fevereiro, 2020

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Em Janeiro, MPF recomendou destruição de equipamentos usados por grileiros em terra indígena onde antropólogo foi preso no Pará

A TI Ituna Itata fica entre Altamira e Senador José Porfírio e somente agentes do Estado têm permissão a acesso. Área foi reservada, com proteção e restrição de uso pela possível presença de indígenas isolados, segundo MPF.

 

Em janeiro, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Ibama a destruição de equipamentos usados por grileiros na Terra Indígena Ituna Itatá, onde o antropólogo Edward Luz foi preso no último domingo (16). Localizado entre Altamira e Senador José Porfírio, sudoeste do Pará, o território tem 142 hectares de extensão e, segundo o Ibama, somente agentes do Estado têm permissão a acesso, locomoção e permanência. A área ainda não foi demarcada, mas foi reservada como condicionante da usina hidrelétrica de Belo Monte, com proteção e restrição de uso pela possível presença de indígenas isolados, de acordo com o MPF.

A recomendação da destruição de maquinários veio após agentes do Ibama serem bloqueados depois da apreensão de cinco mil litros de combustível clandestino, que seriam usados para desmatamento ilegal na terra indígena, e ofensas do deputado Zequinha Marinho (PSC-PA) contra a operação que identificou mais de mil hectares devastados somente em janeiro de 2020 na área protegida.

Os agentes foram xingados pelo senador paraense de “servidores malandros e bandidos” por queimarem maquinários e barracos de acusados de desmatamento ilegal.

Ainda na recomendação, o MPF defendeu a destruição de maquinários, o que é previsto em lei quando equipes de fiscalização não têm meios para apreender e transportar o material.

Segundo o Ibama, as ações recentes na TI Ituna Itatá têm objetivo de combater a devastação na área, que teve recorde em 2019, segundo dados do governo federal. O órgão informou, ainda, que qualquer cidadão que dificultar ações de fiscalização ambiental pode ser multado e conduzido à Polícia.

Desobediência

Edward Luz disse à TV Liberal, afiliada da Rede Globo, que a detenção ocorreu por volta das 12h30 de domingo, e que ele foi autuado pelo crime de desobediência.

O antropólogo alegou estar no local para cumprir acordo firmado entre o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o MPF contra destruição de “patrimônio de população em situação de fragilidade”. Segundo Luz, ele foi procurar o chefe da fiscalização, “na melhor das boas intenções”, para alertar que agentes não poderiam fazer a fiscalização lá, parada “por ordem ministerial”, segundo ele. Edward Luz afirma que os fiscais estavam desobedecendo Salles.

O ministro Salles disse à TV Globo que não conhece o antropólogo, e que o viu pela primeira vez na semana passada, num encontro com representantes do MPF e políticos locais no qual foi firmado um acordo sobre as fiscalizações na região (leia mais abaixo). Salles também defendeu a ação que o Ibama realizou no domingo na terra indígena.

O antropólogo contou ainda que “estava a serviço de clientes”, identificados como membros de uma associação de produtores industriais. Ele não esclareceu qual é essa associação.

Em nota, a Polícia Federal disse que Luz “estaria impedindo a fiscalização do órgão público federal na área da Terra Indígena Ituna/Itata”. Ele foi preso pelo crime de desobediência após ser advertido e não atender a reiteradas ordens para se retirar da Terra Indígena, e foi liberado depois de se comprometer a comparecer em audiência a ser marcada pela Justiça Federal.

Reunião debateu fiscalização na Terra Indígena

A Terra Indígena Ituna-Itatá é alvo de ações de fiscalização do Ibama contra invasões e desmatamentos que ocorrem desde 2016.

Edward Luz diz que, na terça-feira (11), havia participado de uma reunião com o ministro Salles, que havia se comprometido a interromper a destruição de propriedades e máquinas encontradas na terra indígena Ituna-Itatá por 30 dias, até que a Funai comprovasse a existência de índios isolados lá.

Em nota divulgada na quarta-feira (12), o MPF afirma que, efetivamente, houve uma reunião entre representantes do órgão, o ministro Ricardo Salles e políticos da região – entre eles, o senador Zequinha Marinho (PSC/PA).

