outubro, 2019
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Sustentabilidade: A vontade de fazer diferença
A inquietação de Maria Pennachin com a falta de cuidados com o meio ambiente e a vontade de fazer a diferença, vêm da infância, por influência do avô
O vídeo de biólogos retirando um canudo plástico da narina de uma tartaruga marinha na Costa Rica (de 2015) foi o que motivou a adolescente Maria Pennachin, de 17 anos, a pesquisar e desenvolver uma versão biodegradável e comestível à base de inhame.
“Eu vi e pensei que precisava fazer algo. Como em geral são as crianças que mais utilizam, concentrei em desenvolver algo comestível. Mas na verdade a minha ideia foi chamar a atenção delas e dar a oportunidade de conscientização. Mais do que só um canudo, considero é um símbolo, um presta atenção para assuntos que não podem mais passar batido, como jogar o chiclete no chão”.
A inquietação de Maria com a falta de cuidados com o meio ambiente e a vontade de fazer a diferença, nem que seja apenas debatendo o tema, vêm da infância, por influência do avô, Sebastião Terossi: “ele sempre gostou do tema e sonhava cursar física, mas como era integral e ele precisava trabalhar, acabou fazendo o curso de direito. Foi ele quem escolheu meu nome, porque dizia que Maria era nome de cientista, ou de médica. Meu avô morreu no ano que entrei no Culto à Ciência. Eu quis estudar lá, por causa dele e a escola fez toda a diferença para mim, principalmente pelos professores”.
“A Maria está lá”
A jovem conta que, quando convidada para festas dos colegas de classe, costuma ser apontada como o motivo pelo qual todos devem levar seus próprios canudos. “Eles dizem, não esqueçam que a Maria estará lá”, brinca ela. “Nós conseguimos tirar os canudos da cantina da escolha e trazer o tema para discussão, tudo isso é muito importante”, conta.
Graças ao biocanudo, Maria tem tido um ano de agenda cheia. Seu projeto – ainda em fase de protótipo e aguardando patente – tornou-se famoso não apenas nas feiras de ciência do Brasil, mas também no Exterior.
Em julho deste ano, ela foi uma das duas estudantes brasileiras premiadas com bolsa para o National Youth Science Camp, nos Estados Unidos. Trata-se de um acampamento científico que reúne os dois melhores estudantes do último ano do Ensino Médio de cada estado norte-americano, além de 16 estrangeiros, para estudos e palestras com o objetivo de fomentar o gosto pela ciência.
Feira internacional
Em setembro, ela levou seu biocanudo para uma feira internacional em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. “Tem sido um ano muito bacana para mim. O acampamento nos Estados Unidos foi incrível. Não tínhamos acesso a internet e assistíamos até três palestras por dia, além de outros eventos, mas o conteúdo era tão bacana que não me sentia cansada. Ao contrário, estar ali era uma experiência única”, comenta a jovem.
O projeto do biocanudo foi desenvolvido de maio a agosto de 2018. Desde então, o desafio é tornar o protótipo uma realidade. “Se queremos o jovem como protagonista na construção de uma sociedade mais sustentável, precisamos criar mecanismos que estejam em consenso. Precisamos de estímulos”, avalia.
Alias, quando questionada sobre o papel do jovem na ciência e na construção de uma vida saudável para todos, Maria aponta a sueca Greta Thuberg, de 16 anos, como inspiração. “Eu já acompanhava o trabalho dela pelo Twitter antes de toda a repercussão em cima dela este ano. Acho que é preciso muita coragem para estar ali, por que além dos elogios vem as críticas. Eu não imagino como seja a pressão. Comigo tem, claro, pessoas que nem sempre concordam, mas sempre com respeito”.
Muitos projetos
Além do biocanudo e da defesa do desenvolvimento do plástico biodegradável, Maria tem outras bandeiras. “No final deste mês, estarei em um workshop na Unesp sobre ‘Mulheres cientistas e sustentabilidade’. Acho importante falarmos sobre representatividade das mulheres na ciência. Este ano, pela primeira vez, o acampamento dos Estados Unidos recebeu um número maior de alunas do que alunos.”
Ela também tem participado de palestras em outras escolas públicas de Campinas para debate sobre a importância da ciência e da sustentabilidade.
“Eu vejo que precisamos mudar algumas coisas na forma de ensinar. O meio ambiente é um tema que pode ser discutido em todas as matérias, porque estamos falando de conteúdos que são transdisciplinares, porém muitas escolas ainda focam em um método de ensino segregado, que não ensina a pensar. Então temos ótimos alunos conteudistas, porém com pouca capacidade de lidar com a imprevisibilidade que te faz sair da zona do conforto e aprender mais.”
Neste sentido, Maria tem se dedicado também a lutar pelo ensino do inglês nas escolas públicas. Segundo ela, não basta trazer a ciência sem que se traga o idioma pelo qual é falada em todo o mundo.
Palestras
Para dezembro, no Culto à Ciência, ela está organizando uma série de palestras sobre a relevância do idioma para jovens palestrantes. A ideia é dar fala a jovens que puderam sair do País e que eles contem como falar inglês pode ajudar. “O mundo compartilha ciência em inglês”, destaca.
A estudante, que pretende cursar engenharia química, tem ainda o objetivo de mostrar para as pessoas que é possível ser sustentável sem ser radical ou adotar um discurso utópico. “Por exemplo, não dá para abolir o plástico do Plástico, mas podemos pensar na reutilização, nos biodegradáveis e em novas tecnologias. Por outra lado, temos que descartar quando não necessário como nos copos e canudos.
