março, 2015

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Em Bonito, a natureza sofre com as investidas do agronegócio

bonitoFormoso, da Prata, Peixe, Perdido, Mimoso… Os singelos nomes destes e de outros córregos e rios que compõem as variadas microbacias de águas cristalinas do município de Bonito, localizado na Serra da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul, remetem a uma sensação de bem estar. Quem já visitou o paraíso ecológico garante que jamais esquecerá os momentos de convívio com a flora, a fauna e, sobretudo, com as águas locais. Já aqueles que vivem em Bonito e defendem sua sustentabilidade travam uma luta permanente contra as ameaças que surgem contra os rios cristalinos e o meio ambiente no município.

A mais recente destas ameaças se materializou em dezembro do ano passado com a aprovação pelos deputados estaduais de um Projeto de Lei que revogaria quatro artigos da Lei 1.871, promulgada em julho de 1998, que, entre outras coisas, proíbe atividades agrícolas às margens dos rios da Prata e Formoso. O projeto é de autoria do deputado Jerson Domingos (PMDB). Na prática, a aprovação desse PL, quase no fim da legislatura, significaria a liberação da supressão da vegetação em faixas de 50 a 150 metros ao lado de cada margem dos rios, onde hoje são proibidas a agricultura, a mineração e a extração de madeira, mantendo apenas os 50 metros de matas ciliares considerados Áreas de Proteção Permanente (APPs). A aprovação traria também riscos crescentes de poluição das microbacias por agrotóxicos e outros resíduos. Read More …

Bacia Amazônica é responsável por 4 a 5% das emissões de metano no mundo

 

bacia amazônicaA bacia amazônica é responsável por 4% a 5% das emissões de metano (CH4) — um dos gases do efeito estufa — em todo o mundo. O dado faz parte de pesquisa do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), entidade associada à USP, que determinou a emissão de metano entre os anos de 2010 e 2013, a partir da coleta de amostras de ar em quatro pontos da região, feita em aviões de pequeno porte. O trabalho da bióloga Luana Santamaria Basso aponta também que o manejo de rebanhos é responsável por 19%, em média, das emissões estimadas para cada um dos locais de estudo, enquanto a queima de biomassa contribui com 8% a 10% da emissão estimada para a área da amazônia brasileira.

O estudo, descrito em tese de doutorado apresentada no Ipen, fez parte de um grande projeto de pesquisa que tem como objetivo entender e determinar as emissões dos principais gases do efeito estufa da Amazônia. “Foram realizadas coletas em quatro localidades distribuídas na Amazônia Brasileira, formando um grande quadrante representando toda a Bacia, próximos às cidades de Santarém (Pará), Alta Floresta (Mato Grosso), Rio Branco (Acre) e Tabatinga (Amazonas)”, conta Luana. “Os estudos procuram observar como a amazônia contribui e quais são os processos que interferem nestas emissões, de modo a compreender como a região pode responder às futuras alterações climáticas”. O trabalho foi orientado pela professora Luciana Vanni Gatti, coordenadora do projeto no Laboratório de Química Atmosférica (LQA) do Ipen.

Na pesquisa foram realizados perfis verticais para as coletas de ar, utilizando aviões de pequeno porte, desde aproximadamente 300 metros (m) da superficie até 4,4 quilômetros (km), nos quatro locais de estudo na amazônia. “Foram realizados quatro anos de medidas continuas em escala regional, quinzenalmente, totalizando 293 perfis verticais realizados”, conta a pesquisadora. “Os perfis verticais são realizados tendo como base um plano de voo, preparado previamente, que indica para o piloto a localização e em quais altitudes devem ser feitas as coletas”.

A coleta tem inicio no ponto mais alto e desce em uma trajetória helicoidal de aproximadamente 5 km de diâmetro. “Os quatro anos de estudo mostraram que a Amazônia atua como uma importante fonte de metano, com uma emissão de 25,4 Teragramas (Tg) por ano”, aponta Luana. “Isso representa de 4% a 5% da emissão global, considerando a área da amazônia brasileira, que é de 4,2 milhões de quilômetros quadrados”.

Origem Antrópica

“Atualmente existem poucos estudos realizados sobre a emissão de metano na Amazônia”, diz a pesquisadora. Para estimar algumas contribuições de atividades humanas nas emissões observadas na pesquisa, realizou-se alguns estudos complementares. “Hoje, cerca de 60% das emissões globais de metano são de origem antrópica, ou seja, relacionada com atividades humanas, como por exemplo a criação de rebanhos de animais que emitem metano a partir da fermentação entérica, as queimadas, o cultivo de arroz, entre outras”.