Nesse encontro, ficou definido que:

  • na área considerada reservada da terra indígena, a fiscalização continuaria;
  • na área não reservada, as atividades de remoção de quem está em situação de vulnerabilidade social ficariam suspensas por 30 dias.

Ainda de acordo com o MPF, Salles se comprometeu a monitorar a área diariamente por satélite e, caso venham a ser constatados novos desmatamentos, as ações do Ibama na área não demarcada retornarão.

Quando foi detido, Luz citou o encontro. “Estou aqui com nosso comandante da operação para fazer cumprir a ordem ministerial do senhor ministro Ricardo Salles com o qual eu me encontrei na última terça-feira, as 14h26, e onde ficou acordado que nenhum patrimônio de população em situação de fragilidade será destruído”.

O procurador da República Daniel Azeredo, que faz parte de um dos órgãos do MPF que participou da reunião, disse ao jornal “Folha de S.Paulo” que a ação do MPF foi correta.

“O antropólogo está sem qualquer razão. A operação do Ibama se desenrola dentro da lei, e ele não pode interferir ou atrapalhar”, afirmou.

Após ser solto, Edward Luz divulgou, em redes sociais, um áudio convocando pessoas a irem à Altamira traçar uma estratégia para que o acordo com Salles seja respeitado.

Detido é criticado por associação de antropologia

Em sua conta na rede social Twitter, Edward Luz se classifica como consultor parlamentar e antropólogo social pró-Tapajós e “livre de ONGs, da Esquerda e da corrupção”. Ele tem graduação e mestrado em antropologia.

Em maio de 2013, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) informou que Luz foi expulso do seu quadro de associados. Nesta segunda-feira (17), entretanto, a presidente da associação, Maria Filomena Grigori, afirmou ao G1 que o caso de Luz chegou a ser discutido pela ABA, mas ele se desvinculou antes que a expulsão fosse formalizada. “Ele tinha e tem um comportamento que abalava e abala o nosso código de ética”, declarou.

Em entrevista à TV Liberal, Edward Luz negou que teria sido expulso da ABA, mas saiu por conta própria, já que a associação estava envolvida em fraudes.

“Eu não fui expulso, eu pedi a minha exclusão do quadro da Aba. Aba estava promovendo uma série de irregularidades, de fraudes. A revista Veja publicou um artigo em janeiro de 2010 chamado ‘A Farra da Antropologia Oportunista’. Reconhecimento dessas ideias, nesses casos de oportunismo antropológico, e eu passei a denunciar esses casos e de lá até hoje venho sendo perseguido por outros antropólogos”, contou Luz.

O antropólogo é crítico da presença de ONGs na região e da demarcação de terras indígenas. No caso da Terra Indígena Ituna-Itatá, ele diz que os estudos sobre índios isolados na região nunca foram provados.

A primeira portaria que trata da área foi assinada em 2016. Em janeiro deste ano, a proteção foi prorrogada por mais três anos pela Portaria 17 da Fundação Nacional do Índio (Funai) para estudar a presença de índios isolados.

De acordo com monitoramento do Instituto Sócio Ambiental (ISA), há ao menos quatro processos minerários na região. Três pedidos de autorização de pesquisa de fosfato datam de 1984, e o mais recente, que busca ouro, é um requerimento de lavra datado de 2017.
Fonte:G1

Bolsonaro ataca Greenpeace, que responde

“Quem é essa porcaria chamada Greenpeace? Isso é um lixo!”, atacou ele

O Greenpeace Brasil respondeu às críticas feitas hoje de manhã à organização pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. Em fala a jornalistas ao deixar o Palácio do Alvorada, Bolsonaro afirmou pela manhã: “Quem é Greenpeace? Quem é essa porcaria chamada Greenpeace? Isso é um lixo! Isso é um lixo!”

A organização usou uma sequência de tuítes para responder no início da tarde ao questionamento retórico do presidente. “Somos uma organização que pressiona qualquer governo. Quando vemos ameaças às florestas, vamos nos manifestar”, afirma o Greenpeace. “Usamos confrontos pacíficos e criativos para expor problemas ambientais e desenvolver soluções para um futuro verde e pacífico.”

