Desenvolvimento Sustetável
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Sustentabilidade: uma causa que afeta o planeta
O GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE mostra que um grupo de elite de empresas avança na aplicação das metas para o desenvolvimento sustentável do país
Mais de uma dezena de reuniões do último encontro do Fundo Monetário Internacional, realizado em outubro na cidade de Washington, nos Estados Unidos, abordaram um tema que anos atrás costumava ficar restrito a debates entre ativistas: o aquecimento global. Num sinal claro de que as mudanças climáticas e suas consequências são percebidas como um risco econômico tão real quanto iminente, representantes de diversos países debateram como os bancos centrais podem se preparar para uma crise ambiental no planeta e, em paralelo, quais são os meios possíveis de financiamento da transição para uma economia de baixo carbono. A urgência está em traçar uma estratégia viável para a próxima década. Segundo a Organização das Nações Unidas, é preciso reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa a fim de evitar o excessivo aquecimento global. Se nada for feito, até 2030 a temperatura do planeta subirá para uma média 1,5 grau Celsius acima da que costumava ser antes do período industrial.
Enquanto a adesão de países se mostra errática, de acordo com a orientação política dos governantes, o movimento mais consistente na direção de manter uma postura responsável — e não apenas na seara ambiental — é visto entre grandes empresas. Com metas claras, muitas delas têm sido guiadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um amplo plano para melhorar o mundo lançado pela Organização das Nações Unidas em 2015. O documento é composto de 17 tópicos, desdobrados em 169 metas para 2030. Esses objetivos servem de referência para quase 85% das 190 empresas participantes da 20a edição do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE. Dessas, dois terços fizeram uma análise de materialidade para priorizar os ODS mais relevantes para seus modelos de negócios. “Os ODS estão bem posicionados como referência de políticas no Brasil e no mundo”, diz Aron Belinky, fundador da consultoria ABC Associados, responsável pela metodologia do GUIA EXAME de SUSTENTABILIDADE, maior levantamento de práticas de responsabilidade corporativa do país.
Metodologia
A edição deste ano do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE avaliou ações, processos e condutas de 210 empresas participantes que responderam às mais de 160 questões elaboradas pela ABC Associados, também responsável pela metodologia de escolha das empresas que integram o Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, e formada por profissionais egressos da extinta área de rankings corporativos do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Numa metodologia utilizada desde 2007, a sustentabilidade das organizações é analisada de acordo com quatro eixos temáticos: geral, econômico, ambiental e social. A escolha dos destaques começa com a identificação das empresas que obtiveram pontuação acima da média das participantes, independentemente do setor em que atuam. A isso foi somado o desvio-padrão verificado na análise de cada uma das dimensões. Em seguida, um processo de apuração jornalística a respeito de questões críticas pertinentes a cada empresa se deu em paralelo ao auxílio de um conselho deliberativo, formado por especialistas.
Assim, EXAME chegou à lista das 77 melhores empresas desta publicação, posteriormente divididas em 19 setores. Também foram eleitos os destaques em dez categorias temáticas: Direitos Humanos, Ética e Transparência, Gestão da Água, Gestão da Biodiversidade, Gestão de Fornecedores, Gestão de Resíduos, Governança da Sustentabilidade, Mudanças Climáticas (que inclui gestão de energia), Relação com a Comunidade e Relação com Clientes. Por fim, EXAME selecionou, entre as mais sustentáveis de cada setor, a Empresa Sustentável do Ano.
Mais de uma dezena de reuniões do último encontro do Fundo Monetário Internacional, realizado em outubro na cidade de Washington, nos Estados Unidos, abordaram um tema que anos atrás costumava ficar restrito a debates entre ativistas: o aquecimento global. Num sinal claro de que as mudanças climáticas e suas consequências são percebidas como um risco econômico tão real quanto iminente, representantes de diversos países debateram como os bancos centrais podem se preparar para uma crise ambiental no planeta e, em paralelo, quais são os meios possíveis de financiamento da transição para uma economia de baixo carbono. A urgência está em traçar uma estratégia viável para a próxima década. Segundo a Organização das Nações Unidas, é preciso reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa a fim de evitar o excessivo aquecimento global. Se nada for feito, até 2030 a temperatura do planeta subirá para uma média 1,5 grau Celsius acima da que costumava ser antes do período industrial.
Enquanto a adesão de países se mostra errática, de acordo com a orientação política dos governantes, o movimento mais consistente na direção de manter uma postura responsável — e não apenas na seara ambiental — é visto entre grandes empresas. Com metas claras, muitas delas têm sido guiadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um amplo plano para melhorar o mundo lançado pela Organização das Nações Unidas em 2015. O documento é composto de 17 tópicos, desdobrados em 169 metas para 2030. Esses objetivos servem de referência para quase 85% das 190 empresas participantes da 20a edição do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE. Dessas, dois terços fizeram uma análise de materialidade para priorizar os ODS mais relevantes para seus modelos de negócios. “Os ODS estão bem posicionados como referência de políticas no Brasil e no mundo”, diz Aron Belinky, fundador da consultoria ABC Associados, responsável pela metodologia do GUIA EXAME de SUSTENTABILIDADE, maior levantamento de práticas de responsabilidade corporativa do país.
Metodologia
A edição deste ano do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE avaliou ações, processos e condutas de 210 empresas participantes que responderam às mais de 160 questões elaboradas pela ABC Associados, também responsável pela metodologia de escolha das empresas que integram o Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, e formada por profissionais egressos da extinta área de rankings corporativos do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Numa metodologia utilizada desde 2007, a sustentabilidade das organizações é analisada de acordo com quatro eixos temáticos: geral, econômico, ambiental e social. A escolha dos destaques começa com a identificação das empresas que obtiveram pontuação acima da média das participantes, independentemente do setor em que atuam. A isso foi somado o desvio-padrão verificado na análise de cada uma das dimensões. Em seguida, um processo de apuração jornalística a respeito de questões críticas pertinentes a cada empresa se deu em paralelo ao auxílio de um conselho deliberativo, formado por especialistas (veja quadro abaixo).
Assim, EXAME chegou à lista das 77 melhores empresas desta publicação, posteriormente divididas em 19 setores. Também foram eleitos os destaques em dez categorias temáticas: Direitos Humanos, Ética e Transparência, Gestão da Água, Gestão da Biodiversidade, Gestão de Fornecedores, Gestão de Resíduos, Governança da Sustentabilidade, Mudanças Climáticas (que inclui gestão de energia), Relação com a Comunidade e Relação com Clientes. Por fim, EXAME selecionou, entre as mais sustentáveis de cada setor, a Empresa Sustentável do Ano.
