fevereiro, 2024

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Artigo: O Cerrado e o G20: à espera de soluções

Por Mercedes Bustamante, Professora titular da Universidade de Brasília, membro da Academia Brasileira de Ciências

O Brasil ocupa a presidência rotativa do chamado G20 até 30 de novembro de 2024. O grupo inclui 19 países, a União Europeia e a União Africana, é o principal fórum de cooperação econômica internacional, definindo e fortalecendo a arquitetura e a governança global das principais questões econômicas do mundo.

Controlando 84% da economia global, as nações do G20 representam um vetor importante de desenvolvimento e crescimento, mas também respondem pelas grandes crises ambientais globais em decorrências de padrões insustentáveis de produção e consumo. O G20 pode e deve liderar escolhas presentes e futuras que nos recoloquem na trajetória de atingimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável até 2030.

Ao assumir a Presidência do G20, em dezembro de 2023, o Brasil definiu, acertadamente, a inclusão social, o combate à fome e o desenvolvimento sustentável como prioridades, com ênfase na necessidade de financiamento dentro do G20 para combater as mudanças climáticas e promover a sustentabilidade global. Para o Grupo de Trabalho de Meio Ambiente e Sustentabilidade Climática do G20, a presidência brasileira do G20 propôs quatro eixos temáticos: 1. Adaptação preventiva e emergencial a eventos climáticos extremos; 2. Pagamentos por serviços ecossistêmicos; 3. Oceanos; 4. Resíduos e economia circular.

Considerando as implicações que as mudanças no uso do solo têm sobre o clima, a biodiversidade e ecossistemas, a situação atual do bioma Cerrado deveria estar no centro das discussões e ações que envolvem os eixos de adaptação a eventos climáticos extremos, pagamentos por serviços ecossistêmicos e economia circular e por consequência, o financiamento sustentável.

No início de 2024, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostraram uma redução de 50% do desmatamento na Amazônia (área desmatada de 5.151,6 km²) em 2023, mas uma alta de 43% na conversão do Cerrado (perda de 7.828,2 km² de vegetação nativa) no mesmo período. O índice no Cerrado é o maior desde 2019, que é o período inicial da série histórica do Deter e é a primeira vez em cinco anos que a área convertida anualmente no Cerrado é maior do que na Amazônia.

A maior perda de vegetação concentrou-se, como em anos anteriores, na região conhecida como Matopiba, que inclui Maranhão, Bahia, Tocantins e Piauí, representando um avanço significativo sobre os fragmentos mais preservados do Cerrado. Em novembro de 2023, o MMA lançou o PPCerrado (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado) com a meta de alcançar o desmatamento zero no bioma até 2030. São seis anos que demandarão ações robustas e ambiciosas em um contexto de fortes resistências de setores ligados ao agronegócio.

Há evidências científicas sólidas de que os ecossistemas e sua biodiversidade contribuem significativamente para o bem-estar humano e para a economia, e a conservação ou restauração do estado da natureza está no centro da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Conectar a natureza ao bem-estar humano é central para tomar decisões políticas eficazes.

Identificada como uma estratégia para o imperativo imposto pelas crises globais, a bioeconomia é um setor em crescimento e, cada vez mais, um paradigma emergente no qual os recursos biológicos fornecem a base para o valor e os bens econômicos. A criação de novas cadeias de valor de base biológica pode ajudar na valorização e conservação da biodiversidade e estimular o desenvolvimento sustentável com base em recursos renováveis locais.

Aqui, novamente, o Cerrado, como a savana de maior diversidade biológica no mundo, deveria ser alvo de atenção prioritária. No entanto, até o momento, as visões prevalentes de bioeconomia têm se concentrado principalmente na extração de bens da natureza e, muitas vezes, sem considerar a integridade de ecossistemas que são cruciais para sociedades sustentáveis em longo prazo. Adicionalmente, garantir que diferentes grupos e visões de mundo, incluindo as relações com a natureza, terão participação ativa nas decisões e distribuição equitativa dos benefícios de diferentes formas de Bioeconomia.

O requisito mínimo para a Bioeconomia que o Brasil deve almejar é que sejam conservados os ecossistemas existentes e sua diversidade biológica e restaurados aqueles já degradados enquanto são combatidas injustiças sociais oriundas da apropriação dos recursos e benefícios ambientais por poucos.

O Brasil tem na interface entre uma Bioeconomia com base na sociobiodiversidade e nos serviços ecossistêmicos uma oportunidade singular de aliar sistemas de conhecimento tradicional e científico, governança inclusiva e políticas inovadoras para pavimentar uma trajetória promissora de sustentabilidade. A situação crítica de conservação do Cerrado e seu reconhecido papel no provimento de serviços ecossistêmicos, sua riqueza de espécies e de culturas faz desse bioma uma escolha estratégica para começar a implementar tal trajetória.

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Artigo: O Cerrado e o G20: à espera de soluções

Por Mercedes Bustamante, Professora titular da Universidade de Brasília, membro da Academia Brasileira de Ciências

O Brasil ocupa a presidência rotativa do chamado G20 até 30 de novembro de 2024. O grupo inclui 19 países, a União Europeia e a União Africana, é o principal fórum de cooperação econômica internacional, definindo e fortalecendo a arquitetura e a governança global das principais questões econômicas do mundo.

Controlando 84% da economia global, as nações do G20 representam um vetor importante de desenvolvimento e crescimento, mas também respondem pelas grandes crises ambientais globais em decorrências de padrões insustentáveis de produção e consumo. O G20 pode e deve liderar escolhas presentes e futuras que nos recoloquem na trajetória de atingimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável até 2030.

Ao assumir a Presidência do G20, em dezembro de 2023, o Brasil definiu, acertadamente, a inclusão social, o combate à fome e o desenvolvimento sustentável como prioridades, com ênfase na necessidade de financiamento dentro do G20 para combater as mudanças climáticas e promover a sustentabilidade global. Para o Grupo de Trabalho de Meio Ambiente e Sustentabilidade Climática do G20, a presidência brasileira do G20 propôs quatro eixos temáticos: 1. Adaptação preventiva e emergencial a eventos climáticos extremos; 2. Pagamentos por serviços ecossistêmicos; 3. Oceanos; 4. Resíduos e economia circular.

Considerando as implicações que as mudanças no uso do solo têm sobre o clima, a biodiversidade e ecossistemas, a situação atual do bioma Cerrado deveria estar no centro das discussões e ações que envolvem os eixos de adaptação a eventos climáticos extremos, pagamentos por serviços ecossistêmicos e economia circular e por consequência, o financiamento sustentável.

No início de 2024, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostraram uma redução de 50% do desmatamento na Amazônia (área desmatada de 5.151,6 km²) em 2023, mas uma alta de 43% na conversão do Cerrado (perda de 7.828,2 km² de vegetação nativa) no mesmo período. O índice no Cerrado é o maior desde 2019, que é o período inicial da série histórica do Deter e é a primeira vez em cinco anos que a área convertida anualmente no Cerrado é maior do que na Amazônia.

A maior perda de vegetação concentrou-se, como em anos anteriores, na região conhecida como Matopiba, que inclui Maranhão, Bahia, Tocantins e Piauí, representando um avanço significativo sobre os fragmentos mais preservados do Cerrado. Em novembro de 2023, o MMA lançou o PPCerrado (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado) com a meta de alcançar o desmatamento zero no bioma até 2030. São seis anos que demandarão ações robustas e ambiciosas em um contexto de fortes resistências de setores ligados ao agronegócio.

