agosto, 2024

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Por que mortes por calor podem triplicar e ameaçam mais a longevidade do que frio intenso

Qual a relação entre o envelhecimento da população e as mudanças climáticas, os dois fenômenos humanos e ambientais mais impactantes do século 21 até aqui?

Nos últimos dias, uma grande parte do Brasil sofreu com um frio acentuado, e as mortes de pessoas em situação de rua por hipotermia causam indignação e desassossego. Sempre que ocorrem essas ondas de frio acentuado, é comum ouvir manifestações de pessoas descrentes no aquecimento global. É fácil cruzar com alguém questionando: “Não dizem que o planeta está esquentando? Cadê?”.

A onda de frio, no fim de agosto, chegou ao mesmo tempo em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados sobre o envelhecimento da população a partir das projeções do Censo 2022.

A população brasileira está envelhecendo porque a taxa de fecundidade alcançou um nível europeu, isto é, 1,5 filho por mulher (contra 6,3 na década de 1960, e 2,32 no ano 2000). E a expectativa de vida média cresceu para 76,4 anos (contra 71,1 no ano 2000).

Como a demografia está longe de se estabelecer como um determinismo e embora o avanço da Medicina seja infinito e possa proporcionar uma vida cada vez mais longa, sempre fica a pergunta sobre o que pode ameaçar a longevidade humana.

Será que essa longevidade pode se constituir promissora diante da mudança climática? Afinal, o risco maior é uma morte por frio extremo e suas consequências, ou pelo calor exacerbado?

Efeitos diretos do calor sobre a longevidade

Um estudo de modelagem feito pela equipe de pesquisadores do Centro de Pesquisa da Comissão Europeia, liderada por David García-Léon, e recém publicado no journal The Lancet Public Health, analisou as consequências da mudança climática para a longevidade em 1.368 regiões de 30 países europeus. Foram observadas as características epidemiológicas e socioeconômicas.

A pesquisa usou dados de 854 cidades europeias e é a primeira a estimar mortes atuais e futuras por temperaturas altas e baixas neste nível de detalhe regional para todo o continente.

As mortes por calor podem triplicar na Europa até 2100, concluem os autores e autoras.

O trabalho sugere que as disparidades regionais existentes no risco de morte por temperaturas altas e baixas entre adultos aumentarão no futuro devido às mudanças climáticas e ao envelhecimento da população.

As mortes por calor aumentarão em todas as partes da Europa, mais significativamente nas regiões do sul. As áreas mais afetadas incluirão Espanha, Itália, Grécia e partes da França.

No geral, com um aquecimento global de 3°C – uma estimativa superior com base nas políticas climáticas atuais – o número de mortes relacionadas ao calor na Europa pode aumentar de 43.729 para 128.809 até o final do século.

No mesmo cenário, as mortes atribuídas ao frio – atualmente muito maiores do que ao calor – permaneceriam altas, com uma ligeira diminuição de 363.809 para 333.703 até 2100.

Estimativas de mortes atuais e futuras relacionadas à temperatura foram produzidas para quatro níveis de aquecimento global (1,5 °C, 2 °C, 3 °C e 4 °C) usando uma combinação de 11 modelos climáticos diferentes.

No calor ou no frio, mais pobres e mais velhos são mais afetados

Sempre de acordo com o estudo, atualmente cerca de oito vezes mais pessoas morrem de frio na Europa do que de calor, mas a previsão é que essa proporção diminua bastante até o final do século.

Os autores dizem que as descobertas podem orientar o desenvolvimento de políticas para proteger as áreas e pessoas mais vulnerabilizadas dos efeitos das temperaturas quentes e frias.

Como sabemos, os efeitos climáticos extremos têm atingido principalmente os mais pobres e, em relação ao recorte de idade, os mais velhos.

A maioria das mortes por calor ou frio intensos, de acordo com a pesquisa, ocorrerá entre pessoas com mais de 85 anos.

As pessoas mais idosas (com 80 anos ou mais), sobretudo com dificuldade de mobilidade ou vulnerabilizadas financeiramente, têm maior dificuldade de buscar proteção ou fuga de inundações, furacões, frio ou calor.

A questão da análise por idade, no entanto, é uma das limitações da pesquisa apontada pelos autores e autoras porque foi impossível analisar os bebês – assim como estabelecer recortes de gênero e etnia. Outra limitação é que o estudo foi feito apenas na área urbana, onde ocorre mais estresse de temperaturas.

Mesmo assim, o trabalho, pela sua abrangência, oferece evidências potentes para outros países, talvez para todo o planeta. Os estudos buscando a intersecção entre envelhecimento da população e mudanças climáticas têm se constituído em um campo profícuo de estudo.

No Brasil, por ser um país continental, essa linha de pesquisa é urgente. Em meu livro Viver muito (ed. Leya, 2010), alertei para o risco de se repetir no Brasil as consequências da “canicule” francesa de 2003, quando pessoas idosas foram encontradas mortas, já em estado de decomposição, sozinhas em suas casas por falta de um serviço de cuidado em domicílio.

Efeitos climáticos extremos têm atingido principalmente os mais pobres e os mais velhos

Impactos do clima extremo no Brasil

O Brasil tem um agravante para as ondas de frio ou calor: o grande número de casas de autoconstrução ou mesmo a ausência de adaptação de residências para os extremos climáticos.

Pesquisas apontam que 85% da população brasileira que já construiu ou reformou o fez por conta própria, sem o apoio de arquitetos ou engenheiros. Salvar vidas dos picos de calor e frio dependerá muito mais do que simples ventiladores ou cobertores cobrados a crédito. As favelas são ricas em materiais inadequados, como telhas de zinco, que aquecem ainda mais o espaço interior.

Há mais de uma década, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alertaram para as consequências da transição demográfica e da transição climática.

José Féres defendeu, em capítulo de livro publicado em 2014, que na discussão sobre a degradação climática o tamanho da população pesa menos do que a estrutura etária, a composição familiar e seus arranjos e o processo de urbanização, pois esses componentes afetam o padrão de consumo (sobretudo de energia) e as condições de prevenção aos eventos extremos.

Sobre as mudanças de padrão de consumo de uma população superenvelhecida e seus efeitos no meio ambiente, no mesmo livro Camilo de Moraes Bassi, também do Ipea, analisa o efeito das mudanças na estrutura etária brasileira na capacidade de sustentabilidade a partir das metodologias da pegada ecológica e da pegada hídrica.

Bassi concluiu que o envelhecimento populacional pode significar uma “poupança ecológica” devido ao padrão de consumo de alimentação dos idosos ser menos intensivo em bens naturais (terra e água).

Como podemos perceber, o envelhecimento populacional é também fonte de geração de oportunidades e riqueza. No entanto, uma sociedade só estará apta a garantir o bem-estar na velhice com políticas de prevenção que se tornam ainda mais complexas com a intersecção com as mudanças climáticas e exigem uma Política Nacional de Cuidado compatível ao contexto ambiental e epidemiológico, principalmente sob os efeitos prolongados da covid-19 e ameaças de novas pandemias.

No Brasil, é sempre bom repetir, a necessidade se faz maior devido às desigualdades sociais abissais. Todas essas pesquisas apontam apenas para a necessidade de novas investigações nessa área da demografia ecológica. Só assim poderemos evitar mortes e garantir a promessa da longevidade humana.

*Jorge Felix é presidente do Conselho Administrativo do The Conversation Brasil e Professor de Pós-Graduação em Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP).

Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.

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Desenvolvimento de territórios: nomenclatura da moda ou resultado eficiente?

Desenvolvimento de territórios: nomenclatura da moda ou resultado eficiente? (Reunião social Itabirito/ MG (Foto: Ubiraney Silva))

A responsabilidade social das grandes empresas e da iniciativa privada em geral, vem sendo praticada de várias formas e, tradicionais ou inovadoras, partem sempre do princípio de acolher especialmente as comunidades mais carentes e que se localizam nas chamadas áreas de influência direta, nas regiões onde a atividade empresarial gera impactos de alguma forma ou com certa intensidade.