Estímulo à ciência e pesquisa
Trabalhar a educação ambiental na escola pública, com foco na conscientização socioambiental, e a partir das descobertas da ciência, foi a estratégia encontrada pelas professoras Aloísia Moretto e Cláudia Caniati para contribuir com o meio ambiente e, claro, ganhar o apoio dos alunos da EE Culto a Ciência, onde lecionam.
Há dois anos, as professoras criaram uma disciplina eletiva onde orientam e monitoram inciativas dos alunos. A ideia é trabalhar temas atuais, relacionados a ciência e pesquisa, com a finalidade de envolver a comunidade e conscientizar os jovens do que podemos fazer, através de estudo, pelo meio ambiente. “A gente quer mostrar para eles que seguir na ciência é uma opção”, diz Claudia.
Além do projeto de Maria, recentemente um outro trabalho supervisionado por elas ganhou destaque. Após os alunos identificarem uma nascente de água localizada no subsolo do auditório da escola, o estudo concentrou-se na busca por alternativas por meio de ideias sustentáveis de armazenamento, preservação e uso racional da água em benefício da comunidade local. A iniciativa ganhou diversos prêmios no Brasil e no Chile. Outro exemplo é um projeto voltado para conscientizar o descarte correto de lixo.
Após identificarem que muitas pessoas ao redor da escola não utilizavam as lixeiras, os alunos apontaram como solução pintar os coletores. Porém, o projeto está parado, uma vez que a escola gostaria de possibilitar uma oficina de grafitagem para estudantes, para que eles mesmos fizessem a arte. “Nós procuramos voluntários que queiram ensinar a técnica”, conta Claudia.
Fonte: Correio Popular
No apoio ao Ibama, Petrobras já recolheu 370 toneladas de resíduos no Nordeste
A Petrobras já recolheu mais de 370 toneladas de resíduos desde o dia 12 de setembro, quando começou a apoiar o Ibama nos esforços para a limpeza das praias atingidas por óleo no Nordeste. A Petrobras permanece com diversas equipes em campo, além da disponibilização de equipamentos de segurança, embarcações e um helicóptero. A companhia reforça seu compromisso com a proteção do meio ambiente e reafirma que o óleo nas praias do Nordeste não tem origem nas suas operações. Sua atuação na limpeza das áreas atingidas é feita por solicitação e coordenação do Ibama, órgão responsável pela estratégia de contenção do óleo.
Fonte: TN Petróleo
Resíduos de óleo são utilizados para fazer cimento no PE e viram carvão na BA
Especialista alerta que a aplicação do carvão, no entanto, demanda mais estudos
As imagens de toneladas e toneladas de óleo retiradas das praias do Nordeste têm levantado uma questão: e depois, o que fazer com tudo isso? A resposta em Pernambuco foi levar o material à Central de Tratamento de Resíduos, a Ecoparque, empresa contratada em regime de urgência, cujo aterro é sediado em Igarassu. Para lá, foram destinadas mais de 1,3 mil toneladas de óleo e itens contaminados pela substância, como baldes, luvas e máscaras.
O material passa por uma triagem para reduzir a presença de areia e, em seguida, é triturado com tecidos, borrachas e outros itens que tiveram contato com produtos industriais. O resultado são pilhas de fragmentos diversos, em que o óleo se destaca pelo brilho.
Forma-se, então, o que se chama de blend energético, que é vendido para ao menos três empresas de produção de cimento, sendo utilizado como combustível de fornos junto com o coque – um subproduto destilado do petróleo. “O petróleo sólido é muito caro e exige grande logística, porque vem de navio. Assim como o coque, esse blend tem o poder calorífico alto”, explica Romero Dominoni, diretor geral da Ecoparque.
Na Bahia, os resíduos encontrados nas praias têm se transformado em carvão, com a ajuda de cientistas. Dentro de uma betoneira, são usados bioaceleradores desenvolvidos por um grupo de pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Esses componentes ajudam na degradação do óleo e o transformam em carvão. “Esses bioaceleradores, dois sólidos e três líquidos, não agridem o solo nem os vegetais”, disse a professora da UFBA Zenis Novais.
Segundo Zenis, o produto é bem menos agressivo do que o petróleo cru. O procedimento pode complementar ou substituir o que se pretende fazer com o petróleo: incinerar. “O processo de incineração produz enxofre, nitrogênio e libera gases que afetam o meio ambiente”, diz Zenis.
A aplicação do carvão, no entanto, demanda mais estudos. Segundo a professora, a depender da composição, o carvão pode ser misturado com terra e colocado nas plantas, como uma espécie de adubo. Outra opção é usá-lo como combustível na produção do cimento, como vem sendo feito em Pernambuco.
Fonte: Correio Braziliense
Engenheiros da USP criam plástico biodegradável feito de mandioca, transparente e resistente
Tecnologia desenvolvida em parceria por Poli e Esalq processa amido de mandioca usando gás ozônio e aumenta qualidade dos plásticos
Um novo tipo de plástico biodegradável, que tem como matéria-prima o amido de mandioca, foi produzido em parceria por duas unidades da USP: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, e Escola Politécnica (Poli). Os pesquisadores desenvolveram uma técnica que utiliza o gás ozônio para processar o amido e melhorar as propriedades do plástico. O resultado é um produto mais transparente e resistente, que poderá ser usado em diversos tipos de embalagens. O método já teve a patente requerida, visando a transferência de tecnologia para a indústria.