A ONG afirmou ainda ser independente de empresas, governos e partidos e formada por pessoas empenhadas em proteger o meio ambiente.

Em resposta ao xingamento de “lixo”, o Greenpeace usou de ironia. “De lixo a gente entende! Nos últimos 3 anos nossos voluntários e voluntárias coletaram mais de 90 toneladas de lixo.”

A organização propôs um debate sobre outro “lixo”, simbolizado pelo aumento do desmatamento, a flexibilização do licenciamento ambiental, a liberação de agrotóxicos e a mineração em terras indígenas — intensificados durante o governo Bolsonaro.

As críticas de Bolsonaro à ONG pela manhã foram proferidas depois de jornalistas o questionarem sobre cobranças do Greenpeace em relação ao Conselho da Amazônia, que não tem metas nem orçamento definidos. “A questão ambiental é mole. A Amazônia equivale a uma Europa Ocidental, é mole de resolver o problema lá”, disse Bolsonaro mais cedo.

Bolsonaro afirmou também que não resolveria nada incluir governadores e secretários municipais no Conselho da Amazônia. “Se você quiser que eu bote governadores, secretários de grandes cidades, vai ter 200 caras. Sabe o que vai resolver? Nada. Nada”, disse Bolsonaro.

“Tem bastante ministros. Nós não vamos tomar decisões sobre Estados da Amazônia sem conversar com governador, com a bancada do Estado. Se botar muita gente é passagem aérea, hospedagem, uma despesa enorme, não resolve nada”, complementou.

Na última terça-feira, o presidente fez críticas à “indústria da demarcação de terras indígenas” ao assinar o decreto que transferiu o conselho para vice-presidência.
Fonte: Valor Econômico

Rondônia perde 70 mil km² de floresta em quase 30 anos, aponta Mapbiomas

Imagem de satélite mostra avanço do pasto em Rondônia.

Extensão equivale a quase 10 mil campos de futebol do tamanho do Maracanã. Engenheiro florestal diz que recuperação do solo pode levar pelo menos uma década.

Rondônia perdeu 69.526 km² de floresta entre 1990 e 2017. A quantidade de floresta perdida equivale a quase 10 mil campos de futebol do tamanho do Maracanã, no Rio de Janeiro. Os dados são do Mapbiomas (entenda como funciona) e foram analisados pelo G1.

O projeto se constitui em uma base colaborativa mantida por empresas de tecnologia, organizações não governamentais e universidades. O levantamento estuda a série histórica de imagens de satélite Landsat, também usado para capturar informações sobre desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O cálculo de floresta desmatada pelo Mapbiomas exige a análise da série temporal (o que aconteceu nos anos anteriores e posteriores) e, por isso, o recorte atualizado e verificado pela reportagem é do período de quase 30 anos.

Os números do Mapbiomas revelam que, em 1990, a formação florestal em Rondônia era de pouco mais de 20 milhões de hectares. Já a de abertura de pastagem era de quase 2,7 milhões de hectares na época.

Mas a formação florestal declinou para cerca de 14 milhões de hectares em 2017, enquanto o quantitativo de pasto subiu para quase nove milhões, um crescimento de mais de 200% em 27 anos.

Recentemente, dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) apontaram que o desmatamento em toda a Amazônia avançou quase 30% entre julho de 2018 e agosto de 2019.

Trata-se de um aumento de 29,5% em relação ao período anterior (agosto de 2017 a julho de 2018), que registrou 7.536 km² de área desmatada.

Quais são os limites e as proibições?

Na Amazônia Legal, as propriedades devem preservar 80% da vegetação nativa. Porém, mesmo com os 20% livres para uso alternativo do solo, é necessária prévia autorização do órgão estadual – em Rondônia, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam).