Como resposta em reconhecimento à necessidade de contribuírem com o crescimento social das regiões impactadas, as empresas utilizam ações e programas, que buscam o diálogo permanente e com esta aproximação, entender e buscar soluções para as principais dificuldades apontadas nos diagnósticos sociais, que normalmente são aplicados por ali.

De uns tempos para cá e com uma tendência à modernização das nomenclaturas, em tempos de ESG, onde a transparência vira uma necessidade em todos os processos, a terminologia mais utilizada na atualidade para batizar ações sociais em comunidades carentes ou não, passa a ser “Desenvolvimento de Territórios”.

O que é “território”?

Território, para os estudos da geografia, é um conceito a ser pensado e que possui algumas abordagens bastante interessantes. Comumente o termo território é definido como um espaço delimitado, com fronteiras definidas e que exista alguma relação de pertencimento, propriedade, que pode ser defendido como posse!

De fato e de maneira muito simples, o território, é o espaço de vida dos humanos e como nem todos os humanos têm a habilidade de tornarem os seus espaços de vida produtivos e rentáveis, muitas vezes, a resposta social vem por parte das empresas, que investem em ações diversas, que promovem o chamado desenvolvimento territorial, abrangendo boa parte das vezes, todas as faixas etárias ali percebidas.

Desenvolvimento de territórios

O desenvolvimento territorial já vem como uma estratégia de melhoria de vida para aqueles locais e com propostas eficientes para a solução dos seus problemas.

Capacitação coletivo de mulheres PA Dina Teixeira (Foto: Ubiraney Silva)

As chamadas regiões de vulnerabilidade social, são as mais privilegiadas nestes casos e naturalmente que o enfrentamento dos problemas apontados, carecem de estratégias especiais e o mais prático é fazer com que as próprias comunidades se tornem aptas e adquiram o potencial de solução de suas aflições.

Como disse, estamos na era ESG (e já falamos sobre o que significa esta sigla em outras postagens), e neste contexto, as propostas de desenvolvimento de territórios chegam com ações e propostas sustentáveis, estimulando as práticas de desenvolvimento, lançando mão do capital social e humano existente nos respectivos territórios.

A grande transformação acontece, quando a comunidade entende o seu papel, reconhece suas habilidades, identificam localmente parceiros, forças e ativos que juntos, promoverão efetivamente as melhorias da qualidade de vida nestes territórios.

Aí sim, o desenvolvimento territorial sustentável pode ser entendido, praticado e quiçá, perene.

Se pensarmos que o território é a base da existência humana, como sugeri acima, a sua organização espacial é também uma ação estratégica e potencializadora para o alcance de bons resultados, afinal os territórios uma vez identificados, precisam ter suas funções bem definidas por meio da apropriação e definição das diversas formas de uso que possam ser trabalhados por lá.

Resultados gerados à partir do desenvolvimento de territórios de maneira sustentável

As comunidades organizadas e com seus ativos fortalecidos, podem definir frentes poderosas de atuação, no contexto sustentável, passando pela erradicação da pobreza, buscando uma educação de qualidade, investindo em técnicas e práticas da agricultura sustentável, respeitando os princípios da diversidade presente em todos os meios sociais na atualidade, garantindo o acesso à bens como a água e o saneamento básico e assim, promovendo e garantindo o trabalho e consequentemente o crescimento econômico local.

Capacitação de comunidades: Oficina de papel marchê – Vila Canadá/ PA Foto: Ubiraney Silva)

Em muitos lugares e diante de realidades diversas, a sociedade se organiza também, visando o bem-estar e a qualidade de vida, mas pelo viés das ações e dos ativos da criatividade como principal motivador do desenvolvimento local.

Nestes casos, é comum percebermos um dinamismo nas lideranças locais, a coragem para o trato e uso da inovação, da ousadia tecnológica, das ações culturais, dos coletivos, das artes, enfim, criatividade para o fomento e geração de valor econômico e social.

Para tecer estes comentários sobre este tema, naturalmente que li bastante os inúmeros materiais didáticos, que guardo em minhas estantes e em minhas vivências com as experiências artísticas e profissionais, que já tive oportunidade de experimentar exatamente neste contexto do exercício de busca do desenvolvimento econômico, pelo viés do desenvolvimento territorial como um todo.

Qualquer um pode ser um agente transformador

O que fica é uma sensação de que o desenvolvimento territorial “é o resultado de uma ação coletiva intencional de caráter local, um modo de regulação territorial” e aí concluímos que tudo isso é uma ação associada a culturas, a planos e instituições locais, aos arranjos produtivos e às práticas sociais presentes.

O desenvolvimento territorial é também um processo progressivo de transformação e pode ser experimentado por qualquer um, até pelos que não fazem parte de nenhum programa social de empresa A ou B!

Marisqueiras em ação – Ilha de Deus, Recife/ PE (Foto: Ubiraney Silva)

Quer entender como contribuir com o desenvolvimento do território onde você está inserido?

Experimente manter hábitos comuns e bastante simples, como comprar e abastecer as suas necessidades básicas no comércio do seu bairro ou na sua cidade. Vai comemorar um aniversário ou qualquer outra motivação, contrate os serviços necessários perto de você, certamente encontrará fornecedores que garantirão qualidade e pontualidade.

Percebe como todos podemos contribuir? A grande sacada é focarmos na mobilização das comunidades. A transformação local só acontece pelas mãos das próprias comunidades, não tem erro.

São estas iniciativas, que quando vitoriosas geram visibilidade para comunidades mais inclusivas e exigentes para uma atuação mais eficiente, independente da situação social. Para pensarmos em sustentabilidade, temos que pensar em pontualidade, seriedade, eficiência, inclusão e principalmente o protagonismo do cidadão, é isso que promoverá a mudança para melhor nos territórios trabalhados.

E para não ficar fora do meu contexto habitual, posso tranquilamente afirmar, que as inúmeras ações culturais, o conhecimento prático dos mais singelos e a união das comunidades, promovem de fato resultados dos mais significativos.

Isso nos mostra que a promoção cultural permanece sendo um fator potencial para transformação social e econômica em várias frentes.

Sem contar, que a atividade turística só não tira proveito de toda esta movimentação, se não quiser, afinal, estamos falando da movimentação de uma enorme e variada rede de prestação de serviços, que contribuem sobremaneira para geração de valor agregado a personalidades, à localidades, à comunidades, que estão inseridos em um sem fim de territórios já desenvolvidos.

Animou a fazer a sua parte? Tomara que sim.

Até a próxima.

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A descoberta suíça que promete revolucionar produção de chocolate com cacau inteiro e sem açúcar

Imagina pegar uma maçã suculenta, mas em vez de comê-la, você guarda as sementes e joga o resto fora.

É o que os produtores de chocolate tradicionalmente fazem com o fruto do cacau: usam os grãos, e descartam o resto.

Mas agora cientistas de alimentos na Suíça descobriram uma maneira de fazer chocolate usando todo o fruto do cacau, em vez de apenas os grãos, e sem usar açúcar.

O chocolate, desenvolvido no renomado Instituto Federal de Tecnologia de Zurique pelo cientista Kim Mishra e sua equipe, inclui a polpa do fruto do cacau, o sumo e a casca, ou endocarpo.

O processo já chamou a atenção de empresas de alimentos sustentáveis.

Elas dizem que a produção tradicional de chocolate, usando apenas os grãos, envolve deixar o restante do fruto do cacau — do tamanho de uma abóbora e repleto de valor nutritivo — apodrecendo nos campos.

O segredo para o novo chocolate está em seu sumo bastante doce, que tem um gosto “bem frutado, um pouco como o abacaxi”, explica Mishra.

Esse sumo, que tem 14% de açúcar, é destilado para formar um xarope altamente concentrado, combinado com a polpa — e, na sequência, misturado com a casca seca, ou endocarpo, para formar um gel de cacau bem doce, levando a sustentabilidade a um novo patamar.

Este gel, quando adicionado aos grãos de cacau para fazer o chocolate, elimina a necessidade de açúcar.

Mishra vê sua invenção como a mais recente de uma longa linha de inovações dos fabricantes de chocolate suíços.

No século 19, Rudolf Lindt, da famosa família de chocolates Lindt, acidentalmente inventou a etapa crucial da “conchagem” do chocolate — processo de mistura, agitação e arejamento da massa de cacau aquecida para torná-la suave e reduzir sua acidez —, deixando a máquina de mixagem de cacau funcionando durante a noite. O resultado pela manhã? Um chocolate doce e deliciosamente suave.

