar a um momento de iniciativa no campo de batalha, ainda que com o atual revés do ataque a Kursk ameaçando sua imagem de defensor da população.

Superou o maior desafio público de toda sua trajetória em junho do ano passado, quando seu aliado mercenário Ievguêni Prigojin liderou um motim contra a malvista cúpula militar. O “chef de Putin”, associado a ele desde os anos 1990, perdeu a batalha e, logo depois, a vida num nebuloso atentado.

Tendo consolidado uma economia militarizada cuja sustentabilidade é vista com desconfiança, que ajudou a levar o desemprego para inexistentes 2,4% (era 14,6% em 1999), mas cujo aquecimento trouxe um repique inflacionário (8,6% anualizados em julho, mas longe dos 36% anuais de há 25 anos), Putin mexeu nas estruturas do poder.

Trocou ministros importantes, sem sinalizar sucessão. Por ora, só Putin desafia Putin. O russo está no zênite de suas forças, o que parece fazê-lo enfrentar aquilo que a neurociência descreve como paradoxo do poder: quanto mais poderosa é, menos disposta a pessoa é a ouvir ou a ser empática.

Isso é uma conclusão não científica, claro, baseada na opacidade do processo decisório do líder, relatado à reportagem por pessoas com acesso ao Kremlin. Mas inexistem sinais de dúvida, como os captados pelo cineasta Vitali Manski no primeiro ano do governo, quando o jovem presidente questionava a sapiência de monarcas em ficar na cadeira até morrer.

Hoje, salvo uma reviravolta imprevisível, Putin encara sozinho o caminho para ficar no Kremlin até 2036, como a Constituição por ele alterada permite em tese. Isso se não pensar além deste horizonte, quando terá 83 anos, como temem os críticos.

Inclusão produtiva e a crise do clima

VIVIANNE NAIGEBORIN — Superintendente da Fundação Arymax e MARCELO FURTADO —H ead de sustentabilidade da Itaúsa, diretor-executivo do Instituto Itaúsa e diretor da Nature Finance

As mudanças climáticas têm pautado o dia a dia do país e do mundo, com impactos gigantescos em todas as sociedades, como assistimos no caso do sul do Brasil. Não é mais possível dissociar esse tema da transição para a sustentabilidade, seja de um país, um setor ou uma corporação, e da garantia de condições de vida no futuro. O enfrentamento às mudanças climáticas exige uma reflexão sobre tecnologia, finanças, infraestrutura, mobilidade e cultura, além das questões ambientais. Entretanto, qualquer estratégia somente terá êxito se incluir um olhar social e humano nessa trajetória. Especialmente no contexto de uma crise climática que tem registrado tragédias em níveis local e internacional, cada vez mais intensas e frequentes, uma perspectiva econômica que considere a justiça social é inevitável e urgente.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que representa mais de 4 mil cientistas e 195 países, vem alertando para a forma como as mudanças climáticas têm atingido especialmente as pessoas mais vulneráveis e os ecossistemas mais frágeis. Falta ainda, porém, a definição de ações sobre o foco humano no debate da transição sustentável, como equidade, inclusão, acesso a recursos, capacitação e outros. A sustentabilidade somente será uma realidade se passar pela redução das desigualdades sociais, processo para o qual a inclusão produtiva digna de pessoas em vulnerabilidade é uma etapa importante. Além disso, o desenvolvimento da economia verde em alinhamento com oportunidades socioeconômicas pode contribuir para o enfrentamento das desigualdades.

O Brasil tem vantagens competitivas e comparativas no desenvolvimento de uma bioeconomia positiva para o clima, natureza e pessoas. Essa é certamente uma das grandes motivações que levou o país a propor este ano a Iniciativa de Bioeconomia do G20. A bioeconomia representa a possibilidade de um futuro rico em oportunidades de investimento e desenvolvimento, geração de emprego e renda.

O estudo Inclusão Produtiva e Transição para a Sustentabilidade: Oportunidades para o Brasil, realizado pelo Instituto Veredas a pedido da Fundação Arymax, B3 Social, Instituto Golden Tree e do Instituto Itaúsa, se debruçou sobre o tema e indica 19 áreas para o desenvolvimento dessa nova economia com potencial de ações de inclusão produtiva digna. Foram localizadas oportunidades nos setores de sistemas alimentares e de uso da terra, indústria, energia, cidades e infraestrutura no Brasil.