A busca por um impacto positivo que traga benefícios tanto para o planeta quanto para os negócios levou a alemã Siemens a redirecionar o portfólio em 2016. Naquele ano, a companhia passou a analisar o impacto de sua operação global em relação aos ODS. Com uma oferta ampla de serviços, a Siemens persegue os 17 objetivos estabelecidos pela ONU, mas as prioridades mudam de acordo com o país de atuação. “Temos um relatório específico para o Brasil e, com base nele, entendemos quais estratégias de negócio geram mais impactos nos ODS”, diz Henrique Paiva, principal executivo de sustentabilidade da Siemens, destacando a ação contra a mudança global do clima. “Metade do nosso faturamento vem do portfólio ambiental, que é voltado para a geração de energia renovável e para a eficiência no consumo.”
A cada ano, a Siemens ajuda os clientes a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em cerca de 600 milhões de toneladas por meio de alternativas como a geração de energia eólica e o uso de biomassa. Para Paiva, a empresa atende a uma demanda que só tende a crescer, e a venda desses serviços, além de ter impacto ambiental positivo, também aumenta o faturamento da companhia. Em uma visão mais voltada para o futuro, a Siemens enxerga possibilidades de negócio nos ODS de cidades e comunidades sustentáveis. Em junho, a empresa entregou para a cidade paulista de Jundiaí, onde mantém uma fábrica, um estudo que identifica as tecnologias mais adequadas para tornar o município inteligente e mais próximo das metas ambientais. “A análise traz soluções que não vendemos, como o ônibus elétrico, mas pode gerar novas demandas, algo que, lá na frente, trará benefícios para a empresa”, afirma Paiva. Outras cidades, em São Paulo e em Goiás, devem receber estudos com a mesma metodologia.
O levantamento mostra que aumentou — de 56,5%, em 2018, para 63,3%, em 2019 — a quantidade de empresas que mudaram seus processos considerando o impacto que eles geravam nas mudanças climáticas. Maior fabricante do mundo de produtos para cuidados pessoais e de beleza, a subsidiária da francesa L’Oréal fez essa reavaliação. Hoje, 78% do produtos novos ou renovados têm perfil ambiental melhorado, e a meta para 2020 é repensar 100% deles em aspectos que vão desde a embalagem até a formulação. A meta é obter bons resultados em todas as pontas do tripé da sustentabilidade: impacto positivo no meio ambiente, na sociedade e também nos resultados financeiros da empresa. É o que ocorre, por exemplo, com a adoção de algumas matérias-primas brasileiras. As compras de óleos de babaçu e pracaxi beneficiam 276 famílias nas regiões Norte e Nordeste. “Uma empresa que não esteja alinhada com os grandes desafios do planeta vai desaparecer”, afirma Maya Colombani, diretora de marketing, inovação e sustentabilidade da L’Oréal Brasil. “As mudanças permitem um alinhamento com as expectativas e perspectivas do consumidor.”
Algumas empresas já avançaram tanto que agora objetivam zerar as próprias emissões de carbono ou a geração de resíduos nas fábricas. A Whirlpool, fabricante americana de eletrodomésticos, é uma delas. A subsidiária brasileira conseguiu zerar a geração de resíduos nas fábricas em 2015. A meta global é atingir esse patamar só em 2022. “Continuamos a perseguir outras metas de uso eficiente de recursos dentro das linhas de produção, e isso traz também competitividade ao produto”, diz Vanderlei Niehues, diretor de sustentabilidade da Whirlpool no Brasil. Num programa global, a empresa estipulou que, até 2025, pretende reduzir as emissões a um nível 30% inferior ao registrado em 2005. Um dos pilares desse processo é a ampliação do uso de energias renováveis. Nos Estados Unidos, a Whirlpool é uma das maiores produtoras de energia eólica in loco. Toda a estratégia de sustentabilidade da empresa gira em torno de cinco ODS, entre eles consumo e produção responsáveis. “A escolha inicia com a questão: onde podemos causar mais impacto?”, diz Niehues. “Precisamos escolher ODS de grande repercussão, com custos gerenciáveis em atividades que já executamos.”
O exercício de pensar nas intersecções entre o negócio e os objetivos de desenvolvimento sustentável é fundamental para criar estratégias que possam ganhar escala. No setor elétrico, a EDP no Brasil elegeu nove dos 17 objetivos propostos pela ONU. Uma das mais relevantes no Brasil está relacionada à oferta de energia limpa. “Nossa estratégia é descarbonizar a produção”, diz Dominic Schmal, gestor executivo de sustentabilidade da EDP no Brasil. Nessa área, a empresa tem realizado projetos como a instalação de 15?000 painéis fotovoltaicos em cerca de 90 agências do Banco do Brasil. À medida que o negócio cresce, todos ganham: o planeta, a sociedade e a própria empresa.
Membro do conselho do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE, Marcel Fukayama é cofundador do Sistema B no Brasil e diretor executivo do Sistema B Internacional. Criada em 2012, a rede reúne 3?000 empresas em 71 países, as quais seguem os princípios de transparência e geração de impacto positivo com o negócio. A fabricante de alimentos Danone é a primeira grande empresa global a buscar a certificação — não apenas a matriz francesa como também as subsidiárias, incluindo a brasileira. Aqui, a maior empresa certificada é a fabricante de cosméticos Natura. De acordo com Fukayama, pelo menos dez outras empresas brasileiras de capital aberto estão em processo de certificação. A seguir, a conversa com Fukayama.
Qual será o papel das empresas no combate às mudanças climáticas?
De acordo com a Organização das Nações Unidas, temos um investimento necessário de cerca de 4 trilhões de dólares por ano para financiar a agenda 2030. Disso, mais de 2,5 trilhões são para mercados emergentes. É irreal crer que apenas governos e filantropia serão suficientes. É preciso, além de mobilizar o capital privado, engajar as empresas.
Qual caminho as empresas mais sustentáveis estão seguindo?
Três características são importantes. Primeiro, o propósito de gerar impacto positivo. Sair da lógica em que se ganha dinheiro com impacto negativo, fazendo compensações. O impacto positivo deve estar atrelado ao modelo de negócios. Depois, a responsabilidade de lidar com os valores gerados pela companhia: eles devem ser compartilhados, e não destinados apenas a acionistas. Existe, ainda, a importância de ter transparência nos processos.