Há evidências científicas sólidas de que os ecossistemas e sua biodiversidade contribuem significativamente para o bem-estar humano e para a economia, e a conservação ou restauração do estado da natureza está no centro da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Conectar a natureza ao bem-estar humano é central para tomar decisões políticas eficazes.

Identificada como uma estratégia para o imperativo imposto pelas crises globais, a bioeconomia é um setor em crescimento e, cada vez mais, um paradigma emergente no qual os recursos biológicos fornecem a base para o valor e os bens econômicos. A criação de novas cadeias de valor de base biológica pode ajudar na valorização e conservação da biodiversidade e estimular o desenvolvimento sustentável com base em recursos renováveis locais.

Aqui, novamente, o Cerrado, como a savana de maior diversidade biológica no mundo, deveria ser alvo de atenção prioritária. No entanto, até o momento, as visões prevalentes de bioeconomia têm se concentrado principalmente na extração de bens da natureza e, muitas vezes, sem considerar a integridade de ecossistemas que são cruciais para sociedades sustentáveis em longo prazo. Adicionalmente, garantir que diferentes grupos e visões de mundo, incluindo as relações com a natureza, terão participação ativa nas decisões e distribuição equitativa dos benefícios de diferentes formas de Bioeconomia.

O requisito mínimo para a Bioeconomia que o Brasil deve almejar é que sejam conservados os ecossistemas existentes e sua diversidade biológica e restaurados aqueles já degradados enquanto são combatidas injustiças sociais oriundas da apropriação dos recursos e benefícios ambientais por poucos.

O Brasil tem na interface entre uma Bioeconomia com base na sociobiodiversidade e nos serviços ecossistêmicos uma oportunidade singular de aliar sistemas de conhecimento tradicional e científico, governança inclusiva e políticas inovadoras para pavimentar uma trajetória promissora de sustentabilidade. A situação crítica de conservação do Cerrado e seu reconhecido papel no provimento de serviços ecossistêmicos, sua riqueza de espécies e de culturas faz desse bioma uma escolha estratégica para começar a implementar tal trajetória.

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O Brasil ocupa a presidência rotativa do chamado G20 até 30 de novembro de 2024. O grupo inclui 19 países, a União Europeia e a União Africana, é o principal fórum de cooperação econômica internacional, definindo e fortalecendo a arquitetura e a governança global das principais questões econômicas do mundo.

Controlando 84% da economia global, as nações do G20 representam um vetor importante de desenvolvimento e crescimento, mas também respondem pelas grandes crises ambientais globais em decorrências de padrões insustentáveis de produção e consumo. O G20 pode e deve liderar escolhas presentes e futuras que nos recoloquem na trajetória de atingimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável até 2030.

Ao assumir a Presidência do G20, em dezembro de 2023, o Brasil definiu, acertadamente, a inclusão social, o combate à fome e o desenvolvimento sustentável como prioridades, com ênfase na necessidade de financiamento dentro do G20 para combater as mudanças climáticas e promover a sustentabilidade global. Para o Grupo de Trabalho de Meio Ambiente e Sustentabilidade Climática do G20, a presidência brasileira do G20 propôs quatro eixos temáticos: 1. Adaptação preventiva e emergencial a eventos climáticos extremos; 2. Pagamentos por serviços ecossistêmicos; 3. Oceanos; 4. Resíduos e economia circular.

Considerando as implicações que as mudanças no uso do solo têm sobre o clima, a biodiversidade e ecossistemas, a situação atual do bioma Cerrado deveria estar no centro das discussões e ações que envolvem os eixos de adaptação a eventos climáticos extremos, pagamentos por serviços ecossistêmicos e economia circular e por consequência, o financiamento sustentável.

No início de 2024, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostraram uma redução de 50% do desmatamento na Amazônia (área desmatada de 5.151,6 km²) em 2023, mas uma alta de 43% na conversão do Cerrado (perda de 7.828,2 km² de vegetação nativa) no mesmo período. O índice no Cerrado é o maior desde 2019, que é o período inicial da série histórica do Deter e é a primeira vez em cinco anos que a área convertida anualmente no Cerrado é maior do que na Amazônia.

A maior perda de vegetação concentrou-se, como em anos anteriores, na região conhecida como Matopiba, que inclui Maranhão, Bahia, Tocantins e Piauí, representando um avanço significativo sobre os fragmentos mais preservados do Cerrado. Em novembro de 2023, o MMA lançou o PPCerrado (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado) com a meta de alcançar o desmatamento zero no bioma até 2030. São seis anos que demandarão ações robustas e ambiciosas em um contexto de fortes resistências de setores ligados ao agronegócio.

Há evidências científicas sólidas de que os ecossistemas e sua biodiversidade contribuem significativamente para o bem-estar humano e para a economia, e a conservação ou restauração do estado da natureza está no centro da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Conectar a natureza ao bem-estar humano é central para tomar decisões políticas eficazes.

Identificada como uma estratégia para o imperativo imposto pelas crises globais, a bioeconomia é um setor em crescimento e, cada vez mais, um paradigma emergente no qual os recursos biológicos fornecem a base para o valor e os bens econômicos. A criação de novas cadeias de valor de base biológica pode ajudar na valorização e conservação da biodiversidade e estimular o desenvolvimento sustentável com base em recursos renováveis locais.

Aqui, novamente, o Cerrado, como a savana de maior diversidade biológica no mundo, deveria ser alvo de atenção prioritária. No entanto, até o momento, as visões prevalentes de bioeconomia têm se concentrado principalmente na extração de bens da natureza e, muitas vezes, sem considerar a integridade de ecossistemas que são cruciais para sociedades sustentáveis em longo prazo. Adicionalmente, garantir que diferentes grupos e visões de mundo, incluindo as relações com a natureza, terão participação ativa nas decisões e distribuição equitativa dos benefícios de diferentes formas de Bioeconomia.

O requisito mínimo para a Bioeconomia que o Brasil deve almejar é que sejam conservados os ecossistemas existentes e sua diversidade biológica e restaurados aqueles já degradados enquanto são combatidas injustiças sociais oriundas da apropriação dos recursos e benefícios ambientais por poucos.

O Brasil tem na interface entre uma Bioeconomia com base na sociobiodiversidade e nos serviços ecossistêmicos uma oportunidade singular de aliar sistemas de conhecimento tradicional e científico, governança inclusiva e políticas inovadoras para pavimentar uma trajetória promissora de sustentabilidade. A situação crítica de conservação do Cerrado e seu reconhecido papel no provimento de serviços ecossistêmicos, sua riqueza de espécies e de culturas faz desse bioma uma escolha estratégica para começar a implementar tal trajetória.

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Os donos de pets que gastam com comida ‘de gente’ para seus bichos

Wednesday é uma cadela mestiça de pastor-alemão e husky siberiano.

Quando a adotou, sua tutora Amy Barkham já estava decidida a alimentar Wednesday (“Quarta-Feira”, em inglês) com ração de cachorro de primeira qualidade.

Ela pesquisou na internet, leu rótulos e saiu em busca de análises para selecionar marcas de ração britânicas que fossem nutricionalmente equilibradas, livres de cereais e oferecessem os benefícios de ingredientes de primeira linha, incluindo frangos criados ao ar livre e “legumes e aromas vegetais iguais à alimentação dos ancestrais do seu cachorro”.