A Lindt fabrica chocolate desde o século 19

“Você precisa ser inovador para manter o nível do seu produto”, diz Mishra.

“Ou… só vai fazer chocolate mediano.”

Mishra contou com a parceria da KOA, uma startup suíça que trabalha no cultivo sustentável de cacau, em seu projeto. Seu cofundador, Anian Schreiber, acredita que usar todo o fruto pode resolver muitos dos problemas da indústria do cacau — desde o aumento do preço dos grãos até a pobreza endêmica entre os produtores.

“Em vez de brigar para ver quem pega a maior fatia do bolo, você aumenta o bolo, e faz com que todos se beneficiem”, explica.

“Os produtores obtêm uma renda extra significativa por meio da utilização da polpa do cacau, e o processamento industrial fundamental acontece no país de origem — gerando empregos, e criando valor que pode ser distribuído no país de origem.”

Schreiber descreve como “insustentável” o sistema tradicional de produção de chocolate, no qual os produtores na África ou na América do Sul vendem seus grãos de cacau para grandes fabricantes de chocolate baseados em países ricos.

Letizia Pinoja diz que sem o comércio de produtos coloniais a Suíça não seria o país do chocolate

O modelo também é questionado por uma nova exposição em Genebra, que analisa o passado colonial da Suíça.

A Suíça pode não ter possuído colônias próprias, mas a historiadora Letizia Pinoja explica que soldados mercenários suíços policiavam colônias de outros países, e donos de navios suíços transportavam pessoas escravizadas.

De acordo com ela, Genebra, especialmente, tem uma ligação particular com algumas das fases mais exploradoras da indústria do chocolate.

“Genebra é um centro de comércio de commodities e, desde o século 18, o cacau estava chegando a Genebra, e depois ao resto da Suíça para produzir chocolate.”

“Sem esse comércio de commodities de produtos coloniais, a Suíça nunca poderia ter se tornado o país do chocolate. E o cacau não é diferente de nenhum outro tipo de produto colonial. Todos eles eram provenientes da escravidão.”

Hoje em dia, a indústria do chocolate é muito mais regulamentada. Os fabricantes devem monitorar toda a sua cadeia de suprimentos para garantir que não haja trabalho infantil. E, a partir do ano que vem, todo chocolate importado para a União Europeia deve garantir que não houve desmatamento para o cultivo do cacau utilizado.

Mas isso significa que todos os problemas estão resolvidos?

Roger Wehrli, diretor da associação de fabricantes de chocolate suíços, Chocosuisse, diz que os casos de trabalho infantil e desmatamento continuam, principalmente na África. Ele teme que alguns produtores, em uma tentativa de evitar os obstáculos, estejam simplesmente transferindo sua produção para a América do Sul.

“Isso resolve o problema na África? Não. Acho que seria melhor empresas responsáveis ??permanecerem na África, e ajudarem a melhorar a situação.”

É por isso que Wehrli vê o novo chocolate desenvolvido em Zurique como “muito promissor”.

“Se você usar o fruto do cacau inteiro, pode obter preços melhores. Então é economicamente interessante para os agricultores. E é interessante do ponto de vista ecológico”, avalia.

O fruto inteiro do cacau pode ser usado agora para fazer chocolate

A relação entre a produção de chocolate e o meio ambiente também é enfatizada por Anian Schreiber. Um terço de todos os produtos agrícolas, diz ele, “nunca acaba em nossas bocas”.

Estas estatísticas são ainda piores no caso do cacau, se o fruto for abandonado para usar apenas os grãos. “É como se você jogasse fora a maçã, e usasse apenas as sementes. É o que fazemos atualmente com o fruto do cacau.”

A produção de alimentos envolve emissões significativas de gases de efeito estufa, então reduzir o desperdício também pode ajudar a combater as mudanças climáticas. O chocolate, um item de luxo de nicho, pode não ser um grande fator por si só, mas tanto Schreiber quanto Wehrli acreditam que pode ser um começo.

De volta ao laboratório, as principais questões permanecem. Quanto vai custar esse novo chocolate? E, o mais importante de tudo, sem açúcar, qual será o gosto dele?

A resposta para a última pergunta, na visão desta correspondente apaixonada por chocolate, é: surpreendentemente bom. Um sabor denso, mas doce, com um toque de amargor do cacau que combinaria perfeitamente com um café após o almoço.

O custo pode continuar sendo um desafio, devido ao poder global da indústria açucareira, e aos subsídios generosos que ela recebe.

“O ingrediente mais barato para alimentos sempre vai ser o açúcar, enquanto o subsidiarmos”, explica Mishra.

“Por uma… tonelada de açúcar, você paga US$ 500 ou menos.”

A polpa e o sumo do cacau custam mais, então o novo chocolate seria, por enquanto, mais caro.

No entanto, fabricantes de chocolate em países onde o cacau é cultivado — do Havaí à Guatemala e Gana — entraram em contato com Mishra para obter informações sobre o novo método.

Nenhuma empresa suíça de chocolate eliminou completamente o uso de açúcar

Na Suíça, alguns dos maiores fabricantes — incluindo a Lindt — estão começando a usar o fruto do cacau, assim como os grãos, mas nenhuma, até agora, tomou a iniciativa de eliminar o açúcar completamente.

“Temos que encontrar produtores de chocolate ousados ??que queiram testar o mercado e estejam dispostos a contribuir para um chocolate mais sustentável”, diz Mishra.

“Assim, podemos mudar o sistema.”

Talvez esses produtores ousados ??sejam encontrados na Suíça, cuja indústria de chocolate produz 200 mil toneladas a cada ano, no valor estimado de US$ 2 bilhões. Na Chocosuisse, Roger Wehrli vê um futuro mais sustentável, mas ainda brilhante.

“Acho que o chocolate ainda vai ter um gosto fantástico no futuro”, ele insiste. “E acho que a demanda vai aumentar no futuro devido à crescente população mundial.”

E as pessoas vão comer chocolate suíço? “Obviamente”, diz ele.

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Segmento hoteleiro cada vez mais integrado à transformação digital

Segmento hoteleiro cada vez mais integrado à transformação digital ((Foto: Drazen Zigic/ Freepik))

Transformação digital – Dezenove hotéis do país começaram a testar o novo modelo digital da conhecida e analógica Ficha Nacional de Registro de Hóspede (FNRH) até hoje utilizada em versão impressa por força da legislação brasileira, mas já substituída a tempos em outros países por soluções muito mais adequadas à modernidade. Com a tecnologia em teste, os clientes que chegam para preencher seus dados no check-in já podem acessar a versão eletrônica da ficha, reduzindo consideravelmente o tempo de espera dos hóspedes.

Importante ressaltar que ao contrário do que este ou aquele cliente possa argumentar, é absolutamente obrigatório por força de lei o preenchimento dos dados de quem se hospeda em todos os campos do modelo padrão da ficha. A inovação também melhora a segurança e permite um gerenciamento mais eficiente dos dados turísticos, fundamentais para traçar estratégias comerciais, além de simplificar e acelerar o envio das informações exigidas pela Lei Geral do Turismo sempre também em consonância com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

Como funcionará a ficha digital?

O objetivo dessa primeira etapa do projeto é avaliar as novas funcionalidades da Ficha Nacional de Registro de Hóspede e corrigir quaisquer dissonâncias detectadas. Os hotéis selecionados foram indicados pelas entidades que compõe o Conselho Nacional de Turismo (CNT) e a meta é implantar a versão digital da FNRH em toda rede hoteleira do Brasil até 2025.

A ficha digital funcionará de forma integrada com plataformas de gestão hoteleira (PMS) e outras ferramentas digitais, permitindo a geração de dados mais robustos, auxiliando na análise de tendências e comportamentos e apoiando a tomada de decisões estratégicas para o setor transformando-se assim em um CRM (Customer Relationship Management) fantástico para os gestores. “A FNRH Digital foi projetada para suportar um grande volume de acessos simultâneos, garantindo um desempenho estável e eficiente, mesmo durante os picos. Esse sistema robusto e escalável está preparado para acompanhar o crescimento esperado do turismo”, explicou o diretor presidente do Serpro, Alexandre Amorim.