Com ações intersetoriais, o país pode ter condições de aproveitar plenamente a transição para a sustentabilidade sem deixar ninguém para trás. São aspectos que não podemos ignorar se quisermos avançar, de fato, como um país comprometido com um modelo econômico que seja sustentável, responsável e justo não só com nossos recursos, mas também com nossos cidadãos. Há papel para todos nesse processo e são urgentes políticas públicas e iniciativas privadas para criar meios de incluir produtivamente a população, especialmente os mais vulneráveis.

As empresas têm responsabilidade fundamental nesse processo, como, por exemplo, em identificar e investir na capacitação e nas competências que serão necessárias na transição para um novo modelo econômico. É fundamental, também, que atuem pelo desenvolvimento sustentável dos territórios em que estão inseridas, que promovam a apropriação justa dos benefícios pelos envolvidos nos diferentes elos de produção e que fomentem a inserção de micro e pequenas empresas em seus arranjos produtivos, entre outras medidas.

Já aos governos, cabe a formulação de políticas públicas que possam promover o direcionamento estratégico de um projeto de transição positivo para o clima, a natureza e as pessoas. É fundamental, também, a criação de critérios para os investimentos e tecnologias prioritárias, um ambiente favorável para que diferentes setores possam somar esforços no processo de transição. O poder público deve manter um olhar de longo prazo e estabelecer sistemas de desenvolvimento de capacidades que antecipem e respondam às demandas da transição, avançando na adoção de uma abordagem adaptativa para a proteção social do país.

O processo de transição para a sustentabilidade terá mais sucesso se conseguir posicionar os diferentes atores envolvidos na exploração da terra e na proteção do meio ambiente, falando uma língua comum, que tenha o enfrentamento à pobreza e às desigualdades sociais como missão prioritária. Para tal, é preciso criar caminhos em que a sustentabilidade também garanta a inclusão produtiva. As oportunidades são muitas e oferecem ao país a chance de ocupar um lugar de protagonismo nas economias do futuro, levando cada cidadão junto para essa perspectiva promissora.

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Na ata da reunião do Copom, BC reforça alerta para alta dos juros

Em tom mais duro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixou claro, na ata de sua última reunião, divulgada nesta terça-feira (6), que todos os diretores da instituição concordam em aumentar os juros, se for necessário, sem hesitação. Analistas do mercado começaram a precificar, inclusive, aumento da taxa básica da economia (Selic) na próxima reunião do colegiado, marcada para os dias 17 e 18 de setembro, especialmente se o dólar continuar valorizado como atualmente, em torno de R$ 5,70.

Na reunião dos dias 30 e 31 de julho, o Comitê decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica da economia em 10,50% ao ano. A ata também ficou maior do que a anterior em sete parágrafos e reforçou a preocupação com a piora dos cenários interno e externo e do quadro fiscal. Não à toa, o uso da palavra “risco” passou de seis, no Copom de junho, para 11, no de julho.

No documento, o grupo de nove diretores do BC ressaltou que “o momento corrente é de ainda maior cautela e de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras”. “À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, destacou a ata, no parágrafo 25.

grafico Copom

Apesar de o Copom ser bastante enfático ao admitir que poderá subir juros, Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, acredita que o BC ainda vai ter cautela antes de começar a aumentar a Selic. “Existe uma sinalização de que, se o cenário piorar, eles vão subir a taxa de juros, mas que, neste momento, vão aguardar mais informações para saber se a manutenção da taxa é compatível com o cenário de ancoragem das expectativas e convergência da inflação. Então acho que eles vão aguardar mais informações até por conta da volatilidade do cenário externo. Mas a ideia é guardar informações e, eventualmente, tomar uma decisão. Se for ter que tomar uma decisão diferente, é subir juros”, resumiu.