“Caso a propriedade possua menos do que 80%, é obrigatória recomposição da seguinte forma: se o desmatamento ocorreu antes de 22 de julho de 2008 (área consolidada), deve-se recuperar até os limites determinados pela legislação estadual. No caso de Rondônia, 10%, 20% ou 50%, dependendo do tamanho da propriedade. Se foi depois dessa data, deve-se recuperar os 80%”, explicou o engenheiro florestal Henrique Nery Cipriani, pesquisador da Empresa Brasileira da Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Rondônia.

Se estiver longe das áreas de preservação permanente (APP) e em dia com os limites permitidos, por exemplo, o produtor pode exercer qualquer atividade. Já sobre o uso do fogo para manejo de pastagem, é fundamental também ter o aval da Sedam, por mais que seja permitido. Contudo, não é recomendado.

“Normalmente, faz-se um inventário da área para retirada de madeira de Lei e outras árvores com valor comercial e para se verificar a existência de espécies ameaçadas de extinção. Neste caso, podem ser exigidas autorizações especiais e algumas compensações. Feito isso, a supressão pode ser feita com máquinas. O uso do fogo é extremamente restrito”, ressaltou Cipriani.

A supressão vegetal não pode ser feita com fogo. A proibição consta, inclusive, no artigo 38 do Código Florestal. A lei também vale para grandes áreas de até dois hectares.

Segundo Henrique Cipriani, o fogo pode prejudicar o solo, a água e o ar. A consequência que mais reflete entre os produtores é a perda da capacidade produtiva da terra.

“Infelizmente, dada a praticidade, o produtor é tentado a recorrer ao fogo, mas há diversas técnicas sustentáveis para o manejo das pastagens e culturas agrícolas e florestais”, reforçou.

A floresta pode voltar a ser floresta?

Pode, mas o processo é lento. Quando acontece o desmatamento e a queimada, então, o trabalho de recuperação corre risco de se estender por décadas.

O motivo é que há o rompimento da cadeia ecológica que havia no ambiente afetado. Com isso, compromete as “funções da floresta”, de acordo com o engenheiro florestal Carlos Francisco Rosetti, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB).

“O solo é uma delas. As áreas de garimpo já são bem mais difíceis e mais caras, muito demoradas. Então nós poderíamos falar em uma década, pelo menos uma década. No caso dos solos da Amazônia, de modo geral, eles precisam da biomassa e a biomassa, por mais acelerada que seja, em função da umidade ou da diversidade das espécies, principalmente do sol e da energia do ambiente, necessitam de um tempo relativamente longo”, explicou.

Conforme Rosetti, o custo para se recuperar uma área afetada pelo desmatamento é alto. O ideal, segundo o engenheiro, seria implementar instrumentos e técnicas para que a floresta, enfim, volte a ser floresta.

“A exemplo da área onde o desastre ambiental de Mariana aconteceu, que eu acompanhei. O tempo de recuperação é lento, mesmo que o relevo seja diferente da Amazônia. Sempre são tempos longos, principalmente se considerarmos o modelo de exploração do solo”, reforçou.

Alertas em alta

O total de áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia bateu recorde no mês passado. De acordo com dados do Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter-B), do Inpe, foram emitidos alertas para 284,27 km² de floresta – maior índice para janeiro desde que começou a série histórica, em 2016.

Se comparado com os dados de janeiro de 2019, quando os alertas somaram 136,21 km², houve um aumento de 108%. O número mantém a tendência já verificada de aumento no desmate: no ano passado, os alertas subiram 85% na comparação com 2018.

Fonte: G1

Mais 20 empresas aderem ao Pacto de Mobilidade Empresarial

Bicicleta em Lisboa, Portugal!

Redes de partilha de bicicletas, promoção de trabalho remoto e atribuição de passes mensais gratuitos de transporte coletivo são algumas das medidas que as empresas podem adotar.

Mais 20 empresas aderiram ao Pacto de Mobilidade Empresarial para a cidade de Lisboa, um compromisso conjunto promovido pelo BCSD Portugal, pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e pela Câmara Municipal de Lisboa (CML). Juntam-se a outras 57 empresas e instituições que já tinham aderido ao Pacto.