O hotel Mercure Brasília Líder, da rede Accor, inaugurado em 2001 foi o primeiro a se tornar apto a testar o piloto da nova tecnologia. “A digitalização da Ficha representa um avanço significativo para o setor hoteleiro brasileiro. Com essa tecnologia, conseguimos otimizar e agilizar o processo de check-in, melhorar a segurança dos dados e oferecer uma experiência mais fluida para nossos hóspedes. Esta inovação traz ganhos em eficiência, segurança e na modernização necessária ao setor, permitindo que menos tempo seja dedicado à burocracia operacional e mais tempo à experiência do hóspede e à personalização do atendimento”, avalia Marcelo Salomão, vice-presidente sênior de Tecnologia da Accor Américas.

A transformação digital traz muitos benefícios

Com a crescente sistematização digital, a hotelaria obterá uma economia significativa de papel e custos de impressão. A tecnologia vai ajudar a promover a sustentabilidade e reduzir despesas operacionais, alinhando-se às tendências “eco-friendly” cada vez mais valorizadas pelo mercado e pilar essencial da ESG.

Através da Ficha Digital e Web Check-in, o processo de registro de hóspedes é simplificado e o tempo de espera na recepção reduzido drasticamente aumentando a eficiência percebida dos hóspedes em relação aos colaboradores.

Além disso, as ferramentas ajudarão no combate às fraudes hoje tão comuns nas mais diversas áreas que se transformaram em um pesadelo para todos que atuam na hospitalidade.

Alguns dos benefícios da nova solução:

Melhoria da Experiência do Hóspede: Experiência positiva desde o momento da chegada dos hóspedes através de processos mais rápidos, modernos e eficientes.

Maior Controle de Dados: Digitalização das informações dos hóspedes evitando erros de registro e perda de dados, tornando o gerenciamento mais eficaz e ágil. Armazenamento em nuvem evitando assim práticas lesivas por vazamento de dados pessoais.

Redução de Custo Operacional: Otimização do processo de check-in e check-out, economia em custos operacionais, como uso de papel e necessidade de pessoal adicional.

Redução de Filas: Eliminação das longas esperas na recepção, aprimorando significativamente a satisfação dos clientes através de “express check-ins” e “check-outs”.

Integração com PMS: Garantia que as soluções estão integradas ao sistema de gerenciamento de dados do hotel tornando a operação cada vez mais amigável.

A ficha digital é uma ferramenta para hotéis que substitui formulários em papel por um processo digital, permitindo que hóspedes forneçam informações como identificação e de todas as suas preferências através de dispositivos móveis ou computadores muito antes da sua chegada ao hotel.

”Não se gerencia o que não se mede. O que não pode ser medido não poderá ser melhorado”

Maarten Van Sluys (Consultor Estratégico em Hotelaria – MVS Consultoria)

Instagram: mvsluys email: mvsluys@gmail.com Whatsapp: (31) 98756-3754

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Artigo: Emissões seriam piores sem avanços do setor elétrico

Arthur Sousa*

O setor elétrico brasileiro pode ter muitos problemas, mas, entre eles, não está a sua evolução nos últimos anos, tanto em relação ao crescimento da capacidade de geração instalada quanto aos avanços de fontes renováveis para abastecimento do Sistema Interligado Nacional (SIN). Nesse sentido, o país tem dado ao mundo uma contribuição importante para o modelo de geração sustentável, o que, por outro lado, também tem garantido ao Brasil autoridade para debater esses temas em âmbito internacional.

Há dados e números de todos os tipos, mas nenhum será capaz de negar que o Brasil incorporou a ideia de sustentabilidade energética em seu planejamento. Entretanto, entre esses desafios, neste momento, está um que preocupa: atribuir às fontes renováveis, entre as quais, a geração distribuída, todos os males do setor elétrico, deixando de lado a sua importância na agenda de descarbonização do planeta.

Iniciemos pelo óbvio. O Brasil está forjando um modelo de expansão do setor elétrico, necessário para o crescimento do país, que propicia benefícios extraordinários na redução das emissões de gases de efeito estufa e poderá ser apresentado nos encontros globais que o país está prestes a receber, como a reunião do G20, no Rio de Janeiro, em novembro do próximo ano, e na COP30, no fim de 2025, em Belém (PA).

No ano passado, segundo dados do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o setor elétrico nacional reduziu suas emissões em relação aos anos anteriores. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as fontes renováveis (eólica e solar) e as hidrelétricas foram responsáveis por quase 90% dos 75,6 mil MW médios injetados no sistema em 2023.

Antes de falar de riscos sistêmicos sobre o setor ou de subsídios excessivos, é preciso compreender que o país estaria, em termos de emissões, em situação muito menos favorável se o setor elétrico estivesse emitindo CO2, como ocorre hoje no sistema de transporte público e de cargas e nos desmatamentos, este, o maior dos problemas.

Há um tema adicional que deve ser considerado nessa discussão. Companhias mundo afora, todas inseridas dentro da lógica do capitalismo, estão preocupadíssimas com a situação climática. Lá, como cá, estão desenvolvendo programas robustos de controle das emissões, promovendo diversas frentes para mudar suas matrizes de suprimento de energia.

As instituições de crédito e fomento estão deslocando centenas de bilhões de dólares para projetos sustentáveis e acelerando a movimentação de recursos no mercado global de créditos de carbono, negócio que pode superar, em muitas vezes, os recursos aplicados em subsídios para que o país pudesse criar esse modelo de negócio no mundo da energia. O Congresso Nacional discute o Marco Legal do Mercado de Carbono, que voltou ao Senado após a Câmara mudar o texto aprovado pelos senadores. O Brasil pode começar a ganhar muito com isso. Aliás, isso já começou.

Não é por outras razões, senão pela posição brasileira também na sustentabilidade de sua matriz elétrica, que o país conseguiu, em junho, uma segunda emissão de greenbonds no mercado internacional. Títulos do Tesouro com vencimento de sete anos e juros ainda menores de 6,375% ao ano. Somadas as captações de novembro de 2023 e junho de 2024, o Brasil conseguiu negociar títulos da dívida brasileira no montante de US$ 4 bilhões. Os juros de agora foram menores do que o negócio no ano passado, de 6,5% a.a. Não teria obtido essas linhas se não tivesse criado um modelo sustentável que tem evidência para o mundo.

Isso não ocorre por acaso. O setor elétrico brasileiro não é responsável pela posição de sexto maior emissor de gases do efeito estufa (GEE) do planeta, com 2,3 bilhões de toneladas de emissões, conforme dados de 2022 coletados pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), elaborado pelo Observatório do Clima. Não é exagero afirmar que o Brasil só está nessa posição em razão dos benefícios ambientais produzidos por décadas de desenvolvimento dos projetos de geração de energia. Sem isso, o Brasil estaria, isso sim, liderando o triste ranking dos poluidores do mundo.

Se há ajustes necessários para a convivência entre as fontes renováveis e as fontes mais tradicionais, que os façamos. Entretanto, não podemos destruir um arranjo institucional construído pelo país com grande esforço para contemplar visões retrógradas que enxergam apenas o balanço energético do próximo mês, e não uma visão mais estrutural que se alinha ao espírito de preservação global, sobre o qual o Brasil tem papel central e está exercendo com liderança.

É fato. Nossas emissões de GEE seriam muito piores se não tivéssemos o atual modelo de geração de energia elétrica. A nossa posição como emissor global nada tem a ver com o setor elétrico, mas, sim, com as políticas de governos descompromissados com a preservação dos nossos biomas e de um sistema de transporte e logística sustentado no diesel fóssil. Devemos preservar o modelo que criamos no setor elétrico renovável — talvez, ajustá-lo para mecanismos mais novos —, mas não promover sua destruição em razão de ele ter se tornado exitoso demais diante das fontes concorrentes. Não há lógica nisso.