Barkham tem 22 anos. Ela descreve Wednesday como “a maior reserva de energia que já conheci”.

Mas a cadela não demonstrou interesse pela ração livre de cereais que sua tutora comprou. Na verdade, ela preferia brincar com sua abóbora de pelúcia.

Depois de um mês, Wednesday começou a recusar por completo a comida. Sua greve de fome acabou fazendo com que ela perdesse muito peso.

Barkham não sabia o que fazer. Ela já estava pagando mais de 50 libras (cerca de R$ 313) por saco de 15 kg de ração seca das marcas que ela escolheu, a cada cinco semanas, mais ou menos.

O que mais a sua cachorra poderia querer? Será que iria custar ainda mais caro?

A resposta: Wednesday queria ração de cachorro de grau humano.

O preço desse tipo de ração pode fazer seus tutores chegarem às lágrimas. Mas, com o aumento das ofertas disponíveis no mercado, a ração de grau humano vem despertando cada vez mais interesse dos donos de cães e gatos.

“Grau humano” não é uma expressão nova. Mas sua definição, no início, era imprecisa.

Para alguns consumidores, “grau humano” era simplesmente sinônimo de melhor qualidade – ou indicava a noção de que, se é boa para os seres humanos, deve ser boa para os animais.

Mas, nos últimos dois anos, foram estabelecidos novos padrões nos EUA, no Reino Unido e na União Europeia. E esses padrões trouxeram regulamentações mais rigorosas.

“Grau humano” é a ração animal produzida de forma consistente com as normas em vigor para produtos alimentícios para consumo imediato por seres humanos.

Barkham descobriu esta opção em 2022, durante uma exposição de cães em Londres. Ela conheceu o alimento para cães fresco e suavemente cozido da marca britânica Tuggs, que inclui vegetais visualmente reconhecíveis como brócolis e cenouras, além de proteínas de bacalhau, porco, carne bovina, galinha – e até de insetos.

Ela aprovou tanto os benefícios nutricionais anunciados quanto o seu compromisso com a sustentabilidade. E, mesmo tendo dificuldade em imaginar sua cadela aceitando um alimento com proteína de insetos depois de rejeitar a ração premium, Barkham decidiu arriscar.

Wednesday adorou.

Produzida fresca e rapidamente congelada, a ração da cadela agora chega congelada em sacos plásticos e embalagens externas com isolamento térmico.

Barkham agora reserva 150 libras (cerca de R$ 939) por mês para o débito automático da entrega da comida e dos petiscos de Wednesday – só a comida custa cerca de 90 libras (cerca de R$ 563) a cada quatro semanas.

O aumento do gasto é significativo. Mas, para Barkham, abrir espaço no orçamento para um alimento de alta qualidade que satisfaça todas as necessidades da sua cachorra – e dela própria – vale a pena. Mesmo se causar “alguns pequenos sacrifícios, como pedir comida para entrega em casa menos vezes por mês”.

O maior problema é que “como moramos em um apartamento pequeno, com uma pequena geladeira, agora só temos uma gaveta para a comida humana”.

Muitos tutores de cães e gatos têm observado marcas de todo o mundo anunciarem ração para pets rica em nutrientes que não parece tão diferente de pratos para humanos. Alguns exemplos são as marcas Perfect Bowl, Smalls, The Farmer’s Dog e Elmut.

Cada vez mais tutores de animais domésticos estão encomendando esses produtos, muitos deles produzidos por startups de comércio eletrônico em forma de assinatura. Assim, eles cedem ao impulso irresistível de oferecer aos seus amados pets os alimentos mais completos e nutritivos que eles podem comprar – mesmo ignorando toda a lógica financeira.

Chefs para os pets

A Associação Norte-Americana de Produtos para Pets estima que os americanos gastaram US$ 58,1 bilhões (cerca de R$ 289 bilhões) em alimentos e petiscos para animais de estimação em 2022.

No Reino Unido, a organização UK Pet Food avaliou os gastos dos britânicos em 2023 em 3,8 bilhões de libras (cerca de R$ 23,8 bilhões).

Mas a indústria moderna das rações para pets, apesar do seu imenso tamanho atual, é relativamente nova – que dirá o setor das rações premium.

“Por grande parte do século 20, os animais de estimação foram alimentados com restos de cozinha, como sobras de carne e ossos, que eram disponíveis mais facilmente e com baixo custo”, afirma a pesquisadora em grau de PhD Natalia Ciecierska-Holmes. Ela estuda dietas alternativas para cães e seres humanos na Universidade de Adelaide, na Austrália, e na Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

A pesquisadora conta que um alimento popular para cães nos anos 1920 era carne de cavalo em lata. E as empresas fabricantes de ração para animais de estimação só foram fundadas nos anos 1950, vendendo ração seca derivada da extrusão de ingredientes secos e úmidos para formar um produto não perecível.

Ciecierska-Holmes relembra um momento marcante, que fez com que as pessoas começassem a procurar alimentos alternativos para pets: um recall global de ração comercial ocorrido em 2007.

Naquele ano, a Administração de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) encontrou glúten de trigo contaminado com melamina e ácido cianúrico na cadeia de fornecimento, o que causou a morte de 14 gatos e um cachorro.

“Esse recall gerou desconfiança no sistema de ração comercial para pets [e gerou] o desejo de maior controle sobre a origem desses ingredientes”, explica a pesquisadora.

Atualmente, muitos fabricantes de ração para pets anunciam ingredientes especializados e oferecem misturas para dietas especiais. Muitos oferecem carnes de animais exóticos, “como veado, coelho e canguru, consideradas mais sustentáveis” nos países onde são vendidas, explica Ciecierska-Holmes.

Uma das primeiras tendências premium deste segmento de mercado foi a “alimentação crua”. “A alimentação crua se originou como dieta feita em casa, com os tutores buscando seus próprios ingredientes”, segundo a pesquisadora.

Esta prática foi comercializada e, hoje, “os consumidores podem escolher a conveniência do alimento cru já preparado por marcas especializadas de ração crua para pets e por quantidades cada vez maiores de ‘açougueiros de pets’.”

O que há de melhor para o melhor amigo do homem

A forma como as pessoas compram e priorizam certos produtos no imenso mercado de rações para pets, segundo Ciecierska-Holmes, é definida pelas mudanças das perspectivas socioculturais sobre como os seres humanos veem os animais.

O economista e professor de nutrição global Sean B. Cash, da Escola Friedman de Política e Ciência da Nutrição da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, é da mesma opinião.

Essencialmente, segundo ele, a preocupação cada vez maior dos tutores sobre como alimentar seus animais de estimação se resume ao crescente antropomorfismo ou “humanização” dos seus companheiros animais.

Cash e seus colegas pesquisaram quais os fatores que determinam as decisões de compra de ração para pets. Eles descobriram o que chamaram de “disparidade de priorização de saúde”.

Resumidamente, quase a metade dos tutores de pets pesquisados priorizam a compra de alimentos saudáveis para seus animais, em detrimento de si próprios.

Agora, além de tocar os corações dos dedicados tutores que só querem o melhor para os seus companheiros, as marcas de rações de luxo também procuram anunciar exatamente os mesmos benefícios que eles próprios iriam querer na sua alimentação.

Elas rotulam seus produtos com expressões como “grau humano”, “natural”, “livre de cereais” e “holístico”, mas muitas dessas denominações não são regulamentadas, segundo Ciecierska-Holmes.

