VISÃO DISTORCIDA, PRÁTICA CONTORCIDA

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Em meio à imensidão de informações que circulam em redes sociais, na mídia e nos meios acadêmicos, muita confusão tem sido feita, principalmente com relação a conceitos e teorias científicas, bem como em relação a interpretação de posicionamentos político-ideológicos e de exercício da cidadania.

Gostaria de dar ênfase para o processo ensino-aprendizagem onde nesse contexto a confusão entre o que parte de nossos professores dizem e fazem não condiz com o que apregoam em sala de aula.
Especificamente nas ciências humanas e sociais é comum a abordagem de temas como socialismo, capitalismo, marxismo, justiça social, democracia, equidade, sustentabilidade e globalização. Pois bem, esses conceitos/temas/assuntos, por vezes são tratados mais no formato de uma militância e propaganda do que como deveriam ser: estudados sob o viés científico.

Esta é uma parte da distorção. A outra parte se refere ao que alguns docentes fazem em seu dia a dia. Ou seja, vincula-se com a chamada práxis (relação entre teoria e prática). Degustam cervejas feitas com milho transgênico, frequentam assiduamente shooping centers, se vestem com marcas multinacionais, se locomovem com veículos fruto das linhas de produção (capitalista que tanto criticam) e não são democráticos e socialmente justos quando da tomada de decisões coletivas.

Relembro os leitores da última greve ocorrida no estado do Paraná e exemplifico com o fato de que milhares de docentes se abstiveram de tudo que ocorreu, em especial ao dia 29/04, em que colegas (incluindo eu) foram massacrados em praça pública pela política militar, tentando defender interesses coletivos e que dizem respeito ao futuro não só dos docentes, mas também de futuros funcionários públicos e da escola pública em geral.

Esses mesmos docentes, que apregoam a justiça social e a criticidade, são os mesmos que no final do ano fazem vistas grossas para um aspecto referente à real qualidade no ensino: aprovam seus alunos pelo chamado conselho de classe. Infelizmente não tem como pensar em qualidade quando vemos alunos com 8 matérias, reprovarem em 3, e, assim mesmo serem aprovados.
Nesse contexto penso: “Ensinam-se” conceitos, teorias, discutem-se ideias e posicionamentos críticos, porém, no dia a dia e no próprio processo ensino-aprendizagem essas não são postas em prática. Devo lembrar que a criticidade pressupõe leitura, análise, compreensão e aplicabilidade daquilo que se estuda. Do contrário fala-se de outra coisa: hipocrisia.

A crítica, nesse sentido é vazia. Vazia porque muitas aulas são meramente expositivas, desprovidas de um elemento fundante do aspecto dialógico: a interação entre professor/aluno/professor. Desprovida de relação com o cotidiano dos educandos, e, talvez pior, dos professores.

Enquanto tivermos docentes dizendo uma coisa e fazendo outra, ou ainda, alguns buscando o cumprimento de direitos socialmente construídos e outros fazendo greve em casa ou na praia, a situação só tende a piorar.

Ainda estamos “engatinhando”, ou quem sabe, saindo da pré-história em termos didático-pedagógicos e de compreensão daquilo que se trabalha nas universidades. Um árduo e longo caminho ainda deve ser trilhado até que finalmente um dia realmente possamos alcançar níveis reais de qualidade na educação.

Se todas essas palavras são inverdades (para os “críticos”), cabe uma reflexão: Por quê, majoritariamente, nossos docentes de escolas públicas colocam seus filhos para estudarem nas instituições privadas?

Isonel Sandino Meneguzzo
imeneguzzo@hotmail.com
*Autor é professor da UEPG

Fonte: Jornal da Manhã

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