Em relação a essas características, como o senhor avalia as empresas brasileiras?
É muito difícil transformar um negócio que nasceu com um DNA não voltado para a geração de impacto positivo. É uma transformação essencialmente cultural, que altera formas de pensar e fazer. Não basta criar um instituto e achar que está tudo certo.
Como o comprometimento com causas sociais ou ambientais pode gerar benefícios à empresa?
Vale lembrar que um CNPJ é um conjunto de CPFs, e metade da força de trabalho hoje já é da geração millennial. Em cinco anos, esse número chegará a 75%. Trata-se de uma geração que quer propósito, e as empresas que não conseguem trazer propósito para seu modelo de negócios tendem a perder a capacidade de atrair e reter talentos — e consumidores. Não é uma ação por amor, é porque gera resultados. Larry Fink [presidente do conselho de administração da gestora BlackRock], maior gestor de ativos do planeta, tem se manifestado publicamente sobre lucro com propósito. Ele quer dialogar com as corporações alinhadas à agenda global, e os investidores vão nessa direção.
Fonte: Exame
Biomassa já responde por quase 10% de toda a matriz energética do Brasil
Biomassa é a matéria de origem vegetal ou animal que pode virar energia. Entre os resíduos usados, está o bagaço de cana e os resíduos florestais.
A biomassa já responde por quase 10% da matriz energética brasileira e hoje é uma das principais linhas de pesquisa no país. Inclusive, já tem empresa produzindo a própria energia a partir da casca de arroz e de aveia.
A maioria dos brasileiros pode até não saber o que é biomassa, mas ela está pertinho da gente, todo santo dia.
“Biomassa é toda matéria de origem vegetal ou animal que inclui resíduos, inclui plantações energéticas, inclui plantações de árvores, que podem ser também aproveitadas energeticamente e, até mesmo, resíduos sólidos urbanos, como, por exemplo, o lixo das cidades, resíduos rurais e resíduos de animais”, explica Suani Coelho, coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa da USP (Universidade de São Paulo).
É difícil imaginar um país com mais biomassa que o Brasil e com tanto potencial. A biomassa responde por 9,53% da matriz energética brasileira.
Destaque para o bagaço de cana, resíduos florestais, lichivia, que é um subproduto da indústria papeleira, biogás do lixo e de resíduos agropecuários, casca de arroz, entre outras fontes. Mas, segundo os cientistas, o potencial de exploração energética da biomassa do nosso país equivaleria em uma conta conservadora a pelo menos quatro hidrelétricas de Itaipu.
Apenas a queima do bagaço de cana gera 10 mil megawatts. “Metade disso é para consumo próprio das usinas, mais ou menos metade é usada para ser exportada para a rede. Mas nós temos um potencial para dobrar essa exportação para a rede, portanto podemos ter mais de uma Itaipu sendo produzida e sendo injetada na rede”, aponta Suani Coelho.
É recente no país a exploração do gás do lixo, como já existe nos dois principais aterros de São Paulo. O Bandeirantes e o São João já foram desativados, mas continuam gerando aproximadamente 3% de toda a energia elétrica consumida na maior cidade do país. Mas se lixo urbano gera energia, o que dizer do lixo agrícola?
Uma fábrica de aveia no Rio Grande do Sul descobriu há três anos que a casca do cereal, descartada como resíduo, poderia substituir o gás natural. Desde então, 2.500 kg de casca são queimados por hora, uma economia de 30% no consumo de energia.
“Essa economia, além das mais de mil toneladas de gás efeito estufa que nós deixamos de pôr no ambiente, acaba tendo também uma economia real monetária e este é um bom exemplo em que nós produzimos de uma forma mais limpa e temos também o beneficio econômico”, afirma Manuel Ribeiro, vice-presidente de operações da PepsiCo Brasil.
A matriz da multinacional festeja o feito da filial brasileira. É a primeira unidade deles no mundo que apostou na casca de aveia e se deu bem. E o que vale para a casca de aveia, vale também para a casca de arroz.
Uma fábrica na cidade gaúcha de Alegrete recebe todo o arroz produzido emum raio de 200 km.
A montanha de grãos que chega lá tem dois destinos. O miolo do arroz vira alimento. A casca se transforma em 5 megawatts de energia, o suficiente para abastecer a fábrica inteira e ainda cerca de 14 mil residências.
E do processo, patenteado pela empresa, saiu ainda um novo produto: a sílica ecológica, usada para engrossar a mistura de concreto e argamassa.
“Hoje essa sílica é uma realidade da empresa e nós já estamos comercializando em todos os estados da Região Sul e, inclusive, no estado de São Paulo”, informa Lucas Matel, engenheiro químico da empresa.
O poder energético da biomassa é tão importante que se tornou uma das principais linhas de pesquisa da Embrapa Bioenergia, em Brasília.
Em uma parte do laboratório são guardadas amostras de biomassa que estão sendo investigadas pelos pesquisadores da Embrapa. O cavaco de madeira é um resíduo muito comum na indústria de papel e celulose no Brasil. Tem ainda o capim elefante, que já é fonte de energia na Bahia.
Os gaúchos conhecem a casca de arroz queimada que vira energia renovável e a estrela de todas as biomassas de origem vegetal: o bagaço de cana. O objetivo das pesquisas é abrir novos caminhos no mercado para essas e outras fontes de energia vegetais.
Todas as amostras do laboratório são trituradas em máquinas especiais. Depois, esses equipamentos medem o quanto de energia cada uma é capaz de gerar. Os resultados são animadores.
“A grosso modo, falando, a gente poderia, com as tecnologias que temos hoje, talvez ter mais duas ou três ou mesmo quatro Itaipus de biomassa. Em uma época em que a energia está tão cara e tão escassa, isso faz diferença”, diz José Dilce Rocha, pesquisador da Embrapa Agroenergia em Brasília.
No país do pré-sal, não é preciso buscar nem muito fundo, nem muito longe, energia limpa e renovável barata e farta. Basta prestar atenção no que está por aí.