“A busca por alternativas renováveis para a produção de plásticos biodegradáveis é crescente, sendo foco do estudo de diversos grupos de universidades no mundo inteiro”, explica o professor Pedro Esteves Duarte Augusto, coordenador do Grupo de Estudos em Engenharia de Processos (Ge²P) da Esalq. “Uma das possíveis matérias-primas para a produção desses plásticos é o amido, ingrediente natural obtido de vegetais como milho, mandioca, batata, arroz, entre outros.”
Segundo o professor, a união dos grupos de pesquisa ocorreu porque a produção de plásticos a partir de amidos tem sido explorada há 15 anos pelo grupo da professora Carmen Cecilia Tadini, do Laboratório de Engenharia de Alimentos (LEA) da Poli e do Food Research Center (FoRC), um dos Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Por outro lado, no Ge²P estudamos, desde 2015, diferentes tecnologias para modificação de amidos e possíveis aplicações”. De acordo com o professor Duarte Augusto, embora o grupo já tenha desenvolvido trabalhos com as tecnologias de ultrassom e irradiação, os estudos com modificação de amidos com ozônio têm resultado em diversas aplicações, como a melhoria da expansão no forno e impressão 3D.
Assim o desenvolvimento do projeto em parceria com a Poli conseguiu unir uma demanda às experiências dos grupos envolvidos. E a pesquisadora boliviana Carla Ivonne La Fuente Arias, engenheira química e de alimentos, é o elo dessa união. Carla desenvolve seu pós-doutorado no Ge²P, em parceria com o LEA e com bolsa da Fapesp. “O professor Pedro fez parte da minha banca de qualificação no doutorado e a partir de então teve início essa aproximação que hoje se consolida no pós-doc”, conta.
Ozonização
Carla aponta que o aspecto inovador do seu projeto consiste na modificação do amido de mandioca a partir da ozonização para a produção de filmes. “Trata-se de uma tecnologia verde, amigável com o ambiente. Esse é o foco, modificá-lo com o ozônio de maneira a melhorar suas propriedades na forma nativa. Produzimos assim esse plástico biodegradável e, mesmo ainda na etapa inicial, já obtivemos um produto de boa qualidade. A próxima etapa, a ser executada na Poli, é a produção em escala semi-industrial”, explica. Assim, para a concretização do projeto, são realizadas na Esalq as etapas de ozonização, secagem e caracterização das amostras de amido. Na sequência, Carla leva o material até a Poli para preparar e caracterizar o plástico biodegradável.
Entre os benefícios do novo produto estão maior resistência, transparência e permeabilidade. “O processamento dos amidos com ozônio permitiu a obtenção de filmes plásticos mais resistentes e homogêneos, com diferente interação com a água e, em alguns casos, melhor transparência”, detalha Carla. “Essas são características de grande interesse industrial, demonstrando como a tecnologia de ozônio pode ser útil para a fabricação de plásticos biodegradáveis com propriedades melhores do que utilizando apenas o amido nativo”.
A engenheira lembra que o produto deverá ser utilizado no mercado de várias formas. “As aplicações são inúmeras, já que embalagens mais resistentes e transparentes são desejáveis em grande parte das aplicações”, destaca. Um pedido de patente já foi depositado, visando à transferência de tecnologia para a indústria.
Os resultados obtidos a partir desse estudo foram apresentados no artigo científico Ozonation of cassava starch to produce biodegradable films, publicado na revista International Journal of Biological Macromolecules. O trabalho teve ainda a participação das pesquisadoras Andressa de Souza, Bianca Maniglia e Nanci Castanha, sendo financiado pela Fapesp e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com bolsas da Fapesp, CNPq e Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Fonte: Jornal da USP
Canadá irá banir plásticos de uso único em 2021
Segundo o governo canadense, o país recicla apenas 10% do plástico; nova lei deverá ser introduzida em dois anos
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, afirmou nesta segunda-feira, 10, que os plásticos de um só uso serão banidos no país a partir de 2021.
A proibição desse tipo de plástico atingirá principalmente itens como garrafas e sacolas de supermercado. Trudeau ainda explicou que o Canadá não recicla nem 10% do plástico que produz.
“Em 2021, Canadá banirá plásticos de uso único de costa à costa”, Trudeau disse no anúncio à imprensa.
No anúncio, o governo canadense disse que se inspirou na legislação europeia votada em março deste ano. “Muitos países estão tomando tais medidas, e o Canadá será um deles”, disse Trudeau. “Esse é um grande passo, mas nós sabemos que iremos tomá-lo em 2021”, afirmou.
A legislação na Europa ainda não entrou em vigor. Por se tratar de uma lei feita pelo Parlamento Europeu, cada país membro deverá passá-la por seu legislativo para que ela entre em vigor. Essa legislação europeia não bane completamente o uso de utensílios feitos de plástico (como talheres e canudos) mas incentiva as empresas a usarem alternativas sustentáveis.
Segundo o governo, as taxas baixas de reciclagem acabam por contribuir com a deterioração da fauna no mundo. Cerca de 1 milhão de pássaros e 100 mil mamíferos marinhos são mortos ou feridos por ano devido ao plástico não reciclado.
Tudo o que vai, volta
Recentemente, as Filipinas e a Malásia devolveram toneladas de lixo importadas ilegalmente do Canadá.
O lixo devolvido pelo governo filipino foi enviado ao país ilegalmente entre 2013 e 2014. O governo filipino afirma que que ele foi “disfarçado” de plástico para reciclagem, mas era na verdade lixo eletrônico e doméstico. Duterte, presidente do país, chegou a dizer que entraria em “guerra” para devolver os contêineres.
Já a Malásia, devolveu cerca de 450 toneladas de dejetos para vários países, incluindo o Canadá. No dia do anúncio, a ministra malaia de Energia Ciência e Meio Ambiente disse que “A Malásia não será o lixão do mundo”.