Na busca pela diferenciação, as marcas apresentam propostas de venda exclusivas. Elas variam das propostas criativas e embasadas pelas pesquisas – como a preparação fresca, proteínas alternativas e cadeias de suprimento transparentes – até os nichos de mercado, como ração sem glúten, ração kosher para a Páscoa judaica e ração com peru, espinafre e cranberry.

Como diz Cash, elas oferecem “não apenas o peru, mas todo o banquete de Ação de Graças”.

Harry Bremner é o fundador da Tuggs, a marca adotada por Amy Barkham para a ração de Wednesday. Para ele, o sucesso de vendas da ração para pets “grau humano” reflete a tendência de promover o bem-estar nas indústrias humanas.

Bremner conta que alguns consumidores estão interessados em marcas que priorizem a sustentabilidade como reflexo das suas preocupações com seu próprio estilo de vida.

Os consumidores sabem que os animais de estimação “têm uma pegada de carbono similar à deles próprios… e isso [os] está levando a comprar produtos mais sustentáveis”, explica ele.

Hora do jantar

Os consumidores que encomendam ração para pets selecionada por verdadeiros chefs e entregue nas suas portas toda semana podem se sentir bem com suas decisões de compra, especialmente quando seus cães e gatos comem com gosto.

Isso é importante para a paz de espírito das pessoas, mas especialistas destacam que essa tendência pode ser mais para bem-estar do humano do que para o seu melhor amigo animal. Muitos deles acreditam que uma dieta especializada mais cara nem sempre garante melhor nutrição.

Algumas tendências do mercado de rações, como os alimentos inteiros, são baseadas em pesquisas veterinárias.

“Foram documentados benefícios à saúde [do sistema imunológico] dos alimentos inteiros para cães, em comparação com alimentos processados, como a ração”, explica o veterinário Patrick Mahaney, da Califórnia, nos Estados Unidos. Ele faz referência a um teste clínico publicado em 2022.

Mas não é tão simples saber ao certo se a ração para pets de grau humano realmente está promovendo a nutrição dos animais de forma que outros alimentos não conseguem, ou mesmo criando menos emissões de carbono no seu caminho até a tigela.

Ainda assim, as vendas cada vez maiores e o surgimento de novos concorrentes no mercado demonstram a crescente demanda dos consumidores.

Para Amy Barkham, a transição foi a escolha correta, apesar do alto preço. Ver sua mascote manter o peso, com seu pelo brilhante e fezes saudáveis – e, principalmente, sua alegria – vale a pena.

“Toda noite, às sete horas, Wednesday começa a cantar a música do seu povo para nos lembrar que é hora do jantar”, ela conta.

*Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Worklife.

Ano bissexto: 6 tradições ao redor do mundo para celebrar o dia extra de 2024

A cada quatro anos, uma peculiaridade da órbita da Terra nos dá um dia extra: 29 de fevereiro. Júlio César introduziu anos bissextos há mais de 2 mil anos para manter o ano civil sincronizado com o ano astronômico e sazonal, trazendo muitas tradições inusitadas. Como 2024 é um ano bissexto e conhecer uma cultura diferente é a motivação para viajar de 78%* dos viajantes brasileiros, a Booking.com descobriu alguns costumes peculiares pelo mundo. Desde pedidos de casamento até um macarrão especial, os viajantes aventureiros podem se conectar com a cultura de um país por meio dessas tradições únicas.

Kildare, Irlanda

O condado de Kildare está a menos de 1 hora da capital irlandesa de Dublin e é conhLEIA TAMBÉM: CVC se prepara para a baixa temporada com promoções e produtos exclusivosecido pela tradição onde as mulheres pedem os homens em casamento no ano bissexto. Não é preciso dizer que hoje em dia não existem regras sobre quem pede quem em casamento, mas acredita-se que esse costume remonte ao século V na Irlanda, quando Santa Brígida de Kildare reclamou que as jovens solteiras tinham que esperar muito tempo para os homens as pedirem em casamento. Assim, foi declarado um dia conhecido como “Ladies Privilege”, em que as mulheres tinham permissão para fazer o pedido ajoelhadas, e a prática se espalhou rapidamente pela Europa e outras partes do mundo. Hoje, Kildare oferece aos viajantes a oportunidade de escapar do comum, com sua mitologia irlandesa e igrejas antigas. É possível fazer um bate e volta em um passeio pelas Falésias de Moher e Galway com saída de Dublin, ao longo da Wild Atlantic Way, para descobrir os rochedos e essa cidade boêmia.

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O The Rooms at Cunningham’s fica no centro de Kildare, a poucos passos da Catedral de Santa Brígida. Nesse pub tradicional conhecido por sua música irlandesa ao vivo e ambiente amigável, os visitantes serão recebidos por uma equipe acolhedora. Além disso, o restaurante da pousada serve pratos da culinária tailandesa, desde lámen de Phuket até carne de Bangkok, além de muitas opções vegetarianas.

The Rooms at Cunningham’s (Foto: Divulgação)

Anthony, Texas, Estados Unidos

Nos Estados Unidos, há um festival do ano bissexto na cidade de Anthony, na fronteira entre o Texas e o Novo México, agora autoproclamada a Capital Mundial do Ano Bissexto. A cada 4 anos, pessoas de todo o mundo nascidas em 29 de fevereiro se reúnem para celebrar sua rara data de nascimento com um festival prolongado cheio de música ao vivo, comida local e diversão. As festividades deste ano incluem uma celebração exclusiva para quem nasceu no dia extra do ano bissexto, seguida por um festival de dois dias no Ernie Rascon Memorial Park, com desfiles, passeios de balão de ar quente e barracas de enchiladas e tamales. Além da festa, o viajante pode conhecer o amplo condado de El Paso e sua variedade de museus, feiras e microcervejarias, e aprender sobre as comunidades indígenas da região pela sua arte e gastronomia.

O Best Western Anthony/West El Paso fica a uma curta caminhada do Ernie Rascon Memorial Park e a uma rápida viagem de carro do Sunland Park Racetrack. Esse hotel no deserto dispõe de piscina ao ar livre, banheira de hidromassagem e academia. Os quartos com upgrade também incluem banheira de hidromassagem.

Best Western Anthony West El Paso (Foto: Divulgação)

Traben-Trarbach, Renânia-Palatinado, Alemanha

No sudoeste da Alemanha, no estado da Renânia-Palatinado, há uma antiga tradição onde os meninos apaixonados colocam o presente de uma pequena bétula decorada com fitas na porta da pessoa amada na véspera do Dia de Maio, que acontece na primeira segunda-feira de maio. Mas, durante um ano bissexto, as garotas podem fazer o mesmo e deixar o presente na porta da pessoa dos seus sonhos. Para os românticos, Traben-Trarbach é uma cidade vinícola ao longo do Rio Mosel, na região da Renânia. Além de vinhedos e vistas do Vale do Reno, o viajante pode descobrir as ruínas do castelo, a arquitetura Jugendstil e o portão diferenciado da cidade. Como alternativa, é possível participar de um passeio guiado em Koblenz pela Festung Ehrenbreitstein, perto do Rio Mosel, e ter oportunidade de conhecer essa fortaleza situada no ponto norte do Vale do Alto Médio Reno, declarado Patrimônio Mundial da UNESCO.

