Os riscos do financiamento ao capital natural

fundo capital naturalFundos de pensão e bancos brasileiros estão expostos a bilhões de dólares de custos ambientais devido aos impactos causados pelas atividades das empresas que esses atores financiam ou investem. A integração de fatores ambientais nas decisões de financiamento pode ajudar as instituições financeiras a reduzirem esses riscos ambientais e ao mesmo tempo promover fluxos de capital para processos e produtos que respeitem o meio ambiente.

Os resultados foram publicados no relatório de “Exposição do Setor Financeiro ao Risco do Capital Natural”, elaborado pelo pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), em parceria com a GIZ (Agência Alemã para a Cooperação Internacional) e a Trucost, e divulgados nesta terça-feira, 07, durante evento na Febraban.

A pesquisa quantifica, em termos financeiros, os impactos do capital natural de 45 setores de negócios no Brasil, incluindo a agricultura, cimento, produtos químicos, energia, florestas e aço. Os impactos incluem as emissões gases de efeito estufa, consumo de água, desmatamento, resíduos, água e poluição do ar.

O estudo constata que o custo do capital natural total de empresas financiadas por bancos e fundos de pensão brasileiros é de R$ 1,646 bilhões. Os setores com os maiores custos de capital natural incluem a criação de gado, cultivo de soja e extração de petróleo e gás. Para cada milhão de reais de receitas, o setor de pecuária, por exemplo, gera R$ 22 milhões de impactos ambientais, principalmente por meio de desmatamento e de emissões de gases de efeito estufa. Da mesma forma, no caso do cultivo de soja, para cada R$ 1 M de receita gerada pelo setor, totalizam impactos ambientais no valor de quase R$ 3 milhões.

Mesmo se os setores de uso intensivo de capital natural no Brasil internalizassem uma pequena fração dos custos das externalidades ambientais que eles estão gerando, seu desempenho financeiro e, consequentemente, a sua capacidade para reembolsar os empréstimos e gerar receitas de acionistas seria impactado significativamente. Se, por exemplo, os setores de abate de animais e processamento internalizassem apenas 2% dos custos do capital natural gerados, o setor já não seria rentável. Já na indústria petroquímica, os lucros do setor desapareceriam caso 13% dos seus custos de capital natural forem internalizados.

Devido a uma elevada percentagem de empréstimos para setores como pecuária e indústrias agrícolas, os bancos brasileiros estão particularmente expostos aos custos do capital natural – mais que o dobro do que os fundos de pensão brasileiros. No entanto, os fundos de pensão enfrentam custos de capital natural consideráveis, devido aos investimentos em setores petroquímicos, de metais e dos produtos alimentares.

O relatório recomenda que as instituições financeiras devam quantificar os custos do capital natural relacionando com as suas carteiras de investimentos e carteiras de empréstimos; avaliar os riscos destes custos virem a ser internalizados ao longo do tempo como resultado de regulamentação ou relacionando a volatilidade do clima; e incorporar considerações de capital natural em suas análises, processos de tomada de decisão e estratégias de investimento.

Para permitir isso, é fundamental que os bancos e os fundos de pensão usem sua posição para exigir melhores dados sobre os impactos do capital natural das empresas. Eles também devem incentivar as empresas a reduzir seus impactos ambientais e a utilização de recursos através da adoção de métodos de produção ambientalmente sustentáveis, como a energia renovável, irrigação eficiente e reciclagem de resíduos.

Richard Mattison, principal executivo da Trucost, disse: “A valorização do capital natural oferece aos bancos e fundos de pensão um novo quadro para compreender os riscos e as oportunidades dos seus investimentos e de suas atividades de financiamento. As instituições financeiras que integram as considerações do capital natural em sua avaliação patrimonial e nas decisões de concessão de empréstimos corporativos, podem se beneficiar através da redução dos riscos e identificação de oportunidades de negócios mais rentáveis.”

Simone Dettling, coordenadora do Diálogo sobre Finanças Verdes nos Mercados Emergentes, disse: “A integração dos custos dos impactos ambientais e uso de recursos para a tomada de decisão financeira será um passo crucial para um sistema financeiro sustentável, que pode apoiar a transformação verde das economias em todo o mundo.”
Marina Grossi, presidente do CEBDS, afirmou: “Embora a exposição do setor financeiro ao capital natural seja indireta, uma vez que não há nenhuma dependência e impacto dos serviços no ecossistema, tão forte como nos setores da indústria, os bancos estão percebendo cada vez mais que os problemas de abastecimento ou a qualidade do capital naturalpodem dificultar a implementação de projetos, causando perdas significativas.”

Fonte: Envolverde

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