Fonte: G1
Sustentabilidade: A vontade de fazer diferença
A inquietação de Maria Pennachin com a falta de cuidados com o meio ambiente e a vontade de fazer a diferença, vêm da infância, por influência do avô
O vídeo de biólogos retirando um canudo plástico da narina de uma tartaruga marinha na Costa Rica (de 2015) foi o que motivou a adolescente Maria Pennachin, de 17 anos, a pesquisar e desenvolver uma versão biodegradável e comestível à base de inhame.
“Eu vi e pensei que precisava fazer algo. Como em geral são as crianças que mais utilizam, concentrei em desenvolver algo comestível. Mas na verdade a minha ideia foi chamar a atenção delas e dar a oportunidade de conscientização. Mais do que só um canudo, considero é um símbolo, um presta atenção para assuntos que não podem mais passar batido, como jogar o chiclete no chão”.
A inquietação de Maria com a falta de cuidados com o meio ambiente e a vontade de fazer a diferença, nem que seja apenas debatendo o tema, vêm da infância, por influência do avô, Sebastião Terossi: “ele sempre gostou do tema e sonhava cursar física, mas como era integral e ele precisava trabalhar, acabou fazendo o curso de direito. Foi ele quem escolheu meu nome, porque dizia que Maria era nome de cientista, ou de médica. Meu avô morreu no ano que entrei no Culto à Ciência. Eu quis estudar lá, por causa dele e a escola fez toda a diferença para mim, principalmente pelos professores”.
“A Maria está lá”
A jovem conta que, quando convidada para festas dos colegas de classe, costuma ser apontada como o motivo pelo qual todos devem levar seus próprios canudos. “Eles dizem, não esqueçam que a Maria estará lá”, brinca ela. “Nós conseguimos tirar os canudos da cantina da escolha e trazer o tema para discussão, tudo isso é muito importante”, conta.
Graças ao biocanudo, Maria tem tido um ano de agenda cheia. Seu projeto – ainda em fase de protótipo e aguardando patente – tornou-se famoso não apenas nas feiras de ciência do Brasil, mas também no Exterior.
Em julho deste ano, ela foi uma das duas estudantes brasileiras premiadas com bolsa para o National Youth Science Camp, nos Estados Unidos. Trata-se de um acampamento científico que reúne os dois melhores estudantes do último ano do Ensino Médio de cada estado norte-americano, além de 16 estrangeiros, para estudos e palestras com o objetivo de fomentar o gosto pela ciência.
Feira internacional
Em setembro, ela levou seu biocanudo para uma feira internacional em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. “Tem sido um ano muito bacana para mim. O acampamento nos Estados Unidos foi incrível. Não tínhamos acesso a internet e assistíamos até três palestras por dia, além de outros eventos, mas o conteúdo era tão bacana que não me sentia cansada. Ao contrário, estar ali era uma experiência única”, comenta a jovem.
O projeto do biocanudo foi desenvolvido de maio a agosto de 2018. Desde então, o desafio é tornar o protótipo uma realidade. “Se queremos o jovem como protagonista na construção de uma sociedade mais sustentável, precisamos criar mecanismos que estejam em consenso. Precisamos de estímulos”, avalia.
Alias, quando questionada sobre o papel do jovem na ciência e na construção de uma vida saudável para todos, Maria aponta a sueca Greta Thuberg, de 16 anos, como inspiração. “Eu já acompanhava o trabalho dela pelo Twitter antes de toda a repercussão em cima dela este ano. Acho que é preciso muita coragem para estar ali, por que além dos elogios vem as críticas. Eu não imagino como seja a pressão. Comigo tem, claro, pessoas que nem sempre concordam, mas sempre com respeito”.
Muitos projetos
Além do biocanudo e da defesa do desenvolvimento do plástico biodegradável, Maria tem outras bandeiras. “No final deste mês, estarei em um workshop na Unesp sobre ‘Mulheres cientistas e sustentabilidade’. Acho importante falarmos sobre representatividade das mulheres na ciência. Este ano, pela primeira vez, o acampamento dos Estados Unidos recebeu um número maior de alunas do que alunos.”
Ela também tem participado de palestras em outras escolas públicas de Campinas para debate sobre a importância da ciência e da sustentabilidade.
“Eu vejo que precisamos mudar algumas coisas na forma de ensinar. O meio ambiente é um tema que pode ser discutido em todas as matérias, porque estamos falando de conteúdos que são transdisciplinares, porém muitas escolas ainda focam em um método de ensino segregado, que não ensina a pensar. Então temos ótimos alunos conteudistas, porém com pouca capacidade de lidar com a imprevisibilidade que te faz sair da zona do conforto e aprender mais.”
Neste sentido, Maria tem se dedicado também a lutar pelo ensino do inglês nas escolas públicas. Segundo ela, não basta trazer a ciência sem que se traga o idioma pelo qual é falada em todo o mundo.
Palestras
Para dezembro, no Culto à Ciência, ela está organizando uma série de palestras sobre a relevância do idioma para jovens palestrantes. A ideia é dar fala a jovens que puderam sair do País e que eles contem como falar inglês pode ajudar. “O mundo compartilha ciência em inglês”, destaca.
A estudante, que pretende cursar engenharia química, tem ainda o objetivo de mostrar para as pessoas que é possível ser sustentável sem ser radical ou adotar um discurso utópico. “Por exemplo, não dá para abolir o plástico do Plástico, mas podemos pensar na reutilização, nos biodegradáveis e em novas tecnologias. Por outra lado, temos que descartar quando não necessário como nos copos e canudos.
Estímulo à ciência e pesquisa
Trabalhar a educação ambiental na escola pública, com foco na conscientização socioambiental, e a partir das descobertas da ciência, foi a estratégia encontrada pelas professoras Aloísia Moretto e Cláudia Caniati para contribuir com o meio ambiente e, claro, ganhar o apoio dos alunos da EE Culto a Ciência, onde lecionam.
Há dois anos, as professoras criaram uma disciplina eletiva onde orientam e monitoram inciativas dos alunos. A ideia é trabalhar temas atuais, relacionados a ciência e pesquisa, com a finalidade de envolver a comunidade e conscientizar os jovens do que podemos fazer, através de estudo, pelo meio ambiente. “A gente quer mostrar para eles que seguir na ciência é uma opção”, diz Claudia.
Além do projeto de Maria, recentemente um outro trabalho supervisionado por elas ganhou destaque. Após os alunos identificarem uma nascente de água localizada no subsolo do auditório da escola, o estudo concentrou-se na busca por alternativas por meio de ideias sustentáveis de armazenamento, preservação e uso racional da água em benefício da comunidade local. A iniciativa ganhou diversos prêmios no Brasil e no Chile. Outro exemplo é um projeto voltado para conscientizar o descarte correto de lixo.