O Pacto de Mobilidade Empresarial tem como objetivo contribuir para uma mobilidade mais sustentável, em Lisboa, através de medidas concretas que promovam a mobilidade na cidade, primeiro através da criação de condições para adoção de novos comportamentos e de novas soluções pelas empresas e pelos seus colaboradores, mas também através do alargamento destas medidas a fornecedores e clientes.

As empresas e instituições aderentes comprometem-se a adotar medidas para que a cidade de Lisboa tenha um sistema de mobilidade mais seguro, acessível, ecológico e eficiente.

Alguns exemplos destas iniciativas são a criação de redes de partilha de bicicletas, a promoção de trabalho remoto, o aumento do número de veículos elétricos em frotas de uso privado e operacional, a instalação de balneários para promover a utilização da bicicleta com meio de transporte e a atribuição de passes mensais gratuitos de transporte coletivo para os colaboradores.

As 20 novas empresas que aderiram ao pacto sãADL Automotive; Apcer; Avenue; Axians; BMW Portugal; Delta Cafés; DXC Technology; Eureka Coworking; FREE NOW; Glovo; Grupo BEL; Jerónimo Martins; Kapten; Lime; Power Dot; Prio; RFF & Associados – Sociedade de Advogados, SP, RL; Sociedade Ponto Verde; Trivalor; Wyze Mobility.

Estas empresas juntam-se a outras 57 que em dezembro já tinham aderido ao Pacto: Accenture; Acciona; Adene; ANA – Aeroportos de Portugal; Arcadis; Banco Atlântico Europa; Barraqueiro Transportes; BNP Paribas; Brisa; Caetano Auto; Carris; Circ; Crédito Agrícola; CTT; DECO; Deloitte; DHL Express Portugal; DPD; Eaton; eCooltra; EDF Renewables Portugal; EDP; Efacec; El Corte Inglês; EMEL; Epal; EY; Fujitsu; Fundação Salesianos; Galp; Grupo Ageas Portugal; Grupo Pestana; Hertz; IKEA Portugal; Imprensa Nacional Casa da Moeda; Infraestruturas de Portugal; Kia Portugal; Logistema; Lojas Francas de Portugal, S.A.; Loyal Advisory; Mercedes-Benz Portugal; Metropolitano de Lisboa E.P.E.; Millennium bcp; Nissan Portugal; PwC; Repsol; Rodoviária de Lisboa; Santander; Schneider Electric; SGS Portugal; Siemens; Siva; Tecnoplano; TIS; TramGrid; Uber e Vodafone.

De acordo com João Wengorovius Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal, “é tempo de agir. O Pacto de Mobilidade Empresarial fornece às empresas colaboração, inovação e metas ambiciosas. Esses são os meios que nos ajudarão a alcançar a nossa visão de cidades sustentáveis”.

Fonte: Diário de Notícias

A luta pela sobrevivência das onças da Caatinga

estima-se que existam apenas 30 onças-pintadas e 180 pardas na região do Boqueirão da Onça

Ameaçadas de extinção, as duas espécies de onças típicas da Caatinga, a pintada e a parda, enfrentam cada vez mais desafios para sobreviver. Conflitos com o ser humano, caça ilegal e o aumento da produção de energia eólica têm influenciado na redução do número de animais no bioma do Nordeste brasileiro.

Encontrar onças na Caatinga é uma tarefa dificílima por alguns motivos: elas são animais raros vivendo em uma grande extensão de terra; elas não gostam muito de se aproximar de humanos; e, mais importante, a presença das duas espécies típicas da área, a parda e a pintada, tem diminuído nos últimos anos, o que as colocou em sério risco de extinção.

Hoje, estima-se que existam apenas 30 onças-pintadas e 180 pardas na região do Boqueirão da Onça, no norte da Bahia, ponto com maior incidência desses grandes felinos na Caatinga nordestina. Em 2008, data da estimativa anterior, havia 50 pintadas e 200 pardas na área — ou seja, houve uma queda de 40% no número de indivíduos da primeira, e de 10% da segunda.

Os dados são do Programa Amigos da Onça, projeto de estudo e conservação dos felinos da Caatinga, filiado ao Instituto Pró-Carnívoros.

