Alterações do balanço hídrico no Cerrado podem afetar importantes setores da economia brasileira
“É evidente que as alterações de uso e cobertura do solo promovidas pela expansão agrícola na região de Cerrado têm potencial para afetar os serviços ecossistêmicos e vários importantes setores da economia do Brasil, tais como agricultura, produção de energia e disponibilidade hídrica”, alerta o pesquisador em hidrologia, Tarso Sanches Oliveira.
A substituição da vegetação nativa do Cerrado por áreas destinadas às atividades agrícolas “tem causado intensas mudanças nos processos hidrológicos” e acelerado a erosão do solo do segundo maior bioma da América do Sul, afirma Paulo Tarso Sanches Oliveira, doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento e autor da tese Water balance and soil erosion in the Brazilian Cerrado. Nos últimos anos o pesquisador tem estudado as mudanças ocasionadas no solo e no ciclo hidrológico do bioma, que abrange 10 das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras, e contribui para a formação de importantes bacias hidrográficas, como a dos Rios Tocantins/Araguaia, São Francisco, Paraguai, Paraná e Parnaíba. “Essas mudanças no balanço hídrico e erosão do solo são ainda pouco entendidas, apesar de fundamentais na tomada de decisão de uso e manejo do solo nesta região. Portanto, torna-se necessário compreender a magnitude das mudanças nos processos hidrológicos e de erosão do solo, em escalas locais, regionais e continentais, e as consequências dessas mudanças”, pontua.
Na entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail, Oliveira informa que o desflorestamento do Cerrado está ocorrendo mais rapidamente do que na área de floresta amazônica e “considerando a taxa atual de desflorestamento, estima-se que o ecossistema pode desaparecer nos próximos anos”. Segundo ele, “o uso do solo é considerado um dos principais fatores que controlam o processo de erosão hídrica. Nossos resultados sugerem que mudanças no uso do solo (como, por exemplo, a substituição do Cerrado para cultivo agrícola) têm o potencial de intensificar a erosão do solo de 10 a 100 vezes”. Entre as consequências previstas caso a atual situação se mantenha, o pesquisador menciona a possibilidade de haver alterações no balanço hídrico, intensificação dos processos erosivos, perda de biodiversidade, desequilíbrios no ciclo do carbono, poluição hídrica, mudanças no regime de queimadas e alteração do clima regional.
Oliveira lembra ainda que “além de ser uma importante região ecológica e agrícola para o Brasil, a região de Cerrado é crucial para a dinâmica de recursos hídricos, pois (…) as maiores usinas hidrelétricas do país (~80% da energia produzida no Brasil) possuem rios que se iniciam em regiões de Cerrado”.
Paulo Tarso Sanches Oliveira é doutor em Ciências – Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (EESC-USP). Trabalhou como pesquisador visitante na United States Department of Agriculture (USDA-ARS), é mestre em Tecnologias Ambientais – Recursos Hídricos e é graduado em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.
Fonte: IHU-Online