O envio de lixo para outros países asiáticos se tornou prática após a China interromper essa operação repentinamente, alegando preocupações ambientais.
Fonte: Veja
Especialista francês estranha que o governo brasileiro não tenham conseguido identificar até agora a origem do derrame de óleo no Nordeste
Já faz 18 anos que a Europa não registra um derramamento de óleo de grandes proporções – a última vez foi em 2002, quando 63 mil toneladas do petroleiro Prestige se espalharam pela costa atlântica de França, Espanha e Portugal. Apenas três anos antes, outra catástrofe ambiental, com o navio Erika, havia motivado a criação de uma agência europeia especializada no tratamento de poluição marítima, que implementou uma série de medidas de segurança para minimizar o impacto ambiental de acidentes desse tipo.
O objetivo é evitar que tragédias como o naufrágio do Amoco Cadiz, em 1978, se repitam. Até hoje, o acidente é considerado um dos maiores desastres ecológicos da história – mais de 270 toneladas de hidrocarbonetos foram despejadas ao longo 1.300 quilômetros a partir da Bretanha em direção ao sul. No percurso, 30% da fauna e 5% da flora marítima foram destruídos.
Desde então, a sensibilidade dos europeus ao tema só aumentou. Na última semana, o petróleo que se espalha pelo litoral nordestino há mais de um mês ganhou destaque na imprensa. Especialistas como Stéphane Doll, ex-militar da Marinha francesa e diretor do Centro de Documentação, Experimentações e Pesquisas sobre as Poluições Acidentais nas Águas (Cedre), da França, têm dificuldades de compreender por que as autoridades brasileiras demoraram tanto a agir para conter o óleo, que já contaminou 2.000 quilômetros de extensão.
“Tenho a impressão de que as autoridades estão concentradas em descobrir quem é. Na França, a prioridade é combater a poluição e limpar o ambiente, paralelamente a tentar descobrir de onde vem. O foco é recuperar o meio ambiente”, afirma o hidrógrafo.
Petróleo acumula dejetos no caminho
Quase 200 toneladas de petróleo cru foram recolhidas das praias nordestinas até terça-feira 15. Diante de uma quantidade tão elevada, Doll vê com estranheza o fato de que, até agora, as autoridades brasileiras não tenham conseguido identificar a origem do derrame.
Aves, tartarugas e golfinhos já foram encontrados mortos na região, cobertos de óleo. O especialista francês explica que a rapidez da atuação no mar é a regra número 1 para preservar a fauna e a flora marítima e costeira.
“É o mais importante. Quando você tem um litro de hidrocarbonetos e o deixa na água, muito rapidamente esse um litro vai se inchar de água e dobrar de volume. Se você reage muito rápido, o volume a limpar será bem menor”, nota Doll. “Quando esse um litro chega à praia, ele já será 10 vezes maior, portanto 10 vezes mais dejetos, porque terá se misturado à fauna, à flora, a algas e a outros dejetos.”
Com 40 anos de experiência e uma equipe pluridisciplinar que inclui engenheiros, técnicos, militares e pesquisadores, o Cedre é respeitado internacionalmente pela prevenção de catástrofes ambientais marítimas. A associação, com atuação permanente, foi aberta na sequência do acidente com o Amoco Cadiz.
Medidas de prevenção e de emergência
Anos depois, a agência europeia para a questão, EMSA, padronizou os procedimentos no bloco, com foco na prevenção. Os navios passaram a navegar mais afastados da costa e as tripulações são melhor formadas para reagir rápido aos imprevistos.
“O mais frequente é que, em caso de grande poluição marítima, vários países sejam atingidos. As últimas vezes na Europa foram o Erika, na França, e o Prestige, que se iniciou na França, mas desceu até a Espanha e Portugal”, relembra o ex-militar. “Além disso, um dos principais eixos de reação foi formar equipes de despoluição, para evitar que, no momento de limpar a praia, não seja feito algo ainda pior do que a poluição inicial.”
Stéphane Doll alerta, por exemplo, que o uso de escavadeiras para recolher o petróleo solidificado na areia tende a causar danos ainda maiores à flora litorânea do que o próprio petróleo. O trabalho, adverte, deve ser todo feito à mão.
Fonte: Carta Capital
Fotógrafo chinês vence concurso anual do Museu de História Natural de Londres
Yongqing Bao registrou a imagem de uma marmota prestes a ser atacada por uma raposa nas Montanhas Qilian.
O Museu de História Natural de Londres anunciou na terça-feira (15) os vencedores do concurso de fotos de natureza ‘Wildlife Photographer of the Year 2019’. A premiação teve mais de 48 mil inscritos e 18 premiados em várias categorias.
O principal premiado foi o chinês Yongqing Bao, que registrou uma raposa tibetana durante o ataque a uma marmota do Himalaia na reserva natural das Montanhas Qilian, na China.
Ao descrever a foto, nomeada de “O Momento”, o Museu lembra que a marmota foi surpreendida pela mãe raposa que tinha três filhotes para alimentar. As marmotas passam mais de seis meses hibernando em tocas e ressurgem na primavera, quando correm o risco de se depararem com os predadores.
Yongqing Bao é diretor e fotógrafo chefe da associação chinesa “Qilian Mountain Nature Conservation Association of China”. Também é membro da “Qinghai Photographers Association” e vice-secretário-geral da associação de fotógrafos da vida selvagem de Qinghai.