Para especialistas e biólogos que atuam na região, além da caça ilegal, as onças enfrentam dois desafios: o conflito com o ser humano e o atual aumento de fazendas de geração de energia eólica — o recurso tem baixo impacto ambiental em comparação com as hidro e termoelétricas, mas eles não são nulos. O Nordeste corresponde a 86% de toda energia eólica produzida no Brasil.

Conservação x energia eólica

Há dois anos, uma área de 347 mil hectares do Boqueirão da Onça foi transformada em parque nacional por um decreto do então presidente Michel Temer (MDB). Isso significa que a fauna e a flora dentro dos limites do parque devem ser conservadas sem nenhum tipo de exploração.

A criação do parque foi vista como boa notícia para as espécies em extinção na Caatinga, como a própria onça, a arara-azul-de-lear e o tatu-bola.

Por outro lado, uma área maior, de 505 mil hectares, foi transformada em Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão. Diferente do que acontece com o parque, essa classificação permite exploração comercial desde que os planos de manejo sustentável sejam respeitados.

Inicialmente, a esperança dos ambientalistas era de que todo o Boqueirão da Onça virasse um parque nacional — ou seja, isso garantiria mais espaço para a preservação total do bioma e dos animais.

Mas a região é muito visada por empresas de geração de energia eólica, que têm cada vez mais instalado fazendas por ali. Portanto, a criação da APA foi benéfica para as companhias, que agora podem explorar o potencial energético da área.

“O Boqueirão é um filé mignon para essas empresas, pois ele tem um grande potencial de geração de energia. Há muitos pontos de morro, onde há uma incidência constante de ventos de boa velocidade”, explica Felipe Melo, pesquisador em Ecologia da Universidade Federal de Pernambuco, que estuda os impactos ambientais da energia eólica na Caatinga.

Para se instalar em uma APA, as companhias precisam de licenças ambientais e relatórios de impactos, embora estudos mais aprofundados sobre como as onças são afetadas pelas torres e linhas de transmissão ainda estejam em estágio inicial.

Porém, pesquisadores já têm notado que a proliferação das fazendas de energia e a maior presença de seres humanos no habitat estão diminuindo o espaço disponível para as onças caçarem suas presas naturais — obviamente, os animais não respeitam os limites burocráticos que separam a APA do parque nacional de conservação. A longo prazo, dizem biólogos, o encurtamento do território pode afetar o bem-estar e até a sobrevivência desses grandes felinos.

“As onças da Caatinga são muito sensíveis a qualquer alteração em seu habitat”, explica a bióloga Claudia B. Campos, ex-coordenadora e atual colaboradora do projeto Amigos da Onça. “A parda até tolera um pouco mais a presença humana. Já a pintada, não. Ela dificilmente vai até pontos onde há intervenção ou presença do homem.”

A bióloga Carolina Franco Esteves, também pesquisadora do Programa Amigos da Onça, conta que o projeto conseguiu monitorar as andanças de uma onça-parda, apelidada de Vitória, por meio de coleiras de rastreamento.

“Em 10 meses de monitoramento, percebemos que em nenhum momento ela se aproximou das torres de geração de energia”, afirmou à BBC News Brasil. “Quando queria chegar em algum ponto para caçar ou beber água, ela dava uma volta por fora das torres, mesmo que não houvesse ninguém por ali.”

Para Melo, esses impactos negativos “poderiam ser minimizados” se as empresas que atuam na Caatinga “dialogassem” mais com entidades e órgãos de conservação. “A energia eólica tem menos impacto ambiental, mas não significa que não exista. É preciso saber exatamente como áreas sensíveis são afetadas e tentar diminuir esses impactos, e não escondê-los”, diz.

Em nota, a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) afirmou que “tem monitorado constantemente” comunidades de animais silvestres nas região do Boqueirão.

“Isso ajudará, de forma bastante significativa a médio e longo prazo, a monitorar e compreender os reais fatores que podem contribuir com quaisquer alterações de riqueza das espécies”, diz a entidade.