*Conselheiro do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), membro da Mobilização Empresarial pela Inovação da CNI e conselheiro de empresas

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5 dicas para transformar ambientes com a iluminação

O projeto luminotécnico é uma peça fundamental no quebra-cabeça do design de interiores, atuando não apenas como um elemento funcional, mas também como uma ferramenta estratégica para realçar a beleza e a atmosfera dos espaços. O arquiteto Daniel Szego, com sua vasta experiência no tema, compartilha dicas sobre como a iluminação pode ser usada para criar cenários singulares e enriquecer o projeto de decoração.

O profissional enfatiza que a iluminação deve ser considerada desde as etapas iniciais de planejamento. Sua capacidade de moldar a percepção do espaço e de influenciar a cor e a textura dos materiais é essencial, impactando diretamente o bem-estar dos ocupantes. Para ele, a excelência vai além de selecionar belas luminárias: é crucial entender a luz como um elemento arquitetônico que organiza, define e vitaliza os ambientes.

1. Camadas de luz

A estratégia de utilizar variados tipos de iluminação – diretas, indiretas, difusas e focais – permite destacar pontos de interesse e configurar a atmosfera desejada. O profissional também sugere implementar sistemas de controle para modular a intensidade e a temperatura da cor, permitindo que o ambiente seja adaptado para diferentes situações e atividades.

2. Harmonia visual

A seleção de lâmpadas e luminárias deve estar em consonância com o estilo do espaço. Peças modernas e minimalistas se beneficiam de formas simples e linhas limpas, enquanto espaços de estética clássica ou rústica ganham vida com detalhes mais elaborados e texturas ricas. A sustentabilidade segue como uma prioridade, com Daniel Szego recomendando opções de baixo consumo energético como LEDs, que combinam eficiência e menor impacto ambiental.

A iluminação pode ser usada para destacar espaços da casa (Imagem: Pinkystock | Shutterstock)

3. Personalização

A criação de zonas de iluminação controláveis é fundamental para a personalização do uso do espaço. Esse recurso possibilita a adaptação da iluminação em diferentes áreas conforme necessário, seja para realçar obras de arte, facilitar o foco no trabalho ou criar um ambiente relaxante.

4. Modernidade e tecnologia

Perfis de LED embutidos oferecem uma solução elegante para iluminar precisamente áreas específicas sem expor a fonte de luz, conferindo um efeito luminoso distribuído que adiciona uma camada de sofisticação e modernidade ao espaço.

5. Temperatura de cor

Experimentar diferentes temperaturas de cor é vital para definir a vibe de cada ambiente. Tons mais quentes são ideais para áreas de descanso, enquanto os mais frios se adaptam melhor a espaços de trabalho, como cozinhas e escritórios, influenciando a produtividade e o estado de ânimo. “A iluminação correta é crucial para realçar a funcionalidade e estética de um espaço, moldando como o experienciamos em nosso dia a dia”, finaliza Daniel Szego.

Por Bruna Rodrigues

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A retomada do protagonismo do mercado brasileiro de fertilizantes

Gustavo Horbach — Diretor-presidente da EuroChem na América do Sul

Em um passado não tão distante, meados da década de 1990, o Brasil produzia mais fertilizantes que importava e até 65% do consumo era de produção local. De lá para cá, alguns aspectos históricos, como estagnação dos investimentos no parque fabril e as frequentes readequações tributárias, impulsionaram a importação dos nutrientes básicos da agricultura (nitrogênio, fósforo e potássio), de tal modo que fizeram o país atingir um nível de dependência delicado: hoje, cerca de 85% dos fertilizantes usados na agricultura brasileira são de origem estrangeira.

Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a importação de fertilizantes passou de 7,4 milhões de toneladas, em 1998, para quase 33 milhões em 2020, um crescimento de 445% em pouco mais de duas décadas. No mesmo período, a produção nacional teve queda de 13,5%, passando de 7,4 milhões de toneladas para 6,4 milhões. Um paradoxo foi verificado nos últimos 25 anos: enquanto lideramos uma revolução de tecnologia, gestão e inovação no campo — que nos alçou ao patamar de superpotência agrícola —, fomos incapazes de produzir o mesmo efeito em uma indústria essencial a esse mesmo ecossistema produtivo.

Acabamos lançando mão e criamos soluções de curto prazo, emergenciais, visando destravar a produção agrícola nacional para atender à demanda internacional em constante crescimento. Uma decisão necessária, principalmente se olharmos para o agronegócio como um player isolado, mas que negligenciou a cadeia nacional de fornecimento de matérias-primas, como o setor de fertilizantes.

Em 2024, os números continuam preocupantes. Segundo o boletim logístico de junho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no período janeiro-maio deste ano, foram desembarcadas nos portos brasileiros 13,64 milhões de toneladas de fertilizantes, contra 13,61 milhões no mesmo período de 2023. A Anda ainda registrou que a produção nacional de fertilizantes, de janeiro a abril deste ano, foi de apenas 1,9 milhão de toneladas, enquanto, no mesmo período do ano passado, foi de 2,2 milhões de toneladas, uma queda de 11,9%.

A vocação do Brasil em ser um ator mais que relevante na redução da insegurança alimentar global por meio do crescimento da produção agrícola e respondendo por quase metade da produção mundial de alimentos nos próximos anos deve propiciar, obrigatoriamente, o fundamental desenvolvimento do mercado nacional de fertilizantes.

O Brasil se encontra em uma posição vulnerável em relação à variação de preços e de oferta causadas por fatores geopolíticos e especulações comerciais internacionais, mesmo o país sendo o quarto consumidor global de fertilizantes e com condições geológicas, econômicas e de infraestrutura adequadas para desenvolver a produção local.

E a mudança desse quadro ocorrerá apenas com um olhar estratégico para o setor, por meio de uma política de Estado, suportada pela indústria e pela academia, que extrapole governos e projete o mercado nacional para daqui a 40, 50 anos. Acreditamos que o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), lançado pelo governo federal em março de 2022, e a remodelação do Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Confert), em maio de 2023, foram iniciativas relevantes visando à retomada do protagonismo do mercado brasileiro de fertilizantes.

Por meio de incentivos fiscais, linhas de financiamento, parcerias e mudanças regulatórias, o PNF vai fomentar investimentos públicos e privados e, consequentemente, a produção nacional, reduzindo a dependência do Brasil dos insumos importados para cerca de 45% até 2050, fortalecendo a soberania nacional e a segurança alimentar do Brasil e do mundo.

E há mais uma iniciativa importante: o Rio Agro, fórum Internacional de sustentabilidade agroambiental das cadeias produtivas do agronegócio, que reuniu, de 29 de julho a 2 de agosto, especialistas para debater temas relevantes e desafios comuns do setor. A programação considerou participação ativa do governo federal por meio de representantes dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; da Agricultura e Pecuária; e de Minas e Energia; da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), entre outros.

Iniciativas como essa, aliadas a investimentos privados, como o Complexo Mineroindustrial de Serra de Salitre da EuroChem, em Minas Gerais, a primeira planta de mineração do grupo fora do continente europeu, reforçam a confiança do setor no Brasil e a nossa expectativa de que o governo, de maneira acertada e pragmática, seguirá avançando com a implementação do Plano Nacional de Fertilizantes, reduzindo vulnerabilidades externas e dando mais segurança ao agronegócio brasileiro.

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Candidata a reitora da UnB defende que instituição precisa alternância

A educadora Fátima Sousa disse às entrevistadoras do Podcast do Correio que a universidade da capital federal necessita de várias renovações. Ela forma a chapa 99 — “A UnB que queremos”, com o professor Paulo Celso, da Faculdade de Tecnologia (FT), candidato a vice-reitor. Às jornalistas Adriana Bernardes e Mariana Niederauer, a postulante ao cargo máximo da instituição falou dos desafios e das propostas que terá pelos próximos quatro anos, caso seja eleita.

“A UnB merece ter alternância de poder. Faz bem à democracia, às instituições. Não é uma crítica a ninguém, mas é necessário que a gente se renove”, defende Fátima, ao se referir à gestão de Márcia Abraão, que deixa o cargo após oito anos. O episódio completo pode ser conferido nos perfis oficiais do Correio nas redes sociais, no canal do veículo no YouTube.

Como está a campanha?