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, avaliou que o Comitê mostrou na ata que “se o câmbio não reagir, um ciclo de alta, começando em setembro, será inevitável”. “A ata do Copom transmitiu a mensagem que o comunicado não entregou: ficou claro que todo o comitê, não apenas alguns membros, está pronto para aumentar a Selic caso as tendências recentes nas expectativas de inflação e na dinâmica da taxa de câmbio persistam”, destacou o economista do Itaú em relatório aos clientes.

A decisão do Copom foi anterior à piora do cenário externo, que derrubou as bolsas internacionais em meio ao aumento dos temores de uma recessão nos Estados Unidos, a maior economia global e que fez o dólar disparar, na segunda-feira, para R$ 5,74.

Comunicação dura

“A comunicação (da ata do Copom) foi bastante dura, o Banco Central assumiu a existência de riscos assimétricos para cima no cenário de inflação e concluiu que o processo de desinflação arrefeceu, tornando a convergência da inflação à meta desafiadora. Por fim, manteve o cenário externo desafiador e debateu as estratégias para a convergência da inflação: manter o juros atual por muito tempo ou ajustá-lo, dependendo da evolução dos dados”, afirmou Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital. Apesar dessa sinalização, ela manteve a projeção de Selic estável em 10,50% até dezembro de 2024.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, ressaltou que o tom mais duro da ata do Copom em relação ao comunicado de quarta-feira passada incluiu a alta da Selic no cardápio dos próximos passos e no novo balanço de riscos, “todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação”, além de vários membros enfatizarem assimetria.

“Os novos dados e eventos vão determinar o ambiente global nas próximas semanas: risco de recessão nos EUA é desinflacionário, apesar de machucar o câmbio dos emergentes”, disse Gonçalves. Ele também manteve em 10,50% a previsão para a taxa Selic até o fim do ano.

O estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sergio Goldenstein, considerou o parágrafo 25 como o “mais importante da ata”, porque, nele, o Copom afirma que é desafiador o cenário marcado pelas projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação. “Menciona que a definição dos próximos passos da política monetária dependerá bastante do desenrolar do cenário, sem se comprometer com estratégias futuras. Assim, aponta que avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a manutenção da taxa Selic por um período suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante e, de outro lado, unanimemente reforça que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, afirmou.

Cenários

Na ata, o Copom também reforçou a preocupação com a questão fiscal e destacou que a percepção dos agentes financeiros sobre o aumento dos gastos públicos. De acordo com ata, “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.

“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, alertou o colegiado. A ata repetiu o trecho de notas anteriores destacando o fato de que “políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”.

Câmbio

No cenário de referência para a trajetória da taxa de juros, o Comitê elevou a taxa de câmbio para o dólar de R$ 5,30 para R$ 5,55 e adotou a “hipótese” de volta da bandeira tarifária verde entre dezembro de 2024 e de 2025. O colegiado ainda destacou, na ata, que manteve o entendimento usual, sem qualquer alteração, “de que o horizonte relevante para a política monetária é de seis trimestres à frente, correspondendo, agora, ao primeiro trimestre de 2026”, e reconheceu que a inflação segue acima do centro da meta, de 3%, mas dentro do limite de tolerância de 4,50%.

“Em ambos os cenários apresentados, de referência e alternativo, há um processo de desinflação ao longo do horizonte, mas a projeção para o horizonte relevante está acima da meta de inflação de 3%”, destacou a ata. “O Comitê avalia que o cenário externo se mantém adverso. A menor sincronia nos ciclos de queda dos juros, já iniciados em alguns países avançados e ainda por iniciar em outros, contribui para a volatilidade de variáveis de mercado”, ressaltou o texto.

A mediana das projeções de inflação do mercado coletadas no boletim Focus, do Banco Central, passou para 4,12%, em 2024, e para 3,98%, em 2025. Para 2026, a previsão foi mantida em 3,60%.

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Belo Horizonte recebe o Festival Internacional de Acordeon

Belo Horizonte recebe o Festival Internacional de Acordeon (Festival Internacional de Acordeon (Foto: Élcio Paraíso/ Bendita Conteúdo))

Hoje, sábado, 27 de julho, é a última chance para você prestigiar o Festival Internacional de Acordeon, que retorna à Belo Horizonte, com sua sexta edição, em uma mostra que destaca a diversidade do instrumento. O evento acontece no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, que recebe esse tradicional projeto dedicado ao acordeon.