Outro contemplado com o prêmio principal, só que entre os jovens fotógrafos, foi Cruz Erdmann, que registrou na Indonésia a foto batizada de “Brilho Noturno”. Durante um mergulho noturno, ele flagrou as cores de uma lula de recife.
Fonte: G1
O papel da agricultura vertical na busca por práticas sustentáveis
O mercado da agricultura vertical cresce, atrai investidores e deve atingir quase US$ 10 bilhões em 2025. Graças à transformação digital, as fazendas urbanas são peça importante na busca pela sustentabilidade do campo
Cenário é dos piores.
Por volta de 2050, oito em cada dez habitantes do planeta Terra viverão em cidades.
Até lá, indica a ONU, a população mundial deve aumentar em cerca de 3 bilhões de pessoas, chegando ao redor dos 10 bilhões.
Para alimentar toda essa gente, mantidas as práticas agrícolas atuais, será necessário 1 bilhão de hectares de terra nova, o equivalente a 20% do território brasileiro.
Hoje em dia, 80% do solo adequado à agricultura está comprometido. Detalhe: 15% dele está estragado, devastado pelo uso inadequado.
Tão claro quanto óbvio — do jeito que está, impossível continuar. Em pouco tempo não haverá terra arável para alimentar todo mundo. “E o que pode ser feito para impedir esse desastre?”, provoca Dickson Despommier, 79 anos, professor emérito de microbiologia e saúde pública da Universidade Columbia, nos Estados Unidos.
Há esperança. E ela está… nas cidades. Sim, o futuro da alimentação também está sendo cultivado dentro de edifícios, contêineres e galpões mundo afora. Em tempos de escassez de terreno fértil e limitações climáticas, parte da solução para o esgotamento do campo, a fome e a busca por um mundo mais sustentável passa necessariamente pelas fazendas urbanas; em especial as verticais — cujo conceito foi desenvolvido, no final dos anos 90, por Dickson. “O plantio vertical pode ser alocado em qualquer lugar do mundo e permite o cultivo das plantas comestíveis mais consumidas, essenciais para uma dieta equilibrada”, defendeu o professor de Columbia, em conversa com Época NEGÓCIOS.
Graças ao aperfeiçoamento de ferramentas como sensores de internet das coisas, ciência de dados, inteligência artificial e big data, o cultivo vertical permite ganhos ao longo de toda a cadeia produtiva — do momento da plantação das sementes à chegada do alimento no prato do consumidor. Até 2025, o setor de agricultura vertical, apenas ele, deve movimentar US$ 9,6 bilhões, crescendo a uma taxa composta anual (CAGR) de 21,3%, segundo relatório de abril de 2019, da empresa de consultoria americana Grand View Research. As novas tecnologias estão na base desse movimento. Os olhos dos investidores brilham.
Em julho do ano passado, no maior aporte já feito até então para uma agtech, o grupo japonês SoftBank investiu US$ 200 milhões na Plenty. Fundada em 2014 em São Francisco por Matt Barnard (atual CEO), Nate Storey, Jack Oslan e Nate Mazonson, a startup cultiva hortaliças e frutas em torres de seis metros de altura. É belíssimo — as plantas se projetando para fora, formando paredes enormes de mostarda, kale, alface, tomate… Na fazenda Tigris, as verduras e frutas crescem em um substrato produzido a partir de garrafas plásticas recicladas. Por enquanto, a produção está restrita à baía de São Francisco, mas a empresa pretende construir uma fazenda com cerca de 9,3 mil metros quadrados, na cidade de Kent, próxima a Seattle, no estado de Washington. Os planos de expansão também incluem China e Japão.
Mais um exemplo da efervescência do setor? Em dezembro de 2018, menos de dois anos depois de seu lançamento, a agtech Bowery, de Nova York, levantou US$ 95 milhões em uma rodada de investimentos liderada pelo Google Ventures. Alguns meses antes, Irving Fain, CEO e cofundador da startup, convidou Brian Donato para deixar o cargo de diretor de operações da Amazon e assumir o posto de vice-presidente sênior de operações da fazenda nova-iorquina. O executivo aceitou.
O entusiasmo em torno da agricultura vertical é compreensível. As fazendas indoor se provaram até agora mais rentáveis do que as horizontais, em campo aberto. A começar por economia de espaço e ganho de produtividade. Em 2017, três jovens engenheiros fundaram a Pink Farms, na capital paulista. A primeira e maior fazenda urbana vertical da América Latina está instalada em um galpão ao lado da agitadíssima Marginal Tietê. A produção comercial começou em junho passado e, por enquanto, as plantações estão alojadas em uma torre de oito andares, cuja base mede 18,5 metros quadrados. “No campo, isso equivaleria a 1.850 metros quadrados”, diz Geraldo Maia, 28 anos, sócio-fundador da Pink Farms. “Por metro quadrado de chão, nós somos cem vezes mais produtivos.” Na agricultura vertical, o fazendeiro tem domínio total sobre o ambiente. Luz, temperatura, umidade, irrigação… Toucas, máscaras, luvas e protetores de sapato… Entrar na área de cultivo da fazenda paulistana requer uma assepsia tão (ou mais) rigorosa quanto
a exigida nas UTIs dos melhores hospitais.
Como as plantações estão protegidas das intempéries e do ataque de pragas, os alimentos cultivados indoor dispensam o uso de agrotóxicos. Orgânicos, suspiram os consumidores modernos, mais bem informados e engajados. Nas fazendas urbanas, os negócios não se guiam mais pelo ritmo das estações. Lâmpadas LED fazem as vezes de sol. O agricultor 4.0 consegue ajustar o comprimento de onda mais adequado a cada espécie. Dia e noite. Claro e escuro. Rosa e azul… É a fotossíntese hightech na produção de alimentos, com uma concentração maior de vitaminas e minerais em comparação aos produtos cultivados ao ar livre. Como costuma dizer Nick Kalayjian, vice-presidente sênior de engenharia da Plenty, “damos às plantas o ambiente perfeito para que elas sejam as melhores e mais desejáveis versões de si mesmas”. O prato ganha alimentos mais saborosos e nutritivos.
