Povos originários são os mais prejudicados no acesso ao mercado de trabalho

O histórico social e cultural do Brasil, que ainda tem um percentual baixo de indígenas nos meios corporativos e em oportunidades de trabalho, é algo pelo qual precisamos lutar com mais afinco. Quero dividir com vocês dados que, muito mais que um chamamento, nos direcionam para práticas de diversidade, para que ninguém fique de fora.

É sempre oportuno revisitarmos nosso passado. Entendermos em que momento estamos, para que as ações necessárias sejam de fato assertivas e condizentes com a necessidade de toda a sociedade. Acredito que a cultura de um povo e a força de seus ancestrais tenham relevância significativa nesse processo de práticas inclusivas e de entendimento da diversidade de culturas no espaço de trabalho.

De acordo com a pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em 2020, sobre os efeitos da pandemia no mercado de trabalho, houve uma queda dos rendimentos de 27,9% entre os mais pobres e de 17,5% para os 10% mais ricos. Quando há um recorte de grupos minorizados entre indígenas, analfabetos e jovens entre 20 e 24 anos, o percentual dos indígenas fica na frente, com queda de 28,6%.

Esse dado aponta que, quando há um evento global como a Covid-19, que ainda hoje se reflete na sociedade, os que estão na base da pirâmide ficam ainda mais vulneráveis. E é por isso que ressalto aqui a necessidade de olharmos para este cenário e praticarmos a inclusão continuamente.

Historicamente, o processo de representação dos povos originários na politica só aconteceu em 1983, com a eleição do cacique Mário Juruna, da aldeia xavante Namakura, primeiro indígena eleito deputado federal (PDT). Depois dele, somente em 2018 (35 anos após), Joenia Wapichana — presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) — foi eleita deputada federal (Rede-RR).

Já em 2020, de acordo com o portal da Câmara dos Deputados — Parlamento Jovem Brasileiro, dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e do Instituto Socioambiental (ISA) apontam que, na eleição municipal, foram eleitos 213 vereadores, 10 prefeitos e 11 vice-prefeitos de origem indígena.

Quando debatemos sobre representatividade em todos os polos e pontuamos sobre a relevância em não deixar ninguém de fora da tomada de decisão, para que todos sejam contemplados de maneira equitativos, os resultados são condizentes com as práticas.

Hoje, 305 povos indígenas habitam o território brasileiro, como aponta a Funai. Em 2021 nasce a Cooperativa de Agricultores e Produtores Indígenas do Brasil (Coopaibra) com o objetivo de gerar sustentabilidade, emprego e renda nas terras indígenas.

É possível observar uma movimentação social e nos meios de comunicação referente aos indigenistas quando o assunto é terra. No entanto, tratando-se do meio corporativo e de oportunidades de trabalho, ainda percebe-se uma morosidade para alcançar essa representatividade de forma mais ampla.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta dados do Censo de 2022, segundo o qual 56,10% dos povos originários e seus descendentes têm menos de 30 anos. Esse percentual é relevante para que possamos analisar outro dado, o de que apenas 1% da população indígena está inserida no mercado de trabalho formal, e destes, apenas 0,1% em cargos de liderança.

As informações são do Instituto Ethos e deixam evidente a invisibilidade em que se encontram os povos originários quando o assunto é trabalho.

É necessário arquitetar novas práticas de inclusão e fazer valer o direito ao fomento da cultura universal, para que, no mercado de trabalho, a representação esteja de acordo com a população geral, ampliando assim a troca de saberes, motivando a sociedade a dividir conhecimento, somar experiências e expandir a economia para que todos sejam contemplados.

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