No universo da música, o acordeon é considerado um instrumento versátil por ser usado em muitos gêneros musicais. O som diferenciado do acordeon, pode ser ouvido desde as músicas folclóricas até o refinamento da música clássica.

O Tchneng e a evolução do acordeon

Como gosto de informação, li que o “Tchneng”, que abrasileirado vira “Cheng”, segundo consta, foi o instrumento pai de vários outros, inclusive o acordeon! Falar do “Tchneng”, nos remete a China, onde o instrumento foi criado, por volta de 3 mil anos antes de cristo.

O “Tchneng”, era constituído por uma palheta de bambu. Presa aos lábios ela vibrava com o auxílio dos dedos e aproveitava a ressonância acústica da boca!

Hoje em dia, o acordeon cromático é um tipo de instrumento que usa teclas para produzir notas e enfeita muitos gêneros musicais, como já comentamos, e o acordeon baixo é um instrumento usado para tocar as linhas mais graves da música, naturalmente, e é usado habitualmente em conjuntos de MPB e também em orquestras.

O acordeon no Brasil

Apesar de ser um instrumento bastante conhecido na atualidade, é sempre bom lembrar, que o acordeon chega ao Brasil trazido pelos colonizadores e imigrantes europeus oriundos principalmente da Itália e da Alemanha e por isso, o instrumento é hoje, considerado um dos símbolos do Rio Grande do Sul, haja visto que a colonização europeia predominou nos estados do sul do país.

Se formos usar a terminologia correta, o nome oficial do instrumento é “Acordeão”, mas como estamos em um país com dimensões continentais e povoado por uma gente extremamente criativa, o mesmo instrumento é chamado também por Acordeon, Sanfona e Gaita, isso dependerá muito de qual região o instrumento for usado. No entanto, vale fazer justiça à pesquisa e ressaltar que ao chegar no Brasil por mãos europeias, os primeiros instrumentos eram chamados de “Concertina”, um acordeão cromático de 120 botões.

O acordeon é um instrumento que se adaptou a várias culturas, inclusive à brasileira. Com uma peculiar complexidade que proporciona ao músico a execução de melodias suaves a harmonias vibrantes em diversos timbres, o instrumento vem conseguindo, há séculos, em diversos lugares do mundo, comandar a festa e encantar o público.

Pois bem, agora que já conhecemos o instrumento, vamos ao encanto do Festival Internacional de Acordeon.

Festival Internacional de Acordeon

O evento é realizado pela Veredas Produções e pelo acordeonista Célio Balona, um dos ícones da música mineira, e tem o patrocínio do Instituto Unimed-BH, por meio de recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

Segundo os produtores, “Depois de um hiato de seis anos, o Festival Internacional de Acordeon – FIA-BH.MG.Brasil está de volta. Nos dias 26 e 27 do mês de julho, este tradicional projeto dedicado ao instrumento chega para revisitar sua história e retomar seu lugar na agenda cultural de Belo Horizonte, colocando a cidade mais uma vez no mapa dos principais festivais mundiais do gênero.”

Everton Coroné (Foto: Élcio Paraíso/ Bendita Conteúdo)

Em um formato de mostra, em 2024 o Festival Internacional de Acordeon reúne atrações que fizeram parte da sua história, sempre mirando em demonstrar a diversidade do acordeon. Serão, ao todo, quatro shows, sendo uma atração internacional, uma nacional e duas anfitriãs. No dia 26 de julho, subiram ao palco o mineiro Everton Coroné e o gaúcho Bebê Kramer, em duo com o violonista Pedro Franco. Hoje, dia 27, sábado, Célio Balona convida Luísa Mitre e Christiano Caldas, em uma formação interessante de teclas e acordeons.

Quem encerra a programação é o virtuoso argentino Aldo Taborda, em apresentação solo.

Em maio de 2013, a Veredas Produções realizou o primeiro Festival Internacional de Acordeon BH.MG.Brasil (FIA) no Grande Teatro do SESC Palladium, em Belo Horizonte com enorme sucesso de público e crítica, com grande repercussão nacional e internacional. Um Festival realizado pela Veredas Produções e idealizado pelo instrumentista ícone do instrumento em Minas Gerais, Célio Balona, e pela saudosa produtora cultural, responsável por parte importante da popularização da música instrumental do Brasil e do mundo na capital mineira, Rose Pidner, com quem tive a sorte de atuar em algumas parcerias por meio da Associação dos Músicos de Minas Gerais.

