As mudanças climáticas são uma realidade global e têm afetado a população em todos os continentes. Mas o que também está evidente é que as consequências do fenômeno atingem de forma desigual as pessoas, agravando as diferenças sociais. Hoje, barrar o avanço dessas discrepâncias é tão importante quanto combater a degradação do meio ambiente.
A justiça climática — conceito cada vez mais defendido por cientistas e especialistas de diversas áreas — busca conscientizar sobre a desigualdade dos impactos do aquecimento do planeta e dos eventos extremos. Com o objetivo de fazer com que parte dos investimentos seja destinada para proteger grupos de maior vulnerabilidade, o tema ganha espaço na sociedade.
Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que entre 3,3 bilhões e 3,6 bilhões de indivíduos estão em um contexto de alto risco diante da crise ambiental. Comunidades historicamente marginalizadas por gênero, raça e renda são as principais afetadas. Além de uma perda imensa da biodiversidade, o que piora a qualidade de vida dessas coletividades, a quantidade de vítimas é assustadora. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) calcula que mais de 2 milhões de mortes foram causadas por desastres naturais — e esse número se refere ao período de 1979 a 2019, sem considerar os recentes episódios registrados pelo mundo.
O agravamento da crise, portanto, exige ações que unam ciência e políticas públicas, mas sem deixar de ouvir os atingidos. As soluções devem ser elaboradas respeitando o contexto do cotidiano das pessoas, sob pena de não surtirem o resultado necessário. A descarbonização da economia e o desenvolvimento sustentável são pautas macro e urgentes, porém não se pode deixar de lado, por exemplo, a retirada de comunidades de locais de risco.
Deficiências estruturais históricas precisam ser sanadas no Brasil e em outros países. E, nesse mapa, equilibrar responsabilidades e obrigações tem de ser uma tarefa encarada por lideranças globais. Programas de assistência financeira, desenvolvimento de tecnologias de adaptação, criação de mecanismos de compensação ambiental e distribuição de recursos precisam sair da esfera de debates e chegar às populações.
Os conflitos das grandes potências diante de decisões que reduzam os danos climáticos tornam-se fatais para o futuro do planeta. Fracassos como o visto na COP29, ano passado, em Baku, no Azerbaijão, quando não se conseguiu estabelecer um acordo satisfatório para o financiamento das ações de combate às mudanças no clima em nações menos desenvolvidas, não são mais possíveis.
A justiça climática precisa ser um compromisso das nações, envolvendo governos, iniciativa privada e sociedade. No Brasil, não faltam exemplos emblemáticos de desastres climáticos potencializados por desigualdades históricas e má gestão do território. Diante desse contexto complexo e acelerado, é fundamental discutir as intensidades desiguais das consequências dos fenômenos. O país encara desafios enormes — alguns deles herança de séculos. Enfrentar as contradições e atualizar a agenda para alinhar desenvolvimento com sustentabilidade são pautas imprescindíveis. Mas sem perder o foco do direito de todos por uma vida digna.