Após identificarem que muitas pessoas ao redor da escola não utilizavam as lixeiras, os alunos apontaram como solução pintar os coletores. Porém, o projeto está parado, uma vez que a escola gostaria de possibilitar uma oficina de grafitagem para estudantes, para que eles mesmos fizessem a arte. “Nós procuramos voluntários que queiram ensinar a técnica”, conta Claudia.
Fonte: Correio Popular
Engenheiros da USP criam plástico biodegradável feito de mandioca, transparente e resistente
Tecnologia desenvolvida em parceria por Poli e Esalq processa amido de mandioca usando gás ozônio e aumenta qualidade dos plásticos
Um novo tipo de plástico biodegradável, que tem como matéria-prima o amido de mandioca, foi produzido em parceria por duas unidades da USP: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, e Escola Politécnica (Poli). Os pesquisadores desenvolveram uma técnica que utiliza o gás ozônio para processar o amido e melhorar as propriedades do plástico. O resultado é um produto mais transparente e resistente, que poderá ser usado em diversos tipos de embalagens. O método já teve a patente requerida, visando a transferência de tecnologia para a indústria.
“A busca por alternativas renováveis para a produção de plásticos biodegradáveis é crescente, sendo foco do estudo de diversos grupos de universidades no mundo inteiro”, explica o professor Pedro Esteves Duarte Augusto, coordenador do Grupo de Estudos em Engenharia de Processos (Ge²P) da Esalq. “Uma das possíveis matérias-primas para a produção desses plásticos é o amido, ingrediente natural obtido de vegetais como milho, mandioca, batata, arroz, entre outros.”
Segundo o professor, a união dos grupos de pesquisa ocorreu porque a produção de plásticos a partir de amidos tem sido explorada há 15 anos pelo grupo da professora Carmen Cecilia Tadini, do Laboratório de Engenharia de Alimentos (LEA) da Poli e do Food Research Center (FoRC), um dos Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Por outro lado, no Ge²P estudamos, desde 2015, diferentes tecnologias para modificação de amidos e possíveis aplicações”. De acordo com o professor Duarte Augusto, embora o grupo já tenha desenvolvido trabalhos com as tecnologias de ultrassom e irradiação, os estudos com modificação de amidos com ozônio têm resultado em diversas aplicações, como a melhoria da expansão no forno e impressão 3D.
Assim o desenvolvimento do projeto em parceria com a Poli conseguiu unir uma demanda às experiências dos grupos envolvidos. E a pesquisadora boliviana Carla Ivonne La Fuente Arias, engenheira química e de alimentos, é o elo dessa união. Carla desenvolve seu pós-doutorado no Ge²P, em parceria com o LEA e com bolsa da Fapesp. “O professor Pedro fez parte da minha banca de qualificação no doutorado e a partir de então teve início essa aproximação que hoje se consolida no pós-doc”, conta.
Ozonização
Carla aponta que o aspecto inovador do seu projeto consiste na modificação do amido de mandioca a partir da ozonização para a produção de filmes. “Trata-se de uma tecnologia verde, amigável com o ambiente. Esse é o foco, modificá-lo com o ozônio de maneira a melhorar suas propriedades na forma nativa. Produzimos assim esse plástico biodegradável e, mesmo ainda na etapa inicial, já obtivemos um produto de boa qualidade. A próxima etapa, a ser executada na Poli, é a produção em escala semi-industrial”, explica. Assim, para a concretização do projeto, são realizadas na Esalq as etapas de ozonização, secagem e caracterização das amostras de amido. Na sequência, Carla leva o material até a Poli para preparar e caracterizar o plástico biodegradável.
Entre os benefícios do novo produto estão maior resistência, transparência e permeabilidade. “O processamento dos amidos com ozônio permitiu a obtenção de filmes plásticos mais resistentes e homogêneos, com diferente interação com a água e, em alguns casos, melhor transparência”, detalha Carla. “Essas são características de grande interesse industrial, demonstrando como a tecnologia de ozônio pode ser útil para a fabricação de plásticos biodegradáveis com propriedades melhores do que utilizando apenas o amido nativo”.
A engenheira lembra que o produto deverá ser utilizado no mercado de várias formas. “As aplicações são inúmeras, já que embalagens mais resistentes e transparentes são desejáveis em grande parte das aplicações”, destaca. Um pedido de patente já foi depositado, visando à transferência de tecnologia para a indústria.
Os resultados obtidos a partir desse estudo foram apresentados no artigo científico Ozonation of cassava starch to produce biodegradable films, publicado na revista International Journal of Biological Macromolecules. O trabalho teve ainda a participação das pesquisadoras Andressa de Souza, Bianca Maniglia e Nanci Castanha, sendo financiado pela Fapesp e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com bolsas da Fapesp, CNPq e Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Fonte: Jornal da USP
O papel da agricultura vertical na busca por práticas sustentáveis
O mercado da agricultura vertical cresce, atrai investidores e deve atingir quase US$ 10 bilhões em 2025. Graças à transformação digital, as fazendas urbanas são peça importante na busca pela sustentabilidade do campo
Cenário é dos piores.
Por volta de 2050, oito em cada dez habitantes do planeta Terra viverão em cidades.
Até lá, indica a ONU, a população mundial deve aumentar em cerca de 3 bilhões de pessoas, chegando ao redor dos 10 bilhões.
Para alimentar toda essa gente, mantidas as práticas agrícolas atuais, será necessário 1 bilhão de hectares de terra nova, o equivalente a 20% do território brasileiro.
Hoje em dia, 80% do solo adequado à agricultura está comprometido. Detalhe: 15% dele está estragado, devastado pelo uso inadequado.
Tão claro quanto óbvio — do jeito que está, impossível continuar. Em pouco tempo não haverá terra arável para alimentar todo mundo. “E o que pode ser feito para impedir esse desastre?”, provoca Dickson Despommier, 79 anos, professor emérito de microbiologia e saúde pública da Universidade Columbia, nos Estados Unidos.