O apartamento LOFT17 Neu Luxus-Loft Design Klima 2-4 Personen possui uma varanda com vista do rio e é ideal para casais e famílias. O local é espaçoso e dispõe de dois quartos, cozinha totalmente equipada, área para refeições ao ar livre, instalações para hóspedes com mobilidade reduzida e estacionamento grátis. Tendo a sustentabilidade como prioridade, essa acomodação oferece uma estação de recarga de veículos elétricos e lixeiras para reciclagem, além de compensar uma parte da sua pegada de carbono.

LOFT17 Neu Luxus-Loft Design Klima 2-4 Personen (Foto: Divulgação)

Taichung, Taiwan

Não é um período favorável para a geração mais antiga em Taiwan, pois há uma crença de que os idosos têm mais chances de falecer em um ano bissexto. Para aumentar suas chances de sobrevivência, é costume que as filhas preparem macarrão com pé de porco para seus pais. Acredita-se que esse prato traga boa saúde e fortuna, e a massa deve ser servida longa e inteira para simbolizar a longevidade. Em Taichung, lojas de macarrão são encontradas perto de templos, e a superstição dita que a tigela precisa ser virada antes que os comensais possam começar a comer, representando uma virada completa de sorte. Essa cidade na costa oeste de Taiwan é repleta de delícias culinárias. Vale visitar o restaurante Bib Gourmand Fu Din Wang, especializado em pés de porco provenientes de fazendas locais e cozidos em uma marinada à base de soja, ou o famoso Mercado Noturno de Fengjia, que oferece massas e outras iguarias locais, desde tofu fedido até sorvete frito.

O moderno hostel OLAH Poshtel – Taichung fica a uma curta caminhada das estações de trem Fu Din Wang e Taichung, que oferecem fácil acesso ao resto da cidade. Quartos privativos estão disponíveis, bem como dormitórios, que incluem camas parcialmente fechadas com cortinas de privacidade e luzes de leitura. A acomodação fica a uma curta viagem de carro do Mercado Noturno de Fengjia. Além disso, bicicletas estão disponíveis para aluguel, permitindo descobrir a cidade de uma forma mais sustentável.

OLAH Poshtel – Taichung (Foto: Divulgação)

Londres, Reino Unido

O dia 29 de fevereiro é a ocasião perfeita para fazer um brinde ao ano bissexto e celebrar com uma tradição de coquetéis em Londres. Em 1928, Harry Craddock, um barman que trabalhou no Savoy, inventou um coquetel para marcar as celebrações do dia extra do hotel. Preparado com gin, licor de laranja, vermute doce e um toque de suco de limão, esse drinque agridoce é agora bastante popular. Hoje, o viajante pode visitar o hotel e seu histórico American Bar, o mais antigo bar de coquetéis ainda em funcionamento no Reino Unido, para degustar misturas clássicas e novas criações. Londres tem opções para todos os gostos, desde museus mundialmente famosos a espetáculos no West End, todos próximos a esse hotel. É possível continuar a aventura com os drinques em um passeio de ônibus à tarde para amantes de gin com saída da Trafalgar Square e contemplar pontos turísticos de um ônibus vintage, enquanto saboreia coquetéis e bolos com infusão da bebida.

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O The Savoy, onde o coquetel do dia extra foi inventado, é o local ideal para celebrar a data. Situado às margens do Rio Tâmisa, esse hotel de luxo participante do programa Travel Proud da Booking.com, que data da década de 1880, fica a uma curta caminhada da London Eye e de Covent Garden. Os quartos eduardianos contam com papel de parede de seda e banheiros revestidos em mármore. Além disso, há um o gazebo no jardim de inverno, onde o chá da tarde é servido ao som de piano.

The Savoy (Foto: Divulgação)

Paris, França

Publicado pela primeira vez em 1980, o La Bougie du Sapeur é um jornal satírico francês que só sai a cada 4 anos nas bancas, em 29 de fevereiro, o que o torna o jornal com a publicação menos frequente de todos os tempos. Seu nome vem de um antigo personagem francês de quadrinhos que nasceu nesse dia extra, e o que começou como uma piada entre dois amigos se tornou um fenômeno cultural. A capital francesa, com suas avenidas monumentais, museus repletos de obras-primas e modernas galerias multimídia, é fascinante. Para quem quiser apreciar um pouco mais que o La Bougie du Sapeur, uma boa pedida é fazer um cruzeiro turístico pela cidade ao longo do Rio Sena, para ver pontos turísticos famosos, do Louvre à Catedral de Notre-Dame.

O 5 estrelas SO/ Paris Hotel conta com excelente localização no centro de Paris, oferecendo conexões rápidas para a Gare de Lyon e para a Catedral de Notre-Dame. Esse hotel de luxo moderno disponibiliza aos artistas locais uma plataforma para exibir seus talentos, com espaços públicos repletos de grandes obras de arte contemporânea. As instalações bem equipadas incluem piscina coberta aquecida, centro de bem-estar e spa, bem como restaurante, clube e bar que ocupam os dois últimos andares do edifício.

SO Paris Hotel (Foto: Divulgação)

*Pesquisa encomendada pela Booking.com e realizada de forma independente com 42.513 participantes em 33 mercados. Para participar dessa pesquisa, as pessoas deveriam ter mais de 18 anos, terem viajado pelo menos uma vez nos últimos 12 meses e estarem planejando uma viagem em 2023. Além disso, deveriam ser responsáveis pela decisão ou estarem envolvidas no processo de tomada de decisão da viagem. A pesquisa foi realizada on-line, e ocorreu em janeiro e fevereiro de 2023.

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Erika Hilton se torna 1ª líder parlamentar trans da história do Congresso

A deputada federal Erika Hilton (PSol-SP) foi eleita, nesta quarta-feira (21/2), para o comando da federação PSol-Rede na Câmara dos Deputados.

O feito entra para história do Congresso Nacional já que será Erika será a primeira parlamentar trans a comandar um cargo de liderança. Ela assume o cargo sucedendo o deputado Guilherme Boulos (PSol-SP), que atualmente é candidato à Prefeitura de São Paulo.

A federação que será comandada por Erika conta com 14 parlamentares.

Nas redes sociais, a deputada celebrou a conquista. “Vai ter líder Travesti! Muito orgulhosa se ter sido indicada de maneira unânime como nova líder da bancada do PSOL-Rede na Câmara”, disse ela.

Erika também agradeceu ao partido pela confiança e Guilherme Boulos, por lhe passar o bastâo da liderança.

VAI TER LÍDER TRAVESTI! ??

Muito orgulhosa se ter sido indicada de maneira unânime como nova líder da bancada do PSOL-Rede na Câmara.

Pela 1ª vez na história uma mulher trans liderará uma bancada no Congresso e negociará de igual para igual com todos os líderes partidarios, na… pic.twitter.com/rkGlKzWQIV

— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) February 21, 2024

O ex-líder também comentou a escolha de Erika: “Feliz de passar o bastão para minha amiga e companheira aguerrida. Sem dúvida alguma, fará um trabalho excelente à frente da nossa bancada”, disse Boulos no X (antigo Twitter).