Na província de Miyagi, no leste do Japão, os pés de alface crescem em um ritmo até 40 vezes maior do que nos campos tradicionais. Graças a uma parceria com o biólogo Shigeharu Shimamura, as 17,5 mil lâmpadas LED usadas na plantação foram fabricadas pela GE com ondas no comprimento exato para agilizar o crescimento das plantas. A plantação hightech de Miyagi foi erguida em uma fábrica de semicondutores da Sony, abandonada depois do tsunami de 2011. Em 2.322 metros quadrados são produzidas 10 mil cabeças de alface, todos os dias.
É curioso imaginar uma lavoura sem terra, mas, ao se visitar uma fazenda vertical, volta-se de lá com os sapatos e a barra das calças tão limpos quanto no momento da chegada — quiçá até mais higienizados. Na agricultura vertical, o cultivo é feito por hidroponia. Por essa técnica, a nutrição das plantas vem de uma mistura de água e sais essenciais. De novo, as novas tecnologias conseguem determinar com precisão as quantidades necessárias de cada um desses ingredientes. Um coquetel específico para a alface, outro para o agrião, um terceiro para a rúcula… “Com isso, há uma economia de 50% no uso de fertilizantes”, diz Geraldo, da Pink Farms. No campo, esses compostos são despejados no solo. Cabe à raiz da planta captá-los. Para que cumpram seu papel a contento, é necessária uma quantidade bem maior do que se fossem despejados diretamente na raiz. Pelo mesmo motivo, como dispensam o uso da terra, nas fazendas verticais, o gasto de água representa apenas de 5% a 1% do consumo nas plantações convencionais.
Como estão nas cidades, as fazendas verticais ficam mais próximas dos consumidores e os custos com logística e transporte diminuem — e a emissão de poluentes também. Mas não só isso. Ao queimar etapas, a taxa de desperdício dos produtos reduz sobremaneira. Segundo Geraldo, da Pink Farms, no modelo tradicional de agricultura, 40% da produção de folhosas estraga no caminho entre o campo e os pontos de distribuição e venda, sobretudo por mau acondicionamento e/ou falta de embalagem adequada. Com os alimentos vindos das fazendas verticais, o consumidor ganha ao levar para casa alimentos frescos — independentemente do lugar e da época do ano.
Graças à parceria com a agtech americana AeroFarms, aos passageiros da primeira classe e da classe executiva da Singapore Airlines que decolam do Aeroporto International Newark Libert, em Nova York, são oferecidas verduras fresquinhas, pouco tempo depois de colhidas. A fazenda está muito perto dali. A AeroFarms foi eleita a agtech mais inovadora de 2019 pela revista Fast Company, na categoria “data science”.
Na configuração do agronegócio 4.0, as fazendas verticais têm um papel importante, mas estão longe de ser a panaceia para todos os males do campo. Com a tecnologia disponível hoje em dia, por exemplo, as culturas estão restritas às hortaliças e alguns legumes e frutas.
Teoricamente, tudo o que cresce na terra poderia ser cultivado em uma fazenda vertical. Mas do ponto de vista financeiro, atualmente, não vale a pena erguer uma plantação de mangas em ambiente fechado. Ou de grãos. “As tecnologias para plantar alimento indoor acabaram de ser inventadas”, diz o professor Dickson, de Columbia. Segundo os entusiastas do modelo de cultivo vertical, é só uma questão de tempo. Pode ser. Cinco anos atrás, dizem os especialistas, as fazendas verticais do modo como as conhecemos hoje seriam impensáveis.
Em comparação às fazendas em campo aberto, a produtividade das verticais, metro quadrado por metro quadrado de chão, é indubitavelmente maior, mas ainda assim elas demandam espaço. Segundo o professor Dickson, para alimentar 50 mil pessoas, a fazenda deveria ter uma altura equivalente a 30 andares e uma base do tamanho de meio quarteirão. Para a cidade de São Paulo, seriam necessários 244 edifícios. Para Manhattan, 33. E Pequim, 430.
Por enquanto, para o consumidor, os produtos vindos das fazendas indoor são de 10% a 15% mais caros do que seus equivalentes cultivados em campo aberto. Em relação aos orgânicos, porém, tendem a ser de 15% a 20% mais baratos. “O custo pode ser um limite hoje”, concorda Dickson. “Mas, em breve, chegará a hora em que eles serão subsidiados pelos governos, de modo a garantir alimentos saudáveis e sustentáveis para todos os cidadãos, em todos os países.” Há esperança.
Vegetais que vêm do frio
A mil quilômetros do Polo Norte, no arquipélago Svalbard, na Noruega, grande parte dos alimentos chega de navio ou avião. Preocupado com a emissão de CO2 e o uso excessivo de plástico, o americano Benjamin Vidmar fundou a Polar Permaculture, uma fazenda sustentável no gelo. No verão, quando há luz 24 horas por dia, Benjamin produz verduras e legumes. No inverno, quando as temperaturas podem chegar a -30ºC durante os quatro meses de escuridão, ele cultiva microgreens, vegetais em estado jovem, com alto teor de nutrientes e sabor intenso. As sobras viram adubo para o minhocário.