Há esperança. E ela está… nas cidades. Sim, o futuro da alimentação também está sendo cultivado dentro de edifícios, contêineres e galpões mundo afora. Em tempos de escassez de terreno fértil e limitações climáticas, parte da solução para o esgotamento do campo, a fome e a busca por um mundo mais sustentável passa necessariamente pelas fazendas urbanas; em especial as verticais — cujo conceito foi desenvolvido, no final dos anos 90, por Dickson. “O plantio vertical pode ser alocado em qualquer lugar do mundo e permite o cultivo das plantas comestíveis mais consumidas, essenciais para uma dieta equilibrada”, defendeu o professor de Columbia, em conversa com Época NEGÓCIOS.
Graças ao aperfeiçoamento de ferramentas como sensores de internet das coisas, ciência de dados, inteligência artificial e big data, o cultivo vertical permite ganhos ao longo de toda a cadeia produtiva — do momento da plantação das sementes à chegada do alimento no prato do consumidor. Até 2025, o setor de agricultura vertical, apenas ele, deve movimentar US$ 9,6 bilhões, crescendo a uma taxa composta anual (CAGR) de 21,3%, segundo relatório de abril de 2019, da empresa de consultoria americana Grand View Research. As novas tecnologias estão na base desse movimento. Os olhos dos investidores brilham.
Em julho do ano passado, no maior aporte já feito até então para uma agtech, o grupo japonês SoftBank investiu US$ 200 milhões na Plenty. Fundada em 2014 em São Francisco por Matt Barnard (atual CEO), Nate Storey, Jack Oslan e Nate Mazonson, a startup cultiva hortaliças e frutas em torres de seis metros de altura. É belíssimo — as plantas se projetando para fora, formando paredes enormes de mostarda, kale, alface, tomate… Na fazenda Tigris, as verduras e frutas crescem em um substrato produzido a partir de garrafas plásticas recicladas. Por enquanto, a produção está restrita à baía de São Francisco, mas a empresa pretende construir uma fazenda com cerca de 9,3 mil metros quadrados, na cidade de Kent, próxima a Seattle, no estado de Washington. Os planos de expansão também incluem China e Japão.
Mais um exemplo da efervescência do setor? Em dezembro de 2018, menos de dois anos depois de seu lançamento, a agtech Bowery, de Nova York, levantou US$ 95 milhões em uma rodada de investimentos liderada pelo Google Ventures. Alguns meses antes, Irving Fain, CEO e cofundador da startup, convidou Brian Donato para deixar o cargo de diretor de operações da Amazon e assumir o posto de vice-presidente sênior de operações da fazenda nova-iorquina. O executivo aceitou.
O entusiasmo em torno da agricultura vertical é compreensível. As fazendas indoor se provaram até agora mais rentáveis do que as horizontais, em campo aberto. A começar por economia de espaço e ganho de produtividade. Em 2017, três jovens engenheiros fundaram a Pink Farms, na capital paulista. A primeira e maior fazenda urbana vertical da América Latina está instalada em um galpão ao lado da agitadíssima Marginal Tietê. A produção comercial começou em junho passado e, por enquanto, as plantações estão alojadas em uma torre de oito andares, cuja base mede 18,5 metros quadrados. “No campo, isso equivaleria a 1.850 metros quadrados”, diz Geraldo Maia, 28 anos, sócio-fundador da Pink Farms. “Por metro quadrado de chão, nós somos cem vezes mais produtivos.” Na agricultura vertical, o fazendeiro tem domínio total sobre o ambiente. Luz, temperatura, umidade, irrigação… Toucas, máscaras, luvas e protetores de sapato… Entrar na área de cultivo da fazenda paulistana requer uma assepsia tão (ou mais) rigorosa quanto
a exigida nas UTIs dos melhores hospitais.
Como as plantações estão protegidas das intempéries e do ataque de pragas, os alimentos cultivados indoor dispensam o uso de agrotóxicos. Orgânicos, suspiram os consumidores modernos, mais bem informados e engajados. Nas fazendas urbanas, os negócios não se guiam mais pelo ritmo das estações. Lâmpadas LED fazem as vezes de sol. O agricultor 4.0 consegue ajustar o comprimento de onda mais adequado a cada espécie. Dia e noite. Claro e escuro. Rosa e azul… É a fotossíntese hightech na produção de alimentos, com uma concentração maior de vitaminas e minerais em comparação aos produtos cultivados ao ar livre. Como costuma dizer Nick Kalayjian, vice-presidente sênior de engenharia da Plenty, “damos às plantas o ambiente perfeito para que elas sejam as melhores e mais desejáveis versões de si mesmas”. O prato ganha alimentos mais saborosos e nutritivos.
Na província de Miyagi, no leste do Japão, os pés de alface crescem em um ritmo até 40 vezes maior do que nos campos tradicionais. Graças a uma parceria com o biólogo Shigeharu Shimamura, as 17,5 mil lâmpadas LED usadas na plantação foram fabricadas pela GE com ondas no comprimento exato para agilizar o crescimento das plantas. A plantação hightech de Miyagi foi erguida em uma fábrica de semicondutores da Sony, abandonada depois do tsunami de 2011. Em 2.322 metros quadrados são produzidas 10 mil cabeças de alface, todos os dias.
É curioso imaginar uma lavoura sem terra, mas, ao se visitar uma fazenda vertical, volta-se de lá com os sapatos e a barra das calças tão limpos quanto no momento da chegada — quiçá até mais higienizados. Na agricultura vertical, o cultivo é feito por hidroponia. Por essa técnica, a nutrição das plantas vem de uma mistura de água e sais essenciais. De novo, as novas tecnologias conseguem determinar com precisão as quantidades necessárias de cada um desses ingredientes. Um coquetel específico para a alface, outro para o agrião, um terceiro para a rúcula… “Com isso, há uma economia de 50% no uso de fertilizantes”, diz Geraldo, da Pink Farms. No campo, esses compostos são despejados no solo. Cabe à raiz da planta captá-los. Para que cumpram seu papel a contento, é necessária uma quantidade bem maior do que se fossem despejados diretamente na raiz. Pelo mesmo motivo, como dispensam o uso da terra, nas fazendas verticais, o gasto de água representa apenas de 5% a 1% do consumo nas plantações convencionais.