Essa campanha está sendo muito esperançosa. Estamos comemorando uma democracia interna, na UnB, por ter três mulheres colocando os seus nomes em exposição, e acho que isso é um bom exercício da pedagogia: a disposição das mulheres em se colocarem como futuras reitoras. Para mim e o professor Paulo Celso a expectativa é que seremos os vencedores.

Quais são as principais propostas que vocês trazem?

Nós somos uma espécie de porta-voz de uma consulta pública que fizemos à comunidade acadêmica, com a participação dos três segmentos (discentes, docentes e técnicos-administrativos). Fizemos duas perguntas. Primeiro, “qual é a UnB que temos?”, para fazermos um diagnóstico situacional. Demos sigilo, como boas pesquisadoras que somos, e, em seguida, “qual é a UnB que queremos?”, para que nós, a partir do diagnóstico, apresentarmos uma série de sugestões. Foram 280 respostas, constituímos 28 grupos de trabalho (GT) e a síntese da nossa carta compromisso foi organizada em 10 grandes eixos. O primeiro é “As pessoas em primeiro lugar”, porque entendemos que, se a população estiver conduzindo os destinos da UnB, nós seremos eternamente devedores. Segundo, “Uma universidade promotora de saúde”. Fui diretora da Faculdade de Ciências da Saúde e ganhamos um prêmio da OMS por ser uma universidade promotora de saúde. Queremos expandir isso para o conjunto da nossa universidade. Terceiro é a “Gestão acadêmica e a ciência cidadã”, por compreendemos que precisamos redesenhar o modelo de gestão: mais célere e próxima da população; e uma ciência cidadã, onde as pessoas nos vejam, nos reconheçam e deem legitimidade ao que estamos fazendo na universidade. Quarto eixo é “Gestão administrativa e governança”. O quinto, “Gestão da ciência, tecnologia e inovação”, porque estamos vivendo uma revolução tecnológica. A UnB não pode se furtar a viver esse momento e esses desafios contemporâneos. O sexto eixo é “Gestão e arte e cultura na universidade”. A nossa universidade sempre foi muito efervescente, alegre, para cima e, infelizmente, estamos vivendo um momento, em parte por causa da pandemia, em que as pessoas se distanciaram. A gente precisa trazer esse movimento de volta, essa alegria e participação mais efetiva de toda a comunidade. Sétimo eixo é “Gestão da informação, comunicação e acesso ao conhecimento”, porque temos duas compressões aqui: precisamos massificar a informação, fazer uma comunicação mais assertiva, para que a gente possa tomar as decisões de igual maneira assertiva, e o acesso ao conhecimento de tudo o que produzimos dentro da nossa casa, para que a sociedade tenha acesso. O oitavo eixo é “Transparência e orçamento participativo”. Eu tive a felicidade de participar do governo da deputada Luiza Erundina em São Paulo, depois da Martha Suplicy, e aprendi muito bem sobre orçamento participativo. É demonstrar para a comunidade quais os recursos que temos, como eles são distribuídos e, mais do que isso: quais prioridades nós temos. O nono é “Infraestrutura e sustentabilidade”. O meu vice é um ambientalista. O professor Paulo vem da FT, e foi uma das pessoas que fechou o lixão (da Estrutural), por isso desse encontro saúde e meio ambiente. O décimo é “Memória e patrimônio institucional”.

Como foi o diálogo para construir essas propostas?

Abrimos a consulta pública e as pessoas, livremente, dos campi onde estavam, respondiam ao questionário. Temos um banco (de dados) robusto que esperamos não seja somente para o debate na universidade, mas uma luz à nossa gestão. Constituímos 28 GTs, cada um com moderador e relator, e fizemos a síntese. É um banco riquíssimo, a gente teve que fazer, de fato, uma síntese, não só um diagnóstico, para a (chapa) “UnB que queremos”. Queremos fazer, assim que assumirmos, um grande congresso interno, onde a gente escute todos. Nós precisamos projetar a UnB para o seu encontro com o seu centenário. Precisamos ter projetos mais sustentáveis e robustos, a curto, médio e longo prazo.

A eleição é paritária entre técnicos, alunos e professores. Como tem sido essa articulação?

Em todas as unidades, nós já temos um convívio, seja quando fomos diretores, seja quando coordenei o núcleo de estudos de saúde pública da UnB, seja quando estruturei os programas de pós-graduação de saúde coletiva. Então, essa convivência sempre foi muito amistosa. Eu sou filha da democracia, então, o diálogo e a convivência têm sido muito respeitosos. Os próprios debates entre nós, as candidatas, têm sido mais do que respeitosos: estamos projetando a UnB. Eu sou uma pessoa que não olha para trás, mas acho que o passado tem que ser referencial para não repetir as coisas ruins. As boas a gente não precisa apenas ampliar, mas sustentar para que a universidade tenha orgulho do que foi feito. Eu olho para o futuro. O DCE tem sido muito respeitoso conosco, todos os diretores das unidades têm nos recebido, todos os coordenadores de programas de graduação e pós-graduação de igual maneira.

O Censo de Educação Superior de 2022 revelou que houve 4,7 milhões de novos discentes e apenas 1,3 milhão de formandos. Como faz para reduzir essa discrepância?

Esse problema da evasão não é só da UnB. Isso é um problema crônico. Temos que pensar na democratização do acesso. A UnB tem várias modalidades: o vestibular tradicional, o Enem e PAS e, agora, estamos trazendo pessoas com 60 anos ou mais. Como um problema complexo, não se resolve com uma equação muito simples. Na nossa carta compromisso, temos uma série de iniciativas. Primeiro, ver de onde nossos alunos estão vindo, fazer um diagnóstico do perfil deles. Segundo, instituir a formação dos próprios professores para que possa haver uma intinerância formativa onde o aluno se sinta pertencente. Terceiro, uma política de acolhimento desses estudantes. Defendemos que o aluno chegue e fique, no mínimo, seis meses, ambientando-se e sentindo-se acolhido na nossa universidade. Também defendo revisarmos os currículos de todos os cursos para que possamos fazer um currículo integrador e transversal. Ter uma política de permanência, onde o aluno possa ter restaurante universitário a preço acessível. Não é possível que a gente saia de R$ 2,50 para R$ 6,10. O estudante não se sustenta, porque essas pessoas que estamos trazendo têm vulnerabilidade socioeconômica. Então, é necessária uma política de moradia, de alimentação, de transporte. Eu e professor Paulo estamos negociando, e, mesmo que não sejamos eleitos, advogaremos para que a gente tenha um terminal rodoviário na UnB, que diminua o tempo de idas e vindas e que facilite o trânsito interno, em todas as unidades, em todos os campi. O que mais nos atrai a trazer todos esses alunos é ter um lugar que eles sintam que pertencem a ele. A universidade também tem que fazer o diálogo com o mercado de trabalho. Eu coordeno um projeto chamado Escola Cidadã. Nós vamos para as escolas de ensino médio conversar com os alunos e identificar o perfil deles. A FS Portas Abertas deixa o aluno orientado sobre o curso que ele quer cursar. E não tem só essa iniciativa para que a gente possa frear essa evasão.

Por que a senhora merece ser a próxima reitora da UnB?

A Universidade de Brasília merece ter alternância de poder. Faz bem à democracia, às instituições. Oito anos de governo, e não é uma crítica a ninguém, mas é necessário que a gente se renove. Nesse sentido, nós colocamos à disposição da universidade toda a nossa experiência de gestor, pesquisador, extensionista, de educadores. E há essa interface entre a sociedade e a nossa academia. Estamos prontos, não estamos sozinhos. Não se trata de mim ou de Paulo, mas de um projeto construído coletivamente, não é de hoje, ele está sendo revisto e reeditado. Esse é um desafio que nos anima a fazer e colocar os nossos nomes à disposição nos próximos quatro anos, que é revisitar o projeto de Darcy e Anísio. Chegou o tempo de fazer isso. Vamos caminhar para o centenário.

Estamos no momento de reformulação do Plano Nacional de Educação (PNE). Na educação superior, como a UnB pode contribuir com esse processo?