Feliz de passar o bastão para minha amiga e companheira aguerrida @erikakhilton! Sem dúvida alguma, fará um trabalho excelente à frente da nossa bancada. https://t.co/9tMaJTqD25

— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) February 21, 2024

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Marujos Pataxó gravam pela primeira vez um álbum de samba indígena

Há um samba para cada povo, cada ouvido, cada gosto. O samba é universal e tem traços espalhados pelo Brasil inteiro. Os povos indígenas têm uma própria visão do samba. E ela foi registrada pela primeira vez no final de 2023. O disco A força dos encantados, do grupo Marujos Pataxó, mostra ao mundo pela primeira vez o samba de dentro das aldeias que esteve preservado por gerações.

Os Marujos Pataxó decidiram celebrar os próprios encantados em uma mistura de uma batida percussiva de samba que se mantém viva na Aldeia Mãe Barra Velha, no território Pataxó do Sul da Bahia. O samba que propõem transmite uma visão transcendental da própria música, no sentido de superar as circunstâncias e encontrar lugar no sagrado. A força dos encantados é uma mistura de história e da crença espiritual.

Ao Correio, os integrantes Monica Bello, Arypotxe Pataxó e Twry Pataxó falaram em nome dos Marujos Pataxó sobre a importância de registrar esta história que atravessa gerações.

Qual a importância de mostrar o samba indígena para um público mais amplo?

Durante muito tempo, os povos indígenas foram invisibilizados e as pessoas não reconhecem o tamanho da importância e da influência dos povos indígenas para o surgimento de quase tudo que consideramos brasileiro.

Está no nome das cidades, na música, na culinária, na medicina, e a nossa intenção é revelar um pouco disso tudo e dar a oportunidade das pessoas de fora das aldeias terem acesso à nossa música e à cultura, para que, assim, possamos divulgar além da música, nossa arte, nossa história e o nosso conhecimento. Estamos em um local muito importante para o Brasil, pois, além de habitarmos as praias onde os portugueses chegaram, e o Monte Pascoal fazer parte do nosso território; estamos na aldeia em que aconteceu o Massacre de 1951, no qual muitos dos nossos foram assassinados, e foi a Aldeia Mãe Barra Velha que deu origem a todas as outras Aldeias Pataxó. Mesmo estando entre duas vilas turísticas superfamosas (Caraíva e Corumbau), nossas mais de 400 famílias de artistas e artesãos têm muita dificuldade de espaços para apresentar sua arte e seu artesanato. Mesmo com toda essa rica história, arte e cultura, o tráfico, o agronegócio e a especulação imobiliária estão causando a morte de muitos indígenas. Nossa aldeia já foi alvo de muitos massacres e, até hoje, temos muitos indígenas sendo assassinados. Acreditamos que dando visibilidade para a nossa música, arte e cultura, mudaremos essa triste realidade que afronta o nosso povo.

Como foi o processo de fazer este álbum?

Primeiramente, tivemos o desafio de fazer uma gravação de um grupo de mais de 40 pessoas que trazem um estilo musical único que guarda muito sobre a história do Brasil.

O custo desse trabalho era um grande desafio para nós, mas graças ao projeto aprovado no edital Natura Musical, conseguimos o apoio necessário para gravar o primeiro álbum oficial dos Marujos Pataxó.

Queremos muito poder dar inspiração para outros artistas indígenas, órgãos e empresas apoiarem essas iniciativas, pois muitas culturas tradicionais não são devidamente registradas e compartilhadas por falta de apoio e oportunidades. Temos, no Brasil, muitos artistas indígenas talentosos e muitas pessoas praticam o preconceito por não conhecerem as verdadeiras riquezas escondidas nas aldeias que, de verdade, não estão abaixo do solo, mas acima, na sua arte e na sua cultura que não tem preço.

Como a história Pataxó está impressa na música que vocês lançaram?

Houve um tempo em que havia muito preconceito com forte censura e repressão às manifestações religiosas que não fossem para a igreja católica. Os hereges eram duramente castigados e repreendidos. Como única alternativa de dar continuidade às suas manifestações artísticas e culturais, foi preciso unir instrumentos tradicionais com os trazidos pelos jesuítas e adorar os santos da igreja católica com traços da música indígena. Nossos velhos passaram essa cultura para nós e faz parte da nossa história.

Quando aconteceu o terrível massacre de 1951 e dezenas de indígenas foram assassinados, nossa aldeia foi toda incendiada. Todas as casas foram queimadas, e a única coisa que não queimou foi a imagem e a bandeira de Nossa Senhora da Conceição, que é a nossa padroeira.

Quando iniciaram o processo de criação do Parque Nacional do Monte Pascoal, os índios foram proibidos de plantar, não podiam tirar nada na mata, nem fruta nem piaçava. Alguns guerreiros saíram a pé para tentar chegar em Brasília e lutar pelo direito de permanecer nesse território. Passaram frio, fome, trabalhavam em regimes análogos à escravidão em fazendas, mas cumpriram sua missão e voltaram vivos. Todos os dias, os que ficavam oravam muito e quando voltavam na aldeia se comemorava com samba.

Hoje em dia, já podemos cantar no ritmo do samba músicas em patxohã (nossa língua tradicional) e músicas tradicionais como a faixa principal do álbum A força dos encantados, que é uma mistura de músicas cantada nos rituais sagrados do povo pataxó. Acreditamos muito nos encantados por aqui. Eles nos protegem, protegem as florestas e estão conosco nos guiando e nos ajudando em todas as missões. Por isso, fizemos questão de homenageá-los no nosso álbum e trazer essa força para abençoar esse trabalho.

Um dos pontos do álbum é colocar luz nas contribuições indígenas invisibilizadas. Qual a importância desse trabalho?

Trazer visibilidade para a questão indígena dentro e fora do nosso país. Abrir caminho por meio da arte e cultura para gerar renda de forma ecológica e sustentável para nossas comunidades. Trazer também o reconhecimento da importância dos povos indígenas para a cultura brasileira. Dar voz, oportunidade, proteção e visibilidade para os povos originários.

Parte da sonoridade brasileira tem raízes indígenas. Por que é preciso entender as raízes da nossa música e respeitar este início?

O esquecimento dos povos indígenas e a invisibilidade são um dos principais motivos do preconceito contra esses povos no Brasil. Muita gente diz e acredita que não existe índio no Brasil. E isso ocorre por falta de conhecimento e de divulgação da sua cultura. A falta de oportunidade, de espaço e da devida valorização ocasiona no apagamento e no esquecimento. O que também desmotiva muitos povos indígenas a darem continuidade às suas tradições. É preciso incentivar, apoiar, dar voz e oportunidades para a arte e cultura indígena no nosso país. Todas as aldeias guardam riquezas culturais incomensuráveis, e enquanto suas terras são destruídas e devastadas pela ignorância, sua cultura vai morrendo junto.

A força indígena está presente na música brasileira, na língua portuguesa, no nome das cidades, nas comidas tradicionais, na medicina?

Qualquer pessoa que chega na casa de alguém precisa respeitar o dono da casa. Isso nunca aconteceu no Brasil. Cada vez mais nossos direitos são reduzidos e, até hoje, o pouco que sobrou para nós de nossos territórios não foi demarcado e homologado. Quando os portugueses chegaram aqui, essa terra era um paraíso. Mas a nossa maior riqueza era a sustentabilidade. Aqui, viviam centenas de povos, e não havia lixo, nossos rios, nossas terras eram cheios de vida, não existia poluição, tínhamos nossa cultura e religiosidade vivas e, até hoje, não entendemos porque não podemos ter o direito à terra e o preconceito praticado contra o nosso povo que tanto contribuiu para o nascimento do Brasil.

O que este álbum tem de diferente do que é ouvido comumente no Brasil?