Como estão nas cidades, as fazendas verticais ficam mais próximas dos consumidores e os custos com logística e transporte diminuem — e a emissão de poluentes também. Mas não só isso. Ao queimar etapas, a taxa de desperdício dos produtos reduz sobremaneira. Segundo Geraldo, da Pink Farms, no modelo tradicional de agricultura, 40% da produção de folhosas estraga no caminho entre o campo e os pontos de distribuição e venda, sobretudo por mau acondicionamento e/ou falta de embalagem adequada. Com os alimentos vindos das fazendas verticais, o consumidor ganha ao levar para casa alimentos frescos — independentemente do lugar e da época do ano.
Graças à parceria com a agtech americana AeroFarms, aos passageiros da primeira classe e da classe executiva da Singapore Airlines que decolam do Aeroporto International Newark Libert, em Nova York, são oferecidas verduras fresquinhas, pouco tempo depois de colhidas. A fazenda está muito perto dali. A AeroFarms foi eleita a agtech mais inovadora de 2019 pela revista Fast Company, na categoria “data science”.
Na configuração do agronegócio 4.0, as fazendas verticais têm um papel importante, mas estão longe de ser a panaceia para todos os males do campo. Com a tecnologia disponível hoje em dia, por exemplo, as culturas estão restritas às hortaliças e alguns legumes e frutas.
Teoricamente, tudo o que cresce na terra poderia ser cultivado em uma fazenda vertical. Mas do ponto de vista financeiro, atualmente, não vale a pena erguer uma plantação de mangas em ambiente fechado. Ou de grãos. “As tecnologias para plantar alimento indoor acabaram de ser inventadas”, diz o professor Dickson, de Columbia. Segundo os entusiastas do modelo de cultivo vertical, é só uma questão de tempo. Pode ser. Cinco anos atrás, dizem os especialistas, as fazendas verticais do modo como as conhecemos hoje seriam impensáveis.
Em comparação às fazendas em campo aberto, a produtividade das verticais, metro quadrado por metro quadrado de chão, é indubitavelmente maior, mas ainda assim elas demandam espaço. Segundo o professor Dickson, para alimentar 50 mil pessoas, a fazenda deveria ter uma altura equivalente a 30 andares e uma base do tamanho de meio quarteirão. Para a cidade de São Paulo, seriam necessários 244 edifícios. Para Manhattan, 33. E Pequim, 430.
Por enquanto, para o consumidor, os produtos vindos das fazendas indoor são de 10% a 15% mais caros do que seus equivalentes cultivados em campo aberto. Em relação aos orgânicos, porém, tendem a ser de 15% a 20% mais baratos. “O custo pode ser um limite hoje”, concorda Dickson. “Mas, em breve, chegará a hora em que eles serão subsidiados pelos governos, de modo a garantir alimentos saudáveis e sustentáveis para todos os cidadãos, em todos os países.” Há esperança.
Vegetais que vêm do frio
A mil quilômetros do Polo Norte, no arquipélago Svalbard, na Noruega, grande parte dos alimentos chega de navio ou avião. Preocupado com a emissão de CO2 e o uso excessivo de plástico, o americano Benjamin Vidmar fundou a Polar Permaculture, uma fazenda sustentável no gelo. No verão, quando há luz 24 horas por dia, Benjamin produz verduras e legumes. No inverno, quando as temperaturas podem chegar a -30ºC durante os quatro meses de escuridão, ele cultiva microgreens, vegetais em estado jovem, com alto teor de nutrientes e sabor intenso. As sobras viram adubo para o minhocário.
O túnel que virou fazenda
Construído na década de 70 e abandonado em 2002, um túnel no condado de Okcheon, a cerca de 200 quilômetros ao norte de Seul, na Coreia do Sul, abriga a NextOn. Em uma área de 2,3 mil metros quadrados, sob o comando de Choi Jae-bin, a fazenda produz verduras e legumes. Apenas 16% da área total do país é usada pela agricultura e, nas últimas quatro décadas, a população rural foi reduzida à metade — enquanto o crescimento populacional chegou a 40%. No ano passado, o governo sul-coreano lançou um programa de investimentos em agricultura vertical.
Fonte: Época Negócios
Amazônia paraense: sustentabilidade é o mantra de resistência dos povos da floresta
Em tempos de descaso com a natureza, ribeirinhos da Ilha do Combu – produtores de cacau e do açaí – dão aula de como preservar e cuidar do meio ambiente.
Saindo do porto fluvial de Belém, a lancha rápida atravessa, em 15 minutos, as águas turvas, com correnteza forte, do Rio Guamá até chegar à Ilha do Combu. Durante o Círio de Nazaré, essa ilha conhecida como Veneza Tropical, é um dos destinos mais procurados pelos turistas que buscam o contato com a natureza e os poderes invisíveis da selva amazônica.
Neste recanto natural vivem ribeirinhos e empreendedores, que extraem dos rios e das matas os alimentos nativos que ressaltam os sabores da rica culinária paraense. É o caso de Izete Costa, Dona Nena, que desde 2006 comanda uma produção de chocolate e cacau amazônico 100% orgânico.
A história dela é consonante com a de tantas outras mulheres brasileiras. Verdadeiras guerreiras, que assumiram a responsabilidade de sustentar a família em regiões longínquas do Brasil continental. Dona Nena promove na Ilha do Combu um importante resgate da cultura e das tradições ribeirinhas. Uma voz que se destaca nos igarapés e nas matas na busca incessante de uma vida melhor para sua família e toda a comunidade sem agredir o meio ambiente.
O trabalho de formiguinha de Dona Nena – Filha do Combu, na verdade começou há tempos. Ela e família produziam o chocolate bruto e orgânico e vendiam o precioso produto paraense para as fábricas em todo o mundo. Só em 2006, a empreendedora passou a vender, por conta própria, seus chocolates de sabor intenso com textura mais arenosa na casa dela.
Tempos depois, a carreira da chocolatier paraense ganhou status internacional com a parceria firmada com o chef Thiago Castanho, do badalado Restaurante Remanso do Bosque, em Belém. Hoje, com a alta demanda por seus produtos, a produção de dona Nena e sua equipe gira em torno 80kg por mês entre barras 100% cacau, pó de cacau, nibs (sementes de cacau fermentadas, secas, torradas e trituradas), brigadeiro em pote e outros produtos que são vendidos na lojinha no Combu e em alguns lugares em Belém.
