Garzón celebra 10 anos no Brasil, com lançamento de vinho laranja; vinho de aniversário é um tinto potente do Uruguai
vinícola uruguaia Garzón celebra uma década no mercado brasileiro, um de seus principais consumidores. O CEO da marca, Christian Wylie, revela que nos primeiros meses de 2024, 40 mil brasileiros foram à Garzón, que fica em Maldonado. Desde que começou a vender seus rótulos para cá, a bodega teve a World Wine como importador: dos 32 vinhos produzidos, são comprados 25:
— Celebramos 10 anos da presença da Garzón no Brasil. É uma vinícola super jovem ainda no mundo do vinho, com sucesso mundial. São apenas 15 anos da primeira plantação da Tannat. Queremos comemorar aqui no Brasil, um mercado que está no meu coração. Este ano, recebemos 40 mil brasileiros na vinícola. São pessoas que vão conhecer, degustar e comprar nossos vinhos. É um círculo virtuoso. Tem gente de São Paulo, do Rio, do Nordeste, e obviamente do Rio Grande do Sul, que vai de carro — destaca Christian Wylie, em visita ao Rio para comemorar os 10 anos da Garzón no país.
Christian Wylie lembra que o genial crítico de vinhos britânico Steven Spurrier destacou que a Garzón havia conseguido o status de produtor icônico em menos de uma década, diferentemente de outros grandes produtores como a argentina Catena e a chilena Chadwick, que levaram mais de uma geração.
— Acredito que essa afirmação é o melhor balanço. Construir uma vinícola 100% Leed Certified (certificação de sustentabilidade) nestes 10 anos; estabelecer todo o portfólio de vinhos, incluindo um vinho na Place de Bordeaux; desenvolver Alvarinho como o maior produtor das Américas, o melhor vinho branco da América do Sul segundo o Descorchados; um rosé que é um sucesso incrível. O enoturismo premiado no top 10 de vinícolas para visitar. Ficamos acima do Château Margaux.
O executivo detalha que os vinhos da Garzón estão em 60 países:
— A grande surpresa é que nosso principal consumidor é o Uruguai. Nunca pensamos nisso. O segundo principal destino é o Brasil. O terceiro é os Estados Unidos. Depois vêm países como Japão, Canadá, Suécia. Acho que é um reconhecimento, que vai da Decanter, no Reino Unido, à Wine Spectator, nos Estados Unidos, passando por especialistas do Japão e do Brasil. Temos a liderança de Alejandro Bulgheroni, que aceitou o risco. Em 10 anos, construímos uma nova apelação no mundo do vinho. Não existia Garzón nem Maldonado. E temos a sabedoria de Alberto Antonini (consultor do projeto). Ele não quer assinar os rótulos, mas dá confiança e empodera ao enólogo Germán Bruzzone.
Além dos 10 anos da Garzón, serão comemorados os 25 anos da World Wine. O vinho escolhido para a celebração foi o Single Vineyard Petit Verdot:
— Somos a principal marca da importadora World Wine. E o vinho que vai marcar esse aniversário é nosso Petit Verdot, um vinho de muita personalidade.
Wylie também destacou a chegada ao Brasil do novo Field Blend Orange. O vinho nasce da união de cinco variedades: Riesling, Verdejo, Vermentino, Petit Manseng e Alvarinho. Acompanha bem queijos maduros, frutos do mar e comida asiática.
— Ele está disponível há meses na vinícola, no nosso restaurante. Muitos brasileiros conhecem. Apresentamos o vinho no Descorchados em abril, mas a importação atrasou. O laranja é polêmico. Todo mundo fala de vinhos naturais, de laranja, que tem que ser hippie, mas não é esse caso. Isso é aproveitar a tendência de apresentar vinhos defeituosos. Essa é forma como os vinhos brancos eram feitos no século XIX. Basicamente, como o vinho tinto, com as cascas.
O executivo explica que as uvas são colhidas no mesmo dia:
— No nosso caso, as variedades estão em parcelas diferentes, mas são colhidas no mesmo dia e cofermentadas com as cascas em concreto e guardadas também com as cascas por 100 dias. É muito, mas temos tecnologia para manter o vinho resfriado em aço inoxidável. Quando engarrafamos, não adicionamos sulfito. É como se fazia no passado, um vinho natural.
Wylie apresentou ainda o Petit Clos Pinot Noir 2020, feito com a parcela 87 dos vinhedos da Garzón:
— É a parcela que, para nós, dá a melhor fruta de Pinot Noir. É um clone da Borgonha, e o vinhedo é plantado com orientação sudeste. Pega um pouco de sol de manhã, e o resto do dia está à sombra. As uvas são colhidas num momento de máxima frescura da fruta, evitamos álcool excessivo, sobrematuração. E a Garzón é uma apelação fria, extrema, com muito vento que vem do Sul, da Antártica, muita chuva. É mais parecido à Europa. Então você vai encontrar um Pinot Noir com uma cor delicada e uma fruta, um perfume e um corpo mais parecidos aos Pinot Noirs da Borgonha. Como é uma só parcela, elaboramos só 3.500 garrafas para o mundo todo. É muito gastronômico, leve, fácil de tomar e com muito equilíbrio.