Ao longo das cinco edições anteriores o Festival Internacional de Acordeon apresentou a um público estimado em mais de 10 mil espectadores, importantes e referentes acordeonistas de várias nacionalidades, tais como, Itália, França, Argentina, EUA, Rússia e Portugal, em ricos encontros com a cultura do acordeon de várias regiões do Brasil, a exemplo de Renato Borghetti (RS), Toninho Ferragutti (SP), Lulinha Alencar (RN), Mestrinho (SE), Beto Hortis (CE), Oscar dos Reis (RS), Chico Chagas (AC), dentre muitos outros, tendo sempre contado com grandes talentos locais, liderados pela curadoria e direção artística de Célio Balona.

Ontem se apresentaram Everton Coroné e Bebê Kramer, que convidou Pedro Franco. Everton Coroné, é um acordeonista mineiro com quase 25 anos de carreira e é um destaque de sua geração nesse instrumento, apresentando um suingue bem brasileiro, baseado em ritmos tradicionais como o xote e o baião. Formado na escola do pé de serra, circula por incontáveis bailes, festivais, praças e casas de show no Brasil. Também já se apresentou no exterior com 13 turnês internacionais e mais de 150 apresentações fora do país.

Bebê Kramer e Pedro Franco (Foto: Aralume Fotografia)

Além da música, também já levou sua sanfona para as artes cênicas, trabalhando com várias produções de relevância nacional como “Galanga Chico Rei”, de Paulo Cesar Pinheiro, protagonizado por Maurício Tizumba, e “Jacksons do Pandeiro”, da Cia. Barca dos Corações Partidos (RJ), entre outros. Para o Festival Internacional de Acordeon BH.MG.Brasil (FIA), Coroné se apresenta em quinteto, acompanhado dos músicos Robson Junio (zabumba), Babu Xavier (triângulo), Daniel Guedes (percussão) e Samy Erick (guitarra).

Foi nas rodas de choro, um estilo que representa a matriz da música instrumental brasileira, que o acordeonista Bebê Kramer e o violonista Pedro Franco se conheceram. Ambos traziam na bagagem a origem no Rio Grande do Sul e uma sonoridade que transpirava potência, raça e verve, a ponto de serem considerados “dois gaúchos loucos tocando como demônios” pelas cordas de Franco e o acordeon de Kramer.

Repertório

O repertório contemplou temas compostos pela dupla em parceria, bem como músicas autorais de seus trabalhos solo, além de releituras de grandes compositores e mestres do Brasil e do mundo em arranjos surpreendentes.

Bebê Kramer, com mais de 20 anos de carreira, é considerado no Brasil e no exterior um dos mais completos acordeonistas de sua geração. Pedro Franco é compositor e multi-instrumentista que tem se destacado como um virtuose e um dos mais celebrados músicos de sua geração na cena musical brasileira. Com seu violão de sete cordas e o bandolim de 10, além de diversos outros instrumentos, o jovem artista tem atraído a atenção e o respeito de renomados músicos brasileiros.

Programação de hoje

Hoje, sábado 27 de julho, Célio Balona um dos idealizadores do Festival Internacional de Acordeon BH.MG.Brasil (FIA), convida Luísa Mitre e Christiano Caldas.

Célio Balona (Foto: Élcio Paraíso/ Bendita Conteúdo)

Célio Balona é um dos mais reconhecidos acordeonistas mineiros em todo o Brasil, com grandes passagens também pelo exterior e notório conhecimento da cena do instrumento no mundo todo, acumulado em anos de presença em diversos festivais internacionais que serviram de inspiração para o Festival Internacional em Minas Gerais.

Atualmente com 85 anos de vida, tem uma carreira sólida, que começou quando ainda tinha 15. Para a apresentação nesta edição do festival, ele propõe um repertório de clássicos da música nacional e internacional executados por uma formação incomum, com dois pianistas de carreira e acordeonistas de coração e técnica: Luísa Mitre e Christiano Caldas, que em trio irão se entrelaçar pelas teclas e os foles, intercalando os instrumentos com arranjos e direção de Balona.