O túnel que virou fazenda
Construído na década de 70 e abandonado em 2002, um túnel no condado de Okcheon, a cerca de 200 quilômetros ao norte de Seul, na Coreia do Sul, abriga a NextOn. Em uma área de 2,3 mil metros quadrados, sob o comando de Choi Jae-bin, a fazenda produz verduras e legumes. Apenas 16% da área total do país é usada pela agricultura e, nas últimas quatro décadas, a população rural foi reduzida à metade — enquanto o crescimento populacional chegou a 40%. No ano passado, o governo sul-coreano lançou um programa de investimentos em agricultura vertical.
Fonte: Época Negócios
Estudo sobre origem do universo dá Nobel de Física a 3 cientistas
Prêmio será dividido entre dois suíços que fizeram o achado e canadense-americano que realizou trabalho na área da cosmologia física
Os estudos no campo do Cosmos de James Peebles, por um lado, e de Michel Mayor e Didier Queloz, por outro, foram premiados hoje (8), em Estocolmo, com o do Nobel da Física. Eles dividirão o prêmio equivalente a R$ 3,72 milhões.
Peebles é canadense e os outros dois cientistas nasceram na Suíça.
Phillip James Edwin Peebles é um físico de 84 anos. Nascido no Canadá, tem também nacionalidade norte-americana.
Michel Mayor é um astrônomo suíço de 77 anos. Em 1995, descobriu o primeiro planeta extra-solar, o 51 Pegasi.
Didier Queloz, que descobriu com Michel Mayor o Pegasi, tem 53 anos. Os astrônomos usaram o método de velocidade radial no Observatório de Genebra.
Foi essa descoberta que deu aos três o Nobel de Física.
O Prêmio Nobel da Física 2019 foi atribuído aos três cientistas por novas teorias em cosmologia e pela descoberta do planeta extra-sistema solar na órbita de uma estrela como o Sol.
Na primeira manifestação após o anúncio da premiação, os dois cientistas suíços declararam que “este prêmio é simplesmente extraordinário”.
Num comunicado da Universidade de Genebra, Michel Mayor e Didier Queloz relembram a “excitação” de 1995, quando descobriram o planeta fora do nosso sistema solar.
“Essa descoberta é a mais excitante de toda a nossa carreira e agora sendo ela recompensada com um Prêmio Nobel é simplesmente extraordinário”, afirmam os cientistas suíços.
Nobel de Medicina
O Prêmio Nobel de Medicina de 2019 foi concedido aos cientistas William G. Kaelin Jr., Sir Peter J. Ratcliffe e Gregg L. Semenza “pelas suas descobertas de como as células sentem e se adaptam à disponibilidade de oxigênio”. O anúncio foi feito ontem (7) em Estocolmo, na Suécia.
Na página oficial do Twitter, a organização do Nobel anuncia os três vencedores com um trabalho que “revela os mecanismos moleculares que demonstram como as células se adaptam às variações no fornecimento de oxigênio”.
Os vencedores são dois norte-americanos e um inglês. William Kaelin, nascido em 1957, em Nova Iorque, é especialista em medicina interna e oncologia. Gregg Semenza, também nascido em Nova Iorque, em 1955, é pediatra e o britânico Peter Ratcliffe, nascido em Lacashirem, em 1954, é perito em nefrologia.
Fonte: Agência Brasil
Amazônia paraense: sustentabilidade é o mantra de resistência dos povos da floresta
Em tempos de descaso com a natureza, ribeirinhos da Ilha do Combu – produtores de cacau e do açaí – dão aula de como preservar e cuidar do meio ambiente.
Saindo do porto fluvial de Belém, a lancha rápida atravessa, em 15 minutos, as águas turvas, com correnteza forte, do Rio Guamá até chegar à Ilha do Combu. Durante o Círio de Nazaré, essa ilha conhecida como Veneza Tropical, é um dos destinos mais procurados pelos turistas que buscam o contato com a natureza e os poderes invisíveis da selva amazônica.
Neste recanto natural vivem ribeirinhos e empreendedores, que extraem dos rios e das matas os alimentos nativos que ressaltam os sabores da rica culinária paraense. É o caso de Izete Costa, Dona Nena, que desde 2006 comanda uma produção de chocolate e cacau amazônico 100% orgânico.
A história dela é consonante com a de tantas outras mulheres brasileiras. Verdadeiras guerreiras, que assumiram a responsabilidade de sustentar a família em regiões longínquas do Brasil continental. Dona Nena promove na Ilha do Combu um importante resgate da cultura e das tradições ribeirinhas. Uma voz que se destaca nos igarapés e nas matas na busca incessante de uma vida melhor para sua família e toda a comunidade sem agredir o meio ambiente.
O trabalho de formiguinha de Dona Nena – Filha do Combu, na verdade começou há tempos. Ela e família produziam o chocolate bruto e orgânico e vendiam o precioso produto paraense para as fábricas em todo o mundo. Só em 2006, a empreendedora passou a vender, por conta própria, seus chocolates de sabor intenso com textura mais arenosa na casa dela.
Tempos depois, a carreira da chocolatier paraense ganhou status internacional com a parceria firmada com o chef Thiago Castanho, do badalado Restaurante Remanso do Bosque, em Belém. Hoje, com a alta demanda por seus produtos, a produção de dona Nena e sua equipe gira em torno 80kg por mês entre barras 100% cacau, pó de cacau, nibs (sementes de cacau fermentadas, secas, torradas e trituradas), brigadeiro em pote e outros produtos que são vendidos na lojinha no Combu e em alguns lugares em Belém.