Ele explica que o vinhedo de Petit Verdot foi plantado na mesma colina, só que voltado para o Noroeste.
— Isso permite a uva amadurecer, protegida do frio, exposta ao sol. É o oposto do Pinot Noir. A Petit Verdot, em geral, precisa de um ciclo longo para amadurecer. É a uva tinta que colhemos mais tarde. A Petit Verdot é considerada a arma secreta dos grandes châteaux de Bordeaux, de Médoc. Existem poucos vinhos 100% Petit Verdot. Em geral, são de países do Novo Mundo: Estados Unidos, Chile, Austrália, Argentina. Mas são todos climas secos, desérticos, o que deixa o Petit Verdot como um fisioculturista. Mas na Garzón, pela latitude, pelo clima e pelo solo, é muito parecido com Médoc. É equilibrado, com notas de couro, grafite, com um pouco de moca. É colhido manualmente, fermentado em cimento com levedura nativa, com gelo seco para uma fermentação fria. Depois passa ao carvalho francês, sem tostar, de 5 mil litros, por 14 meses.
Já o Balasto é um blend feito apenas nas melhores safras, com as uvas das melhores parcelas de castas tintas.
— No caso do ano 2020, foi a melhor safra histórica do Uruguai, a melhor safra em 60 anos. O que fez com que tenha sido uma colheita exata, perfeita, mas no ano da pandemia. Estávamos na metade da festa da vindima, da alegria. Com a Covid, tivemos que colher com máscaras, o que fez tudo mais difícil. Mas o Balasto é um espetáculo, a melhor versão, o que é bastante coerente porque o vinho vai melhorando. Com o tempo, as raízes das vinhas estão cada vez mais penetradas na rocha-mãe, no granito, e isso o faz mais mineral, mais etéreo.
Wylie explica que o Balasto 2020 é um corte de Tannat, Cabernet Franc e Petit Verdot.
— Tem a frescura e o balsâmico do Cabernet Franc, sem ter notas pirazínicas (do pimentão). Tem a potência do Tannat; e a elegância, a capacidade de guarda e o equilíbrio do Petit Verdot. É um vinho que elaboramos com muito cuidado, colhemos quando as sementes da uva estão crocantes, quando o tanino está maduro. Não sobremaduramos a uva, não queremos muito álcool nem sobre-extraímos. Todas são vinificadas em concreto em separado. Depois o amadurecimento ocorre em carvalho francês, sem tostar. Na hora de fazer o corte, seguimos o Norte que dita Alejandro Bulgheroni, o proprietário. Ele quer equilíbrio, o que é o mais difícil.
Christian Wylie enfatiza que o Balasto é a obra-prima da Garzón, com as assinaturas do premiado consutor internacional Alberto Antonini e do também premiado enólogo uruguaio Germán Bruzzone:
— O Balasto é um desafio fantástico. Buscamos expressar o lugar, a acidez natural que faz com que seja um vinho muito gastronômico, a mineralidade que faz com que seja super leve, fácil de tomar, com muita fruta, textura, estrutura.
Após ser engarrafado, o vinho ainda passa um ano na vinícola, antes de ser lançado na França, na Place de Bordeaux:
— É o único vinho do Uruguai que se vende com negociantes. Foi o terceiro, no seu momento, da América do Sul. Mas foi o primeiro na place, sem padrinho, sem a ajuda de um francês. Fomos sozinhos com a garrafa. É uma honra estar naquele local de máximo prestígio. Obviamente, significa que você tem que estar perfeito, trabalhando muito e construindo a marca.
Para o Brasil, a World Wine tem uma alocação de 3 mil garrafas do Balasto, das 27 mil produzidas.
Christian Wylie recebeu em 2023 o prêmio Wine Executive of the Year, da Wine Enthusiast no Wine Star Awards, considerado o “Oscar” do vinho nos Estados Unidos.
— Eles premiaram pela primeira vez um executivo que não era americano. Recebi o prêmio basicamente por tudo o que a Garzón conquistou, trazendo ao mundo este estilo de Tannat, fácil de beber, agradável. O presidente do Uruguai diz que o melhor embaixador do Uruguai é o Balasto, e presenteou o presidente francês Emmanuel Macron com um. Também há nosso Alvarinho e nosso Rosé. E apresentamos o terroir de Maldonado, além da sustentabilidade e o enoturismo.