É a força dos encantados. A força que nos mantém de pé mesmo diante de tantos desafios. A resistência, a união e a fé. O samba é muito sagrado para nós. Muitos elementos importantes estão sendo perdidos nas músicas que nascem, hoje, no Brasil. O romantismo está morrendo. Nossas músicas trazem o romantismo, falam da natureza e da vida no campo e da simplicidade.

“Ê aldeia sagrada

Ê aldeia de luz

Aldeia mãe do povo pataxó

É a sagrada onde nasce o sol”

Trecho da canção Aldeia sagrada

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15 dicas para investir o seu dinheiro em 2024

Investir dinheiro de maneira prudente e estratégica é fundamental para alcançar estabilidade financeira e realizar metas de longo prazo. Além disso, é uma maneira de fazer o dinheiro trabalhar a seu favor, gerando crescimento e preservando o valor ao longo do tempo. Para quem quer começar a investir neste ano, Samia Vasconcelos, especialista em finanças pessoais, lista 15 dicas que irão tornar seu 2024 um ano com bons retornos. Confira!

1. Diversificação para reduzir riscos

Evite concentrar seus investimentos em uma única classe de ativos. Distribuir entre ações, títulos e outros investimentos ajuda a reduzir riscos.

2. Pesquisa aprofundada

Antes de investir, analise detalhadamente os fundamentos da empresa ou ativo. Avalie seu histórico, perspectivas e desafios.

3. Horizonte de investimento

Defina metas de longo prazo para beneficiar-se do poder dos juros compostos.

4. Análise de riscos

Entenda e avalie os riscos associados a cada investimento. Considere fatores como volatilidade e perspectivas de mercado.

5. Acompanhamento do mercado

Esteja atento às tendências econômicas e ajuste sua estratégia conforme as mudanças do mercado.

6. Aportes regulares

Considere aportes regulares, permitindo que você compre ativos a preços variados ao longo do tempo.

7. Conselho profissional

Busque a orientação de um consultor financeiro para decisões alinhadas com seus objetivos.

8. Investimento em educação financeira

Aprofunde seu conhecimento sobre investimentos para tomar decisões mais informadas e conscientes.

Fazer uma reserva de emergência é importante antes de começar a investir o seu dinheiro (Imagem: SunyawitPhoto | Shutterstock)

9. Reserva de emergência

Garanta que possui uma reserva financeira antes de investir, proporcionando segurança em emergências.

10. Sustentabilidade

Explore investimentos em empresas comprometidas com práticas sustentáveis e responsabilidade social.

11. Avaliação fiscal

Compreenda as implicações fiscais de seus investimentos para otimizar seus retornos.

12. Tecnologia financeira

Explore plataformas digitais, facilitando a gestão e execução de seus investimentos.

13. Acompanhamento regular

Revise sua carteira periodicamente, ajustando-a conforme as mudanças em seus objetivos e no mercado.

14. Investimento Passivo

Considere opções como fundos de índice e ETFs (fundos de índice negociados em bolsa) para uma abordagem menos ativa, mas eficiente.

15. Adaptação constante

Esteja aberto a ajustar sua estratégia à medida que as condições do mercado evoluem, garantindo resiliência em sua abordagem de investimento.

Por Sarah Monteiro

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Evite concentrar seus investimentos em uma única classe de ativos. Distribuir entre ações, títulos e outros investimentos ajuda a reduzir riscos.

2. Pesquisa aprofundada

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Fazer uma reserva de emergência é importante antes de começar a investir o seu dinheiro (Imagem: SunyawitPhoto | Shutterstock)

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Garanta que possui uma reserva financeira antes de investir, proporcionando segurança em emergências.

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14. Investimento Passivo

Considere opções como fundos de índice e ETFs (fundos de índice negociados em bolsa) para uma abordagem menos ativa, mas eficiente.

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Por Sarah Monteiro

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Mottainai, o segredo da filosofia japonesa para evitar o desperdício

A alegre aldeia de pescadores de Murakami fica a apenas três horas de trem da capital do Japão, Tóquio. Mas ela parece estar a anos-luz de distância do burburinho daquela que é a cidade mais populosa do mundo.

Murakami é uma cidade-castelo preservada no tempo, na prefeitura de Niigata. Vim até aqui para conseguir uma trégua do barulho e da correria do Japão urbano e jantar no renomado restaurante Idutsuya.

O restaurante fica em uma pousada que, um dia, foi apadrinhada pelo poeta e mestre zen Bash? (1644-1694). Seu salão é tão sereno quanto uma sala de meditação zen.

Nele, saboreio uma dúzia de iguarias de salmão diferentes, servidas como verdadeiras joias sobre uma bandeja laqueada.

Sêmen de salmão em conserva. Pele crocante, frita em óleo fervente. Patê de fígado do peixe. A sucessão de petiscos salgados é uma sinfonia de sabores e texturas.

Todas as partes do peixe, desde o cobiçado o-toro (a valiosa gordura da barriga do animal) até os órgãos, encontram expressões deliciosas. As próprias espinhas e os dentes são transformados em gel com sabor umami (um dos cinco gostos básicos do paladar humano) e consumidos sobre o arroz.

A refeição – uma ode comestível ao peixe sedoso de carne cor de laranja – é uma bela expressão do ideal japonês de mottainai, a busca de formas criativas de eliminar o desperdício.

Mottainai pode ser traduzido como “que desperdício!”. Mas a expressão está mais próxima do velho provérbio “sabendo usar, não vai faltar”.

Este ideal de minimizar o desperdício gerou peculiaridades culturais na vida do Japão, como reciclar a água da lavagem das mãos para os toaletes; velhos quimonos transformados em suntuosos cachecóis; ou o kintsugi, a tradição de restaurar cerâmica quebrada unindo os pedaços com ouro fundido.

Mas este princípio certamente se encontra mais arraigado na cozinha japonesa.

O Japão moderno possui um dos PIBs mais altos do mundo. Mas a pobreza e ondas intermitentes de fome eram a dura realidade das aldeias rurais até não muito tempo atrás.

Como a necessidade é a mãe da criatividade, pescadores e agricultores encontraram formas engenhosas de transformar restos, como cascas, cortes de carne dura e borras de saquê, em refeições nutritivas e deliciosas.

Como o ratatouille do interior da França e o pani câ meusa italiano (pão recheado com carne de órgãos grelhada), a escassez foi a musa inspiradora de simbólicos pratos da cozinha japonesa, como o ochazuke (chá verde despejado sobre restos de arroz), kasuzuke (vísceras de peixe em conserva no saquê) e kasu jiro (uma farta sopa feita com restos de mosto de saquê).

O mottainai remonta a tempos de escassez, mas seu princípio permanece sendo a base dos restaurantes de sushi e kaiseki de hoje em dia – até os mais opulentos do mundo.

Estimulando os sentidos

Encontrar formas de cozinhar todas as partes de plantas e animais não serve apenas para reduzir o custo dos alimentos e adequar a cozinha aos objetivos globais de sustentabilidade.

Restos como caules, cortes e vísceras – os “pedaços horríveis”, para tomar uma frase do crítico de gastronomia Anthony Bourdain (1956-2018) – costumam trazer sabores memoráveis nas mãos de um chef especialista.

A poucos quilômetros de Murakami, à sombra dos Alpes japoneses, fica o restaurante Satoyama Jujo, indicado pelo guia Michelin. Sua chef é Keiko Kuwakino.