A gente precisa fazer uma disputa do orçamento dos recursos da União. Não dá para a gente, a cada final de exercício anual, não ter recurso para pagar água e luz. Precisamos de um financiamento estável. Precisamos garantir uma política de permanência dos nossos professores, porque muitos talentos estão indo embora por falta de incentivo às nossas carreiras. De igual maneira os técnicos. A cada 100 técnicos, 70 vão embora por falta de política de assistência, para condições de morar, alimentar-se, ter formação, além de poderem investir em mestrado e doutorado, para que eles sintam que a carreira deles tem futuro. A UnB, diferente das demais, está no epicentro do poder. Isso facilita as relações com o Ministério da Educação (MEC) e também para que a gente consiga cumprir as metas do PNE. A UnB tem expertise. Nesses 62 anos, nós construímos um corpo técnico, uma base científica, uma base extensionista, muito robusta.

A UnB tem ampliado bastante o acesso ao ensino superior. Como a universidade pode ampliar ainda mais esse acesso? É uma meta?

Isso é uma meta porque ainda temos muitas vagas ociosas, em função da própria evasão. Uma vez assumindo a gestão dos próximos quatro anos, nós precisamos fazer o mapeamento curso a curso, unidade a unidade, campi a campi, para saber quais são os problemas que são reiterados do porquê dessa evasão. E, ao mesmo tempo, seguir ampliando o acesso. Se os meninos entram e não ficam, geram-se mais vagas ociosas, e o próprio MEC pode nos ver como improdutivos. Sou defensora da democratização do acesso, mas a universidade tem que se preparar. Não basta convocar, tem que garantir condições de ficar e de voltar. Eu fiz um projeto, quando dirigia a FS, que se chamava “Por onde andam vocês”. A gente trouxe os alunos egressos para que contassem a quem está entrando como foi o percurso no mercado de trabalho. É possível fazer isso no conjunto da UnB.

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Um modelo econômico que promove a sustentabilidade avança no DF

Você sabe o que é economia circular? É uma proposta que considera a eliminação do conceito de desperdício baseada em que produtos podem ser totalmente reciclados ou reaproveitados. A explicação é do coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida. Como ele, outros especialistas defendem a iniciativa, já adotada por alguns empresários no DF.

Dados do Serviço de Limpeza Urbana apontam que, das 2.200 toneladas de resíduos recebidos, diariamente, no aterro sanitário de Brasília, 500 (22,72%) são de materiais recicláveis — como plástico, papel, alumínio e papelão. Entretanto, por chegarem misturados a rejeitos orgânicos, esse materiais não podem ser reaproveitados.

Almeida explica que o modelo econômico circular trabalha com a ideia de reutilizar, reciclar e regenerar recursos. “Por exemplo, se o consumidor vai comprar um eletrodoméstico, que tal consumir um produto usado, seguindo (assim) um modelo de produção e consumo que busca estender a vida útil da mercadoria?”, propõe. “Diferentemente da economia linear tradicional, que segue o padrão ‘extrair, produzir, descartar’, a circular adota um ciclo fechado onde os resíduos são reintegrados ao processo produtivo”, acrescenta.

Para ele, aderir à economia circular traz diversas vantagens ao consumidor. “Impacta tanto o cotidiano quanto as finanças pessoais. A economia circular pode promover a inovação nos produtos e serviços”, avalia. “Os consumidores se beneficiam ao ter acesso a soluções mais criativas, sustentáveis e, muitas vezes, personalizáveis. No DF, os principais segmentos que estão ganhando espaço são móveis e decoração, moda sustentável, eletrodomésticos e construção sustentável”, observa o especialista.

Sustentabilidade

Doutora em ecologia e coordenadora do curso de ciências biológicas da Universidade Católica de Brasília, Morgana Bruno comenta que o conceito da economia circular é essencial para o meio ambiente. “Ele gera uma menor demanda de produtos, o que vai reduzir a utilização de matérias-primas da natureza”, diz.

“É importante ressaltar que as ações individuais conservam muito pouco o meio ambiente. O que faz a gente ter algo que o impacte de forma positiva, é financiar a ciência para que sejam criados produtos que demandem menos a natureza e que durem mais”, alerta Morgana. Segundo ela, atualmente, não temos tanto incentivo para consumo ou produção de bens duradouros. “É necessária uma pressão, principalmente governamental, por meio de políticas públicas, para que indústrias criem produtos utilizando materiais duráveis e que possam ser reciclados”, avalia.

Foi acreditando em que poderia beneficiar o meio ambiente que a enfermeira Claudene Silva, 50 anos, decidiu passar a comprar roupas em brechós. “Aderi, recentemente, e acho que vale muito a pena. Além de ser econômico, a qualidade das peças e, principalmente, a questão ambiental que a moda circular tem, me cativaram muito”, conta. “Para o comércio, de forma geral, é sempre bom adquirir aquilo que é novo. Mas, não podemos olhar apenas por esse lado, temos que pensar no futuro do planeta que vai ficar para as nossas crianças”, considera.

A engenheira ambiental Raizza Maria Matos, 29, se inspirou em sua formação para se tornar proprietária de um brechó. “Comecei um pouco antes da pandemia, trabalhei no brechó de uma amiga. Com o passar do tempo, fui percebendo que era disso que gostava, além de entender a questão ambiental no mundo da moda, que é uma das (áreas) que mais geram resíduos. Estamos tentando caminhar para que a loja zere o desperdício”, comenta.

Raizza destaca que, além de brechó, o espaço funciona como uma loja colaborativa. “Aqui, as pessoas podem alugar um espaço para expor seus produtos. Só que sempre prezamos que os empreendedores estejam alinhados à questão ambiental”, explica. “Um exemplo é uma expositora que vende biquínis com a pegada zero resíduo. Ela cria modelos que são feitos a partir de retalhos de outras peças”, detalha a empresária.

Compra consciente

Outro que acredita na economia circular é o comerciante João Cleomes Ferreira, 50, proprietário de uma loja de móveis usados. No ramo desde 2004, ele conta que começou após perceber que “dá para reaproveitar as coisas, (algo) sempre vai servir para alguém”. “É um ramo bom, e acredito que a tendência é crescer ainda mais. Tudo se recicla ou se reaproveita na natureza”, opina.

Ferreira destaca que poder contribuir para diminuir a poluição e o desperdício também o incentivaram a criar um negócio ligado à economia circular. “A gente costuma ir à casa do cliente que está querendo se livrar de um móvel. Além de conseguir o objeto para revender, descartamos aqueles que não servem, no local adequado, contribuindo com a natureza”, garante. “Muitas vezes, ficando com os clientes, eles são jogados em qualquer lugar, prejudicando o meio ambiente”, pondera.

O economista Riezo Almeida dá dicas para quem deseja aderir ao modelo de “compra consciente”, especialmente móveis e eletrodomésticos: “Prefira aqueles feitos com materiais reciclados e opte por produtos de qualidade e durabilidade. Isso reduz a necessidade de substituições frequentes, causando menos impacto ambiental”. “Ao apoiar esses tipos de produtos, os consumidores incentivam a demanda por matérias-primas recicladas, impulsionando ainda mais a economia circular”, afirma.

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Garzón celebra 10 anos no Brasil, com lançamento de vinho laranja; vinho de aniversário é um tinto potente do Uruguai

vinícola uruguaia Garzón celebra uma década no mercado brasileiro, um de seus principais consumidores. O CEO da marca, Christian Wylie, revela que nos primeiros meses de 2024, 40 mil brasileiros foram à Garzón, que fica em Maldonado. Desde que começou a vender seus rótulos para cá, a bodega teve a World Wine como importador: dos 32 vinhos produzidos, são comprados 25:

— Celebramos 10 anos da presença da Garzón no Brasil. É uma vinícola super jovem ainda no mundo do vinho, com sucesso mundial. São apenas 15 anos da primeira plantação da Tannat. Queremos comemorar aqui no Brasil, um mercado que está no meu coração. Este ano, recebemos 40 mil brasileiros na vinícola. São pessoas que vão conhecer, degustar e comprar nossos vinhos. É um círculo virtuoso. Tem gente de São Paulo, do Rio, do Nordeste, e obviamente do Rio Grande do Sul, que vai de carro — destaca Christian Wylie, em visita ao Rio para comemorar os 10 anos da Garzón no país.