Reagindo à samaúma
Após uma degustação dos produtos de Dona Nena, onde experimentamos o chocolate em pó, o bolo de tapioca e a geleia de cupuaçu nos aventuramos a conhecer a mata e a plantação de cacau nos fundos da casa-recanto. Andando poucos metros, nos deparamos com a gigantesca samaúma – a árvore símbolo representante da Amazônia. Com mais de 30 metros de altura, com aproximadamente 250 anos, a suntuosa guardiã gera contentamento naqueles que tocam seu tronco. Sua base é tão grande que seriam necessárias 25 pessoas para poder abraçá-la por completo.
Entre os convidados para viver a experiência da selva estava a youtuber Nienke Helthuis – a carismática jovem holandesa apaixonada pelo Brasil e por nossa cultura. Caminhando por entre a mata, debaixo de um calor de 34oC, a jovem, junto com seus empresários, é levada por guias locais até a majestosa samaúma. Ela se aproxima, toca no tronco da árvore da Amazônia e, em transe, cria-se uma conexão com os guardiães da floresta.
Em seu perfil nicenienke no canal de vídeos, ela se identifica da seguinte forma: “Em 2017, minha vida mudou completamente. Um dos vídeos do meu canal de YouTube ‘tentando falar português’ se tornou um viral! Muitas pessoas conheceram meu canal e em pouco tempo me fizeram uma das maiores influências digitais na Holanda e no Brasil!”. Atualmente, estão no topo de visualizações seus vídeos Reagindo à vai malandra e Meu primeiro vídeo inteiro em português. Ela agradece a popularidade e acrescenta: “Eu tive vídeos com uma música brasileira, experimentando novas comidas, e tendo alguns prazeres. Os fãs brasileiros são tudo isso, eles fazem tudo isso ser possível!”.
Sintonia verde
Na porta de entrada do grande canal da Ilha do Combu, uma construção sobre palafitas “flutua” sobre as águas do Rio Guamá. No local, se encontra o Restaurante Saldosa Maloca (escrito com L mesmo), estrategicamente voltado para a Baía do Guajará, de onde se avista a cidade de Belém.
Para quem chega desavisado, ele não é um simples boteco suspenso que serve boa comida com temperos da Amazônia. É muito mais! Trata-se de um recanto de sustentabilidade sob o comando da chef paraense Prazeres Quaresma dos Santos, carinhosamente conhecida como Dona Neneca.
Igualmente reconhecida como símbolo da mulher forte do Norte, Prazeres assumiu, há 35 anos, um pequeno bar herdado do pai e tio e transformou o local em um dos destinos mais procurados por turistas do Brasil e do exterior. Segundo Prazeres, o nome adveio do fanatismo pelas músicas de Adoniran Barbosa e Nelson Gonçalves, ídolos dos fundadores da casa. “Meu pai e meus tios eram fãs desses cantores. Até que um dia, um dos meus tios disse: ‘Ah, por que a gente não coloca Saldosa Maloca? A casa é rústica, indígena e ficaria um nome bem legal’. Então, desde então, ficou conhecida assim”, disse.
Desde cedo, a preocupação da empreendedora ribeirinha, filha de caboclos, foi com a natureza ao redor. Numa placa cuidadosamente exposta no restaurante resume o sentimento de preservação com o meio ambiente. Como um mantra ou cântico xamânico as palavras soltam os olhos: reuse, recrie, repense, reveja e reviva.
Há muito tempo que todo o lixo do restaurante passou a ser reciclado. Hoje, as sobras de comida são depositadas em quatro usinas de biogás, onde a compostagem servirá como adubo para os canteiros de ervas, verduras e frutas e, o mais interessante, dali se extrai o gás usado no preparo dos alimentos.
Para Dona Neneca, os brasileiros precisavam vir à Região Norte e conhecer como vivem os povos da floresta. Entender a conexão dos ribeirinhos com as águas da Região Amazônica. “Dependemos dos nossos peixes e crustáceos para poder sobreviver. Cultivamos o açaí, o cupuaçu, o cacau e o bacuri da mesma forma artesanal que nossos antepassados. Tudo orgânico e natural. Sem a presença de agrotóxicos. No nosso solo sagrado sinto uma tristeza da samaúma – a gigantesca árvore de 40 metros e mais de 400 anos, que é a representante dos povos da Amazônia. Sinto que ela quer nos dizer algo: que nós precisamos parar de maltratar os rios, as árvores, as matas agora.”
Berçário sagrado de aves
Há quem diga que as garças estão de volta a Belém. A resposta é simples: elas reapareceram com a criação do Parque Naturalístico Mangal das Garças pelo governo do Pará, em 2005. Belém já era uma metrópole emoldurada pela floresta, mas algumas regiões estavam em completo abandono. O local logo se tornou um dos pontos turísticos mais elogiados da capital paraense.
Nesse parque, que em algum momento nos faz lembrar o Museu de Inhotim, em Brumadinho, foi feita a revitalização de uma área de cerca de 40 mil metros quadrados às margens do Rio Guamá, nas franjas do Centro Histórico de Belém. O que antes era uma área alagada com extenso aningal transformou-se em um belo recanto na cidade. Ao entrar no berçário de tantas aves da Região Amazônica, o turista se depara com a rica diversidade da fauna e flora do Pará: sobre a torre espetacular no centro do parque ou caminhando no trapiche elevado que nos leva até o Rio Guaíba, avistam-se matas de terra firme e de várzea. Neste local, em total sintonia com a natureza, contemplam-se lagos artificiais, iguanas, flamingos festivos, garças graciosas, além de aves nativas e borboletas multicoloridas.
Fonte: Estado de Minas