A associação também afirma que as fazendas de geração de energia, além de evitar incêndios e gerar renda para produtores rurais, também “inibem a presença de caçadores e a supressão ilegal (de vegetação), ameaças concretas à preservação destes animais”.

Além das torres de energia, as onças da Caatinga enfrentam outro desafio, segundo pesquisadores: o conflito direto com o homem. A caça ilegal para a venda de pele, por exemplo, já matou muitos indivíduos, principalmente nos anos 1970, segundo a bióloga Claudia B. Campos.

Já a caça de outros animais, como veados e porcos do mato, continua afetando os felinos diretamente, pois eles ficam com menos recursos para se alimentar.

Outro tipo de conflito também tem atrapalhado a sobrevivência das onças na Caatinga: a competição com criadores de ovinos e caprinos de seis pequenas cidades que estão dentro do perímetro do Boqueirão.

“A Caatinga tem praticamente duas estações no ano: chuva e seca. Na época da seca, os criadores têm dificuldade para alimentar e prover água para o rebanho. Por isso, os animais ficam soltos para encontrar alimento”, explica Campos. “Então, há o encontro entre a onça e o rebanho. E, obviamente, o predador vai atacar os animais.”

Os pesquisadores notaram que a perda dos bichos fazia com que alguns criadores procurassem os felinos para abatê-los — muitas vezes com sucesso. A esperança deles era de que, sem onças por perto, o rebanho ficasse livre de infortúnios.

A caça ilegal e o abate frequente são trágicos para a preservação das duas espécies, pois a população não consegue se reproduzir no mesmo ritmo das mortes. Cada fêmea só procria a cada dois anos, e tem uma gestação de três meses — depois, ela ainda fica até um ano e meio cuidando do filhote.

Para tentar diminuir esses conflitos, o Programa Amigos da Onça procurou os moradores para explicar a importância da conservação das espécies — parte deles já se engajou na proteção aos felinos. Nos últimos anos, a ONG construiu 18 currais para agricultores de duas comunidades da região.

“A ideia é diminuir o tempo em que os rebanhos ficam expostos na Caatinga, principalmente à noite, quando as onças normalmente saem para caçar”, explica a bióloga Carolina Franco Esteves.

Um estudo da ONG apontou que as estruturas construídas conseguiram reduzir em até 23% o número de perdas de animais de rebanhos — o que acaba tirando os felinos do foco dos agricultores.

Por outro lado, a pobreza e a falta de serviços públicos na região do Boqueirão da Onça, como ocorre em praticamente toda a Caatinga, tornou-se um empecilho para a conservação do bioma.

“Percebemos que, muitas vezes, a revolta dos moradores não era necessariamente contra o bicho, mas contra a condição de vida precária e com pouca assistência do Estado. A onça acaba virando uma espécie de bode-expiatório para outras mazelas”, explica Claudia Martins, agrônoma do Instituto Pró-Carnívoros e pesquisadora da Universidade Federal do Vale do São Francisco.

“É um grande desafio você chegar em um lugar bastante carente e falar: ‘pessoal, vamos pensar na onça’. As pessoas estão mais preocupadas com as necessidades básicas: se vão ter o que comer, se vão conseguir passar no médico, se terá escola para o filho. Esse diálogo é difícil, mas aos poucos temos conseguido o apoio de muitos moradores”, diz Martins.

‘Exercício de paciência’

Estudar o comportamento das onças e como elas são afetadas por esses problemas também não é tarefa fácil. A captura de um animal para monitoramento, por exemplo, exige uma equipe formada por biólogos, veterinários e mateiros. Eles chegam a ficar 30 dias acampados na Caatinga.

“O Boqueirão é uma área muito grande com poucos indivíduos de onça. Em média, uma campanha de 30 dias consegue capturar apenas um animal, usando armadilhas”, diz Claudia B. Campos.

Segundo ela, um acampamento desses chega a custar R$ 60 mil em estrutura e pegamento de pessoal. “É um exercício de paciência, e nem sempre dá certo. É preciso conhecer bem a região e ter um pouco de sorte, também”, afirma a bióloga.

Fonte: G1

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