Reagindo à samaúma
Após uma degustação dos produtos de Dona Nena, onde experimentamos o chocolate em pó, o bolo de tapioca e a geleia de cupuaçu nos aventuramos a conhecer a mata e a plantação de cacau nos fundos da casa-recanto. Andando poucos metros, nos deparamos com a gigantesca samaúma – a árvore símbolo representante da Amazônia. Com mais de 30 metros de altura, com aproximadamente 250 anos, a suntuosa guardiã gera contentamento naqueles que tocam seu tronco. Sua base é tão grande que seriam necessárias 25 pessoas para poder abraçá-la por completo.
Entre os convidados para viver a experiência da selva estava a youtuber Nienke Helthuis – a carismática jovem holandesa apaixonada pelo Brasil e por nossa cultura. Caminhando por entre a mata, debaixo de um calor de 34oC, a jovem, junto com seus empresários, é levada por guias locais até a majestosa samaúma. Ela se aproxima, toca no tronco da árvore da Amazônia e, em transe, cria-se uma conexão com os guardiães da floresta.
Em seu perfil nicenienke no canal de vídeos, ela se identifica da seguinte forma: “Em 2017, minha vida mudou completamente. Um dos vídeos do meu canal de YouTube ‘tentando falar português’ se tornou um viral! Muitas pessoas conheceram meu canal e em pouco tempo me fizeram uma das maiores influências digitais na Holanda e no Brasil!”. Atualmente, estão no topo de visualizações seus vídeos Reagindo à vai malandra e Meu primeiro vídeo inteiro em português. Ela agradece a popularidade e acrescenta: “Eu tive vídeos com uma música brasileira, experimentando novas comidas, e tendo alguns prazeres. Os fãs brasileiros são tudo isso, eles fazem tudo isso ser possível!”.
Sintonia verde
Na porta de entrada do grande canal da Ilha do Combu, uma construção sobre palafitas “flutua” sobre as águas do Rio Guamá. No local, se encontra o Restaurante Saldosa Maloca (escrito com L mesmo), estrategicamente voltado para a Baía do Guajará, de onde se avista a cidade de Belém.
Para quem chega desavisado, ele não é um simples boteco suspenso que serve boa comida com temperos da Amazônia. É muito mais! Trata-se de um recanto de sustentabilidade sob o comando da chef paraense Prazeres Quaresma dos Santos, carinhosamente conhecida como Dona Neneca.
Igualmente reconhecida como símbolo da mulher forte do Norte, Prazeres assumiu, há 35 anos, um pequeno bar herdado do pai e tio e transformou o local em um dos destinos mais procurados por turistas do Brasil e do exterior. Segundo Prazeres, o nome adveio do fanatismo pelas músicas de Adoniran Barbosa e Nelson Gonçalves, ídolos dos fundadores da casa. “Meu pai e meus tios eram fãs desses cantores. Até que um dia, um dos meus tios disse: ‘Ah, por que a gente não coloca Saldosa Maloca? A casa é rústica, indígena e ficaria um nome bem legal’. Então, desde então, ficou conhecida assim”, disse.
Desde cedo, a preocupação da empreendedora ribeirinha, filha de caboclos, foi com a natureza ao redor. Numa placa cuidadosamente exposta no restaurante resume o sentimento de preservação com o meio ambiente. Como um mantra ou cântico xamânico as palavras soltam os olhos: reuse, recrie, repense, reveja e reviva.
Há muito tempo que todo o lixo do restaurante passou a ser reciclado. Hoje, as sobras de comida são depositadas em quatro usinas de biogás, onde a compostagem servirá como adubo para os canteiros de ervas, verduras e frutas e, o mais interessante, dali se extrai o gás usado no preparo dos alimentos.
Para Dona Neneca, os brasileiros precisavam vir à Região Norte e conhecer como vivem os povos da floresta. Entender a conexão dos ribeirinhos com as águas da Região Amazônica. “Dependemos dos nossos peixes e crustáceos para poder sobreviver. Cultivamos o açaí, o cupuaçu, o cacau e o bacuri da mesma forma artesanal que nossos antepassados. Tudo orgânico e natural. Sem a presença de agrotóxicos. No nosso solo sagrado sinto uma tristeza da samaúma – a gigantesca árvore de 40 metros e mais de 400 anos, que é a representante dos povos da Amazônia. Sinto que ela quer nos dizer algo: que nós precisamos parar de maltratar os rios, as árvores, as matas agora.”
Berçário sagrado de aves
Há quem diga que as garças estão de volta a Belém. A resposta é simples: elas reapareceram com a criação do Parque Naturalístico Mangal das Garças pelo governo do Pará, em 2005. Belém já era uma metrópole emoldurada pela floresta, mas algumas regiões estavam em completo abandono. O local logo se tornou um dos pontos turísticos mais elogiados da capital paraense.
Nesse parque, que em algum momento nos faz lembrar o Museu de Inhotim, em Brumadinho, foi feita a revitalização de uma área de cerca de 40 mil metros quadrados às margens do Rio Guamá, nas franjas do Centro Histórico de Belém. O que antes era uma área alagada com extenso aningal transformou-se em um belo recanto na cidade. Ao entrar no berçário de tantas aves da Região Amazônica, o turista se depara com a rica diversidade da fauna e flora do Pará: sobre a torre espetacular no centro do parque ou caminhando no trapiche elevado que nos leva até o Rio Guaíba, avistam-se matas de terra firme e de várzea. Neste local, em total sintonia com a natureza, contemplam-se lagos artificiais, iguanas, flamingos festivos, garças graciosas, além de aves nativas e borboletas multicoloridas.
Fonte: Estado de Minas
Segundo prefeito, as mineradoras “pagam” pelas vidas de Mariana.
Após duas barragens de rejeitos de mineração se romperem em Mariana (MG), o prefeito Duarte Júnior disse que defender o fim da mineração no município é “fechar as portas” da cidade. “Dizer que não pode mais haver mineração é afirmar que serviços básicos terão de ser parados e que 4 mil pessoas vão perder seus empregos”, comentou Duarte Júnior em entrevista à Agência Brasil. Read More …
Brasileiros dão preferência a empresas que focam nos Objetivos Globais
O Brasil aparece no topo do ranking de uma pesquisa quando o assunto são os serviços e produtos oferecidos por empresas que trabalham alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). No estudo coordenado pela consultoria PwC, que ouviu empresários, executivos e público em geral, 95% dos entrevistados afirmaram que preferem empresas que defendem os ODS e têm ações para melhorar a vida de todos no planeta. Em segundo lugar, aparece a Índia (87%), seguida por Argentina (86%), China (85%) e África do Sul (85%). Read More …