Christian Wylie lembra que o genial crítico de vinhos britânico Steven Spurrier destacou que a Garzón havia conseguido o status de produtor icônico em menos de uma década, diferentemente de outros grandes produtores como a argentina Catena e a chilena Chadwick, que levaram mais de uma geração.

— Acredito que essa afirmação é o melhor balanço. Construir uma vinícola 100% Leed Certified (certificação de sustentabilidade) nestes 10 anos; estabelecer todo o portfólio de vinhos, incluindo um vinho na Place de Bordeaux; desenvolver Alvarinho como o maior produtor das Américas, o melhor vinho branco da América do Sul segundo o Descorchados; um rosé que é um sucesso incrível. O enoturismo premiado no top 10 de vinícolas para visitar. Ficamos acima do Château Margaux.

O executivo detalha que os vinhos da Garzón estão em 60 países:

— A grande surpresa é que nosso principal consumidor é o Uruguai. Nunca pensamos nisso. O segundo principal destino é o Brasil. O terceiro é os Estados Unidos. Depois vêm países como Japão, Canadá, Suécia. Acho que é um reconhecimento, que vai da Decanter, no Reino Unido, à Wine Spectator, nos Estados Unidos, passando por especialistas do Japão e do Brasil. Temos a liderança de Alejandro Bulgheroni, que aceitou o risco. Em 10 anos, construímos uma nova apelação no mundo do vinho. Não existia Garzón nem Maldonado. E temos a sabedoria de Alberto Antonini (consultor do projeto). Ele não quer assinar os rótulos, mas dá confiança e empodera ao enólogo Germán Bruzzone.

Além dos 10 anos da Garzón, serão comemorados os 25 anos da World Wine. O vinho escolhido para a celebração foi o Single Vineyard Petit Verdot:

— Somos a principal marca da importadora World Wine. E o vinho que vai marcar esse aniversário é nosso Petit Verdot, um vinho de muita personalidade.

Wylie também destacou a chegada ao Brasil do novo Field Blend Orange. O vinho nasce da união de cinco variedades: Riesling, Verdejo, Vermentino, Petit Manseng e Alvarinho. Acompanha bem queijos maduros, frutos do mar e comida asiática.

— Ele está disponível há meses na vinícola, no nosso restaurante. Muitos brasileiros conhecem. Apresentamos o vinho no Descorchados em abril, mas a importação atrasou. O laranja é polêmico. Todo mundo fala de vinhos naturais, de laranja, que tem que ser hippie, mas não é esse caso. Isso é aproveitar a tendência de apresentar vinhos defeituosos. Essa é forma como os vinhos brancos eram feitos no século XIX. Basicamente, como o vinho tinto, com as cascas.

O executivo explica que as uvas são colhidas no mesmo dia:

— No nosso caso, as variedades estão em parcelas diferentes, mas são colhidas no mesmo dia e cofermentadas com as cascas em concreto e guardadas também com as cascas por 100 dias. É muito, mas temos tecnologia para manter o vinho resfriado em aço inoxidável. Quando engarrafamos, não adicionamos sulfito. É como se fazia no passado, um vinho natural.

Wylie apresentou ainda o Petit Clos Pinot Noir 2020, feito com a parcela 87 dos vinhedos da Garzón:

— É a parcela que, para nós, dá a melhor fruta de Pinot Noir. É um clone da Borgonha, e o vinhedo é plantado com orientação sudeste. Pega um pouco de sol de manhã, e o resto do dia está à sombra. As uvas são colhidas num momento de máxima frescura da fruta, evitamos álcool excessivo, sobrematuração. E a Garzón é uma apelação fria, extrema, com muito vento que vem do Sul, da Antártica, muita chuva. É mais parecido à Europa. Então você vai encontrar um Pinot Noir com uma cor delicada e uma fruta, um perfume e um corpo mais parecidos aos Pinot Noirs da Borgonha. Como é uma só parcela, elaboramos só 3.500 garrafas para o mundo todo. É muito gastronômico, leve, fácil de tomar e com muito equilíbrio.

Ele explica que o vinhedo de Petit Verdot foi plantado na mesma colina, só que voltado para o Noroeste.

— Isso permite a uva amadurecer, protegida do frio, exposta ao sol. É o oposto do Pinot Noir. A Petit Verdot, em geral, precisa de um ciclo longo para amadurecer. É a uva tinta que colhemos mais tarde. A Petit Verdot é considerada a arma secreta dos grandes châteaux de Bordeaux, de Médoc. Existem poucos vinhos 100% Petit Verdot. Em geral, são de países do Novo Mundo: Estados Unidos, Chile, Austrália, Argentina. Mas são todos climas secos, desérticos, o que deixa o Petit Verdot como um fisioculturista. Mas na Garzón, pela latitude, pelo clima e pelo solo, é muito parecido com Médoc. É equilibrado, com notas de couro, grafite, com um pouco de moca. É colhido manualmente, fermentado em cimento com levedura nativa, com gelo seco para uma fermentação fria. Depois passa ao carvalho francês, sem tostar, de 5 mil litros, por 14 meses.

Já o Balasto é um blend feito apenas nas melhores safras, com as uvas das melhores parcelas de castas tintas.

— No caso do ano 2020, foi a melhor safra histórica do Uruguai, a melhor safra em 60 anos. O que fez com que tenha sido uma colheita exata, perfeita, mas no ano da pandemia. Estávamos na metade da festa da vindima, da alegria. Com a Covid, tivemos que colher com máscaras, o que fez tudo mais difícil. Mas o Balasto é um espetáculo, a melhor versão, o que é bastante coerente porque o vinho vai melhorando. Com o tempo, as raízes das vinhas estão cada vez mais penetradas na rocha-mãe, no granito, e isso o faz mais mineral, mais etéreo.

Wylie explica que o Balasto 2020 é um corte de Tannat, Cabernet Franc e Petit Verdot.

— Tem a frescura e o balsâmico do Cabernet Franc, sem ter notas pirazínicas (do pimentão). Tem a potência do Tannat; e a elegância, a capacidade de guarda e o equilíbrio do Petit Verdot. É um vinho que elaboramos com muito cuidado, colhemos quando as sementes da uva estão crocantes, quando o tanino está maduro. Não sobremaduramos a uva, não queremos muito álcool nem sobre-extraímos. Todas são vinificadas em concreto em separado. Depois o amadurecimento ocorre em carvalho francês, sem tostar. Na hora de fazer o corte, seguimos o Norte que dita Alejandro Bulgheroni, o proprietário. Ele quer equilíbrio, o que é o mais difícil.

Christian Wylie enfatiza que o Balasto é a obra-prima da Garzón, com as assinaturas do premiado consutor internacional Alberto Antonini e do também premiado enólogo uruguaio Germán Bruzzone:

— O Balasto é um desafio fantástico. Buscamos expressar o lugar, a acidez natural que faz com que seja um vinho muito gastronômico, a mineralidade que faz com que seja super leve, fácil de tomar, com muita fruta, textura, estrutura.

Após ser engarrafado, o vinho ainda passa um ano na vinícola, antes de ser lançado na França, na Place de Bordeaux:

— É o único vinho do Uruguai que se vende com negociantes. Foi o terceiro, no seu momento, da América do Sul. Mas foi o primeiro na place, sem padrinho, sem a ajuda de um francês. Fomos sozinhos com a garrafa. É uma honra estar naquele local de máximo prestígio. Obviamente, significa que você tem que estar perfeito, trabalhando muito e construindo a marca.

Para o Brasil, a World Wine tem uma alocação de 3 mil garrafas do Balasto, das 27 mil produzidas.

Christian Wylie recebeu em 2023 o prêmio Wine Executive of the Year, da Wine Enthusiast no Wine Star Awards, considerado o “Oscar” do vinho nos Estados Unidos.

— Eles premiaram pela primeira vez um executivo que não era americano. Recebi o prêmio basicamente por tudo o que a Garzón conquistou, trazendo ao mundo este estilo de Tannat, fácil de beber, agradável. O presidente do Uruguai diz que o melhor embaixador do Uruguai é o Balasto, e presenteou o presidente francês Emmanuel Macron com um. Também há nosso Alvarinho e nosso Rosé. E apresentamos o terroir de Maldonado, além da sustentabilidade e o enoturismo.

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