O monóxido de carbono (CO), que foi quantificado na mesma amostra de ar coletada nos locais estudados, foi usado para estimar qual a contribuição da queima de biomassa nas emissões de metano. “Os resultados mostraram que a queima representara entre 8% e 10% da emissão total estimada para a amazônia brasileira”, ressalta Luana. Também foi realizada uma estimativa das emissões provenientes da fermentação entérica e do manejo dos dejetos dos rebanhos de animais ruminantes. “Elas representam em média 19% da emissão de metano estimada para cada local estudado”.

Durante os quatro anos do estudo, foi possível observar uma variação anual das emissões, indicando uma relação com as variações climáticas, como por exemplo a variação da precipitação e de temperatura. “Os resultados obtidos ressaltam a importância da realização de estudos de longa duração, durante períodos de dez anos, por exemplo”, afirma a pesquisadora. “A comparação destes resultados com dados de temperatura, precipitação, número de focos de queimada, dentre outros, ajudarão a obter um melhor entendimento das fontes de metano e também da variabilidade em suas emissões ao longo dos anos, que atualmente não é completamente compreendida”.

Segundo Luana, os perfis de avião mostram a resultante de todos os processos que ocorreram desde a costa brasileira até o local da coleta, mostrando a região Amazônica como um todo, mas não permitem entender exatamente todas as fontes, sumidouros e os fatores que influenciam nestes processos. “Para isto são necessários estudos complementares que mostrem mais detalhadamente o funcionamento de cada compartimento da floresta, por exemplo das áreas alagáveis, dos rios, etc”, aponta. “Os resultados mostraram variações anuais nas emissões, porém é necessário mais tempo de estudo, em torno de dez anos, para poder considerar estas variações e observar uma tendência de aumento ao longo dos anos”.

Alterações do balanço hídrico no Cerrado podem afetar importantes setores da economia brasileira

 

Cerrado“É evidente que as alterações de uso e cobertura do solo promovidas pela expansão agrícola na região de Cerrado têm potencial para afetar os serviços ecossistêmicos e vários importantes setores da economia do Brasil, tais como agricultura, produção de energia e disponibilidade hídrica”, alerta o pesquisador em hidrologia, Tarso Sanches Oliveira.

A substituição da vegetação nativa do Cerrado por áreas destinadas às atividades agrícolas “tem causado intensas mudanças nos processos hidrológicos” e acelerado a erosão do solo do segundo maior bioma da América do Sul, afirma Paulo Tarso Sanches Oliveira, doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento e autor da tese Water balance and soil erosion in the Brazilian Cerrado. Nos últimos anos o pesquisador tem estudado as mudanças ocasionadas no solo e no ciclo hidrológico do bioma, que abrange 10 das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras, e contribui para a formação de importantes bacias hidrográficas, como a dos Rios Tocantins/Araguaia, São Francisco, Paraguai, Paraná e Parnaíba. “Essas mudanças no balanço hídrico e erosão do solo são ainda pouco entendidas, apesar de fundamentais na tomada de decisão de uso e manejo do solo nesta região. Portanto, torna-se necessário compreender a magnitude das mudanças nos processos hidrológicos e de erosão do solo, em escalas locais, regionais e continentais, e as consequências dessas mudanças”, pontua.

Na entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail, Oliveira informa que o desflorestamento do Cerrado está ocorrendo mais rapidamente do que na área de floresta amazônica e “considerando a taxa atual de desflorestamento, estima-se que o ecossistema pode desaparecer nos próximos anos”. Segundo ele, “o uso do solo é considerado um dos principais fatores que controlam o processo de erosão hídrica. Nossos resultados sugerem que mudanças no uso do solo (como, por exemplo, a substituição do Cerrado para cultivo agrícola) têm o potencial de intensificar a erosão do solo de 10 a 100 vezes”. Entre as consequências previstas caso a atual situação se mantenha, o pesquisador menciona a possibilidade de haver alterações no balanço hídrico, intensificação dos processos erosivos, perda de biodiversidade, desequilíbrios no ciclo do carbono, poluição hídrica, mudanças no regime de queimadas e alteração do clima regional.

Oliveira lembra ainda que “além de ser uma importante região ecológica e agrícola para o Brasil, a região de Cerrado é crucial para a dinâmica de recursos hídricos, pois (…) as maiores usinas hidrelétricas do país (~80% da energia produzida no Brasil) possuem rios que se iniciam em regiões de Cerrado”.

Paulo Tarso Sanches Oliveira é doutor em Ciências – Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (EESC-USP). Trabalhou como pesquisador visitante na United States Department of Agriculture (USDA-ARS), é mestre em Tecnologias Ambientais – Recursos Hídricos e é graduado em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.

Fonte:  IHU-Online

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