Depois de passar um período viajando pelo mundo como mochileira e estagiária em cozinhas da Austrália, Europa e Índia, Kuwakino voltou para Niigata. Ela passou a elaborar menus kaiseki, com vários pratos sazonais. É uma forma de enaltecer a abundância de águas frias e vales frondosos da sua prefeitura natal.

Encontrei Kuwakino na cozinha do Satoyama Jujo, um espaço de trabalho rodeado de vidros coloridos com raízes e ervas em conserva.

Com sua obsessão em reduzir o desperdício de alimentos, Kuwakino se inspirou na sobriedade da avó.

“Vovó cresceu em uma aldeia de escassos recursos, onde a neve cobria os campos por cinco meses do ano”, relembra a chef.

“Ela sempre insistia em não desperdiçar um único grão de arroz, relembrando meus irmãos e eu sobre o trabalho e o sacrifício do cultivo de arroz”, ela conta. “Ainda me lembro disso quando como e cozinho arroz para meus clientes.”

Embora aprecie ingredientes de destaque da cozinha japonesa, como caviar, ouriço-do-mar e cogumelos matsutake, Kuwakino também tem o dom de transformar os restos mais humildes em deslumbrantes pratos gourmet. Caules folhosos são transformados em belas decorações, espinhas de peixe se tornam alimentos com sabor umami e raízes rígidas passam a ser delícias crocantes depois de temperadas com salmoura.

Nas horas que antecedem o jantar, Kuwakino e sua equipe pulverizam espinhas de peixe desidratadas com pó pungente – um pó mágico deliciosamente salgado como a brisa do oceano.

Esse pó dá vida à gordurosa carne bovina wagyu e tigelas de arroz, além de brilhar no kenchinjiru, uma sopa feita de vegetais, como berinjela e batata-doce, e também de cogumelos – todos sazonais e recém-colhidos.

Polvilhar as partículas salgadas sobre os alimentos submersos em um caldo cor de chá oolong fornece um sabor tão rico quanto o-toro marmorizado.

As próprias cascas descartadas durante o preparo do kenchinjiru ganham nova vida. Armada com um desidratador e um moedor, Kuwakino se prepara para a alquimia das cascas de beterraba, abóbora e cenoura. Ela transforma as cascas em pós de cor púrpura, amarela e laranja.

“Tento estimular todos os sentidos com a minha comida”, explica a chef. “Adoro pós vegetais, não só pelo seu sabor terroso, mas pelas cores salpicadas que eles acrescentam aos pratos.”

Antes de começar o primeiro prato – uma entrada de tofu fresco, melão e sardinhas em conserva – Kuwakino se aproxima da minha mesa para o tradicional itadakimasu, a expressão japonesa de gratidão pela vida que se sacrificou pela refeição.

O mottainai é profundamente ligado aos princípios do xintoísmo, uma antiga religião japonesa enraizada nas crenças animistas das sociedades caçadoras-coletoras da pré-história do arquipélago.

“No xintoísmo, objetos naturais como a madeira, plantas, animais e até as pedras têm natureza sagrada”, explica Kuwakino. “Tudo o que é recolhido da natureza é imbuído de kami [espírito divino].”

O caráter sagrado atribuído aos produtos da natureza eleva o mottainai ao nível de dever sagrado. Jogar comida fora – mesmo que sejam restos – é como um sacrilégio.

O mestre de sushi Masa Takayama, de Nova York, nos Estados Unidos, compartilha o sentimento de que o desperdício de alimentos e até mesmo de água causa uma sensação de haji (vergonha ou tristeza).

O Masa, em Manhattan, é um restaurante omakase – onde o chef escolhe os pratos de sushi que serão servidos aos clientes – que conta com três estrelas Michelin. Takayama usa todas as partes de cada peixe que passa pela sua mesa de corte, até as espinhas, os olhos e a carne extraída da cabeça.

“Quando compro um peixe, lembro que ele já teve vida”, ele conta. “A partir do respeito pela criatura, encontro formas de cozinhar tudo.”

Por isso, os cortes mais delicados do peixe viram sashimi, enquanto Takayama ferve as cabeças, as caudas e as espinhas para produzir molhos de especiais noturnos ou makanai – refeições para as famílias dos funcionários.

Um prato especial permanente do menu do Masa é a cabeça de buri grelhada. O peixe é trazido dos mercados de Tóquio todos os dias e sua carne é transformada em sashimi totalmente branco e quase translúcido – carne suavemente salgada, etereamente clara, banhada em molho ponzu e guarnecida com flores de shissô.

Mas o verdadeiro ponto forte, segundo Takayama, é a cabeça, uma massa óssea coberta de carne marmorizada.

“Fui criado no Japão e meus pais guardavam as cabeças de peixe para refogar com molho de soja e os líquidos residuais da produção de tofu”, conta Takayama. “A carne da cabeça, onde o peixe armazena boa parte da sua gordura, oferece o melhor sabor umami.”

Depois de marinada com molho de soja e levemente grelhada, a carne da cabeça, mole como geleia e ornamentada com pimenta shishito torrada, realmente é a alma da riqueza umami.

De volta a Murakami, caminho pelas estreitas alamedas da aldeia, pavimentadas com pedras, até a aconchegante casa de chá Kokonoen, construída com cipreste japonês, com cor de areia.

Sentado em frente a um elaborado jardim zen, provo um fragrante chá verde sencha – um verdadeiro jade líquido, perfumado e complexo como um bom e envelhecido vinho Pinot Noir. Com ele, provo chazuke (confeitos em forma de joias, preparados com morangos, amoras e outras frutas da região).

Cada porção que sai da chaleira laqueada traz novos sabores das folhas aromáticas. São sutilezas a serem contempladas com a beleza do jardim e da caligrafia do local.

Depois que as folhas são finalmente exauridas, o mestre do chá as retira da chaleira com uma pinça de madeira e as coloca sobre uma tigela de arroz fresco.

De coloração verde brilhante e macio como espinafre cozido, o sencha libera as últimas fragrâncias do buquê marinho e de pinho do chá verde.

Enlevado pela cafeína e pela teobromina do chá, não posso deixar de concordar com os sábios xintoístas.

As bênçãos da natureza são sagradas. São milagres do solo, do sol e da chuva, preciosos demais para serem simplesmente descartados.

Receita de okara com restos de vegetais

Para o chef Masa Takayama, okara com restos de vegetais é um prato caseiro que incorpora o espírito de mottainai.

Tradicionalmente, okara é a polpa de soja ou borra de tofu que sobra depois que os grãos de soja amassados são filtrados na produção de tofu e leite de soja. Mas você pode acrescentar tofu macio, encontrado na maioria dos mercados de produtos asiáticos.

Ingredientes:

* Couve-kale e espinafre são opções deliciosas, além de cogumelos. Mas qualquer vegetal serve. O chef Takayama usa qualquer vegetal picado não usado que ele tenha sobrando na cozinha.

Modo de fazer

Faça um molho misturando o molho de soja, o açúcar e qualquer caldo de cozimento que você tenha à mão em uma caçarola. Ferva suavemente até misturar os ingredientes.

Em uma frigideira, aqueça o óleo e salteie os vegetais até amolecerem.

Em uma panela, misture o okara com o molho e a água. Ferva suavemente até que fiquem bem misturados. Sirva o molho de okara com os vegetais salteados e arroz.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.

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