Controle de pragas foca na sustentabilidade
Um conceito que abrange um menor impacto ambiental e uma maior racionalidade na utilização de pesticidas é uma das formas de descrever o manejo integrado de pragas. O pesquisador Antônio Ricardo Panizzi, que atua na Embrapa há 42 anos e trabalha com entomologia (estudo dos insetos), explica que, antes de ser adotada essa prática, as aplicações de venenos para o controle de pestes, especialmente dos insetos, eram realizadas “na base do calendário”.
“O sujeito começava a aplicar sem saber se a praga estava presente na lavoura ou não”, recorda Panizzi, que foi consultor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e é delegado internacional de entomologia (2016-2018) pela Sociedade Entomológica do Brasil. O pesquisador ressalta que com o manejo integrado, uma ideia desenvolvida mundialmente, principalmente, pelos norte-americanos, são feitas amostragens e levantamentos do número de insetos. Após a conclusão dessa avaliação, somente é decidido pelo uso dos inseticidas quando o nível de dano econômico justifica a medida.
Panizzi aprofundou-se na análise do manejo integrado em relação aos percevejos, que atacam culturas como a soja, milho, trigo, algodão etc. O pesquisador da Embrapa dedicou-se ainda a estudar a bioecologia, observando as pragas não apenas quando estão presentes nas culturas, mas também quando são percebidas em outras vegetações. Panizzi reforça que, além de ser uma ação mais sustentável e de menor impacto ambiental, o manejo integrado de pragas é mais econômico. Sem essa iniciativa, o agricultor acaba utilizando excessivamente os pesticidas e faz com que os insetos, rapidamente, desenvolvam resistência aos produtos químicos.
De acordo com Panizzi, no que diz respeito a commodities agrícolas como a soja e o milho, o percevejo consiste no maior problema quanto a pragas. O inseto alimenta-se do grão e das plantas no estágio vegetativo (ainda pequenas). O pesquisador destaca que são várias as espécies de percevejos e, mais recentemente, notou-se que esses insetos estão investindo também contra o trigo. “Historicamente, o trigo nunca foi muito atacado por percevejos, as pragas mais importantes dessa cultura são as lagartas ou os chamados pulgões”, detalha.
Para o funcionário da Embrapa, o controle das pragas é como uma batalha sem fim, justamente por causa das adaptações de que são capazes os insetos. “Temos que estar sempre estudando, trabalhando com variedades de plantas que suportam mais os danos, desenvolvendo produtos e ações como o controle biológico”, defende. Segundo Panizzi, o controle biológico é uma ferramenta muito importante. “No caso dos percevejos, por exemplo, existem vespinhas (insetos milimétricos) que parasitam os ovos”, salienta. Outra experiência é o emprego de certas espécies de moscas que depositam ovos nas costas dos percevejos, cujas larvas atravessam o hospedeiro até o seu trato digestivo, matando-o.
Fonte: Jornal do Comércio RS