Sobre os convidados

Luisa Mitre (Foto: Élcio Paraíso/ Bendita Conteúdo)

Luísa Mitre é uma das representantes das gerações mais jovens de instrumentistas mineiros. É também compositora, arranjadora, integrante do grupo Toca de Tatu e do Duo Mitre, além de vencedora de prêmios importantes como o BDMG Instrumental e Marco Antônio Araujo, este com seu disco solo, “Oferenda”.

Christiano Caldas (Foto: Élcio Paraíso/ Bendita Conteúdo)

Christiano Caldas começou sua carreira nas bandas de baile, como autodidata, e é também produtor musical e engenheiro de áudio. Acompanhou centenas de músicos, entre eles, gente do calibre de Milton Nascimento, Flávio Venturini, 14 Bis, Jane Dubock, Bebel Gilberto, Hamilton de Holanda, Sá & Guarabyra, Roberto Menescal (RJ), Chico Amaral, Yamandu Costa e Wagner Tiso. Em 2022, lançou seu primeiro disco, “Afinidades”, com arranjos seus para composições de mestres da música.

Aldo Taborda (Foto: Élcio Paraíso/ Bendita Conteúdo)

E quem encerra esta brilhante programação é Aldo Taborda, o Campeão argentino do Festival de Acordeon em San Jorge, Santa Fé, e classificado em 4º lugar na categoria Astor Piazzola no principal festival de acordeon do mundo, que acontece em Castelfidardo (Itália).

Aldo Taborda possui longa e sólida carreira e é reconhecido pelo seu estilo único e apaixonado de tocar. Em 2008, foi apontado pelo Diário Uno de Entre Rios e em 2009 pela Academia Nacional do Tango da cidade do Rosario, como o melhor trabalho solo instrumental. No Festival de Acodeon, ele se apresenta solo, trazendo um repertório composto por temas próprios, muito calcados no tango contemporâneo, e traz também as suas versões para obras de seu grande referencial, o mestre Astor Piazzolla, como “Libertango” e “Adiós Nonino”, além de arranjos para outros clássicos da música latino-americana.

Sobre o fomento cultural

Lançando mão dos benefícios e do incentivo fiscal por meio da Lei Municipal de Incentivo a Cultura de Belo Horizonte, o Festival Internacional de Acordeons é patrocinado pelo Instituto Unimed-BH.

O Instituto Unimed BH, que completou 20 anos em 2023 é uma associação sem fins lucrativos, criada em 2003 e, desde então, desenvolve projetos socioculturais e socioambientais visando à formação da cidadania, estimulando o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, fomentando a economia criativa, valorizando espaços públicos e o meio ambiente.

Dando um belo exemplo de fomento cultural, ao longo de sua história, o Instituto destinou cerca de R$ 190 milhões por meio das leis de incentivo municipal e federal, fundos do idoso e da criança e do adolescente, com o apoio de mais de 5,6 mil médicos cooperados e colaboradores da Unimed-BH. Em 2023, mais de 20 mil postos de trabalho foram gerados e 2 milhões de pessoas foram alcançadas por meio de projetos em cinco linhas de atuação: Comunidade, Voluntariado, Meio Ambiente, Adoção de Espaços Públicos e Cultura, que estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.

É sempre bom dar destaque a quem incentiva as práticas culturais, melhor ainda, quando o incentivo vem cercado de benefícios diversificados e amparados nos princípios da sustentabilidade.

Anime aí e vá prestigiar este grande evento. O Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, fica na Rua da Bahia, 2.244. Os ingressos podem ser adquiridos por R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada) na bilheteria do teatro ou via Sympla. Mais informações podem ser obtidas pelo 31 3516-1360.

No mais, te desejo uma boa noite de música e aproveito para agradecer a minha querida Mara do Nascimento, outra fera da música instrumental mineira, que me deu a dica para esse tema de hoje.

Até a próxima!

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10 praias para conhecer na República Dominicana

10 praias para conhecer na República Dominicana (Passeios na Ilha Saona incluem mergulhos e avistamento de tartarugas (Foto: Divulgação))

Enquanto o fim de junho marca o início do inverno e das férias escolares no Brasil, é nessa época em que o Caribe atinge suas temperaturas mais quentes, convidando os turistas a aproveitar suas praias de água morna. Na República Dominicana, distante apenas 7 horas de voo direto do Brasil, o turista encontra mais de 200 opções de praias, incluindo mais de 1,6 mil quilômetros de costa, com opções de locais para mergulho, prática de surfe, windsurfe, entre outros esportes aquáticos. Conheça dez praias para se visitar na República Dominicana para escapar do inverno brasileiro.

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Ilha Saona

No extremo sudeste da República Dominicana está localizada a Ilha Saona, um refúgio tropical protegido com 110km de costa. Os passeios em Saona podem ser feitos de lanchas ou catamarã e incluem mergulhos na piscina natural de Palmilla e visitas a Mano Juan, a única parte habitada da ilha. A Ilha Saona é também um local de avistamento de tartarugas.

Playa Frontón

A Praia Frontón fica localizada aos pés de um penhasco rochoso de 90 metros utilizado para a prática de escalada e possui diversas cavernas que podem ser exploradas pelos turistas. O local também é um polo de mergulho, devido aos belíssimos corais que compõem a paisagem. A icônica praia serviu de cenário para diversos episódios do seriado “Survivor”.

Playa Morón

Uma das mais isoladas e históricas de Samaná, a Praia Morón possui aproximadamente 6 quilômetros de extensão e reúne diversas árvores frutíferas em sua costa. O local é um sítio histórico que abriga cânones franceses originais do século XVIII usados pelo exército de Napoleão em 1802, quando a França ocupou o local.

Bahía de Las Águilas

Reconhecida como a praia mais bonita da República Dominicana, possui oito quilômetros de extensão e ostenta águas azul-turquesa cristalinas e paisagem cercada de formações rochosas. Protegida como parte do Parque Nacional do Jaraguá, é um verdadeiro refúgio natural, sem a presença de hotéis, lojas ou restaurantes.

Playa El Valle

Localizada ao norte de Santa Bárbara de Samaná, a praia é cercada por um vale de penhascos. Suas águas esverdeadas abrigam diversas canoas de pescadores que trazem frutos do mar frescos que compõem o almoço nos restaurantes locais.

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Playa Juanillo

Ranqueada como uma das melhores praias da República Dominicana, Juanillo é um famoso ponto de prática de esportes como mergulho com snorkel, caiaque e kitesurfe. No local há diversos bares e restaurantes que servem refeições e coquetéis sentados ou na espreguiçadeira.

Playa Blanca

Também é um polo de esportes aquáticos. Nela, o turista encontra aulas de kitesurfe, stand up paddle, mergulho e snorkeling. Anualmente, a Playa Blanca sedia o Kite Fest, evento de kitesurfe que lota a praia com surfistas de todas as partes do mundo. A Playa Blanca abriga o Puntacana Resort & Club e o famoso restaurante Playa Blanca.

Macao

É a praia favorita dos surfistas, por conta de suas ondas e ventos. Nela, o turista encontrará aulas de surfe para todos os níveis e restaurantes conhecidos por servir alguns dos melhores pratos de peixe ao estilo dominicano.

Dominicus

Trata-se da primeira praia caribenha a receber a certificação Bandeira Azul – prêmio internacional para praias que cumprem diversos requisitos de sustentabilidade e qualidade ambiental. Possui uma das maiores faixa de areia entre todas as praias da República Dominicana e águas calmas que possibilitam o avistamento de corais. Na sua orla, o turista encontra diversos restaurantes e barracas de artesanato local.

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Playa Esmeralda

Uma das praias mais isoladas da República Dominicana, onde a presença humana é praticamente inexistente. Aqui, não há restaurantes, barracas ou espreguiçadeiras. É um local para quem busca tranquilidade e contato com a natureza. Possui águas calmas com pouca correnteza, além de estar rodeada por coqueiros. Perto da Playa Esmeralda fica localizada a Montanha Redonda, um dos principais atrativos da cidade de Miches, um local perfeito para avistar o pôr do sol e